Do estagiário ao CEO: TI estratégica deve unir toda a empresa

Banco Pine e União Química levaram suas áreas de TI para a linha de frente das corporações; Mas jornada da transformação exige mudança de pensamento e agilidade

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6:26 am - 18 de agosto de 2018

Grandes companhias hoje são atravessadas pela tecnologia da informação. De um sistema de gestão a um aplicativo para o usuário na ponta final, a TI deixou a área operacional e de suporte para assumir a linha de frente há alguns anos. Afinal, projetos de tecnologia podem desde ajudar na redução de custos, agilizar processos e até mesmo reinventar toda uma companhia. Mas apesar do reconhecimento crescente da importância da transformação digital, convencer todas as áreas de que a TI deve fazer parte da estratégia das empresas pode exigir mais do que mostrar alguns relatórios e projeções alarmistas para o conselho de diretores e funcionários.

De verticais distintas, o Banco Pine e a União Química colocaram a TI no centro dos seus negócios. De um lado, o Pine deu início a um processo de digitalização há cerca de dois anos quando passou a reestruturar a empresa e do outro a União Química deu sequência a um roadmap de expansão incorporando tecnologias da chamada indústria 4.0.

“Os bancos precisam estar onde o cliente está. Um terço das operações bancárias hoje em dia já é feita em dispositivos móveis”, reforçou Eugenio Fabbri Neto, diretor de TI e Tecnologia do Banco Pine, durante participação no IT Forum+, encontro promovido pela IT Mídia e realizado nesta semana na Praia do Forte, Bahia.

Se o comportamento digital dos usuários acelera o sentimento da urgência dos bancos, ainda mais diante da disrupção gerada pelas fintechs, instituições financeiras tradicionais precisam ser ágeis. Segundo Fabbri, ao adotar a metodologia agile, o diferencial foi horizontalizar todas as equipes, integrando-as em um só propósito. “Desde o estagiário até o presidente, todos estão alinhados com o mesmo conceito”, disse o executivo.

Fabbri contou que o Banco Pine mudou desde a arquitetura do seu escritório à cultura organizacional. No final do dia, ele reforça, mudanças são sobre pessoas. Se os funcionários e equipes não estiverem a favor dessa transformação, empresas têm muito a perder. Nessa reestruturação, novos talentos precisaram ser contratados e alinhados, segundo Fabbri, com o pensamento integrado, ágil. “A transformação [digital] está muito no jeito de pensar. Em pensar como é que você vai atingir isso diante do mercado”, assinalou.

Se a TI deixou a penumbra dos negócios para assumir a direção, muito do trabalho dos CIOs hoje também exige um tato mais apurado com a gestão de talentos que, para Fabbri, vai além daqueles que estão nas equipes de tecnologia. “Levei muita gente da área de negócios para vivenciar a tecnologia, desde visitar o nosso data center em Hortolândia a entender sobre big data, machine learning, não só para entender do que se está falando, mas também para participar da própria implementação e conceituação. Também levei muita gente da área de tecnologia para área de negócios. Eles vivem a operação do dia a dia.”, exemplificou Fabbri.

Um trabalho de convencimento

A União Química, um dos maiores laboratórios farmacêuticos do País, tem-se tornado um exemplo de manufatura avançada no Brasil e se prepara para fazer o mesmo nos Estados Unidos. Em julho, a companhia anunciou a compra de uma fábrica de biotecnologia da Elanco, divisão de saúde animal da americana Eli Lilly, nos EUA. O negócio deve ser concluído em outubro deste ano e marcar o primeiro passo de internacionalização das suas operações fabris.

No Brasil, são seis parques fabris. Dada a sua capilarização, a internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) e seus sensores, têm ajudado a empresa a automatizar e digitalizar processos, além de conseguir parâmetros mais precisos no controle da qualidade de medicamentos e fórmulas. Mas por mais que as empresas estejam avançadas em seus projetos de digitalização, essa jornada também exige um trabalho de convencimento constante, lembrou José Luiz Junqueira Simões, vice-presidente-executivo de Operações e Tecnologia, da União Química, também palestrante no IT Forum+.

Simoes Uniao ITFORUM

“É um trabalho que sai muito caro. Mas o benefício é grande. Como CIOs, temos que quantificar isso para mostrar porque é uma estratégia de empresa e não só da TI”, disse Simões. Assim como Fabbri, do Banco Pine, o executivo defende que as áreas da companhia precisam se conversar, um hábito que pode soar banal à primeira vista, mas gera o conforto necessário para aceitar mudanças e gerar propostas.

Ao final, pensa Simões, a transformação digital pode ser uma oportunidade generosa para as pessoas aprenderem e se relacionarem. “É preciso estreitar relacionamentos. A interação com a área de negócios surge no dia a dia”, contou o executivo que entrou na União Química para atender a área de tecnologia e depois assumiu a área industrial. “A tecnologia é uma área de alavancagem”, resumiu.

Tempo de despertar

Fabbri, a exemplo da reestruturação do Banco Pine, vê que as novas gerações já demandam processos de trabalho mais ágeis e integrados. “Muitos queriam trabalhar nesse modelo. Havia uma demanda reprimida”, contou. O Banco também tem estreitado relações com fintechs em um trabalho que busca a sinergia entre as soluções das startups e as necessidades do banco. O executivo chamou atenção para a necessidade de funcionários e a alta direção das companhias renovarem seus conceitos. “Não tem espaço para demorar muito”, alertou.

Simões concorda. É preciso despertar, resumiu ele. “Quando a gente fala que a TI está permeando as áreas de negócio, se o CIO não parar e começar a se reposicionar, a máxima de que o CIO está morrendo, vai acontecer. Você precisa de velocidade. Na União, todo mundo é da área de negócios. Não tem a área de negócios e TI. Tudo é negócio”, concluiu Simões.

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