América Latina poderá desafiar o Vale do Silício?
Especialistas discutem prós e contras de empreender em tecnologia na região
A América Latina poderia desafiar o Vale do Silício? A provocação, feita em um painel no último dia do Web Summit Rio, começou com uma indagação sobre essa ser uma comparação justa. Para Brian Requarth, cofundador da Latitud, essa comparação precisa deixar de existir e dar palco para a resolução de soluções reais que resolvam problemas localmente.
“Eu acredito que tenhamos passado por algumas diferentes fases. Passamos pela fase de empresas de tecnologia não existentes, depois uma fase de ‘imitação’ e, agora, vemos uma nova fase de companhias construindo localmente resoluções para desafios locais e isso é muito importante. Eu acho que não há problema em obter um pouco de inspiração, mas só você sabe ser você”, reflete o executivo.
Entre os problemas da América Latina, conduz Rodrigo Maroja, cofundador e COO da Daki, está o gap de talentos. Ainda que estejamos construindo empresas e recebendo investimentos, o especialista acredita que ainda não é tantos empreendedores qualificados no Brasil. “O salgo é grande e é um desafio que precisamos superar. O segundo é o acesso ao capital. Nos últimos cinco anos, fechamos muito a lacuna entre séries, rodadas seed e rodadas série A. Mas quando começamos a focar na Série B, C e D, ainda existem poucos capitais de risco que oferecem essa solução aos empreendedores.”
E, finalmente, a terceira parte é sobre o objetivo geral. As leis que o governo está financiando e o ambiente legal não estão tão bem estabelecidas quanto em outros países. É um desafio, mas também acho que esses são os pontos e oportunidades para nós.
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Por outro lado, o mercado de fintechs teve um grande vento favorável em mudanças regulatórias. Ludmila Pontremolez, cofundadora e CTO da Zippi, diz que agora há licenças bancárias mais flexíveis o que torna muito mais fácil começar uma fintech. Não é mais necessário esperar um ano inteiro para iniciar uma operação de fintech no país.
“As coisas mudaram muito falando de capital. Quando cheguei ao Brasil, lembro-me de tentar levantar dinheiro, e você podia conhecer todos os investidores muito rapidamente porque podia contá-los nos dedos de uma mão. Então, quando ouço empreendedores reclamarem de acesso ao capital, definitivamente temos um longo caminho a percorrer, mas há muito mais acesso do que quando eu comecei”, relativiza Brian.
Para ele, o Vale do Silício tem sido descentralizado. Ele agora está na nuvem e continuará relevante. Todo o movimento de IA que está acontecendo provavelmente verá a próxima geração do Vale do Silício. Não acho que o Vale do Silício vai desaparecer em sua forma atual. Mas absolutamente, há um punhado de centros de inovação. E essa forma descentralizada de operar é algo que também fará do capital também descentralizado.
Apesar da melhora de mercado, percalços como o idioma continuam a ser uma barreira de acesso a investimentos. Segundo Rodrigo, é mais difícil olhar para um empreendedor brasileiro batendo nas portas de grandes fundos. Tentar um fundo série B, por exemplo, provavelmente fará com que a companhia precisa de uma ajuda de uma empresa local para ter acesso aos fundos estrangeiros, que têm mais capital.
“Acho que estamos em uma boa tendência. Mas quando você fala como se fosse um latino-americano, é diferente de, por exemplo, se você é americano. Se você tiver sotaque, essa já é uma barreira”, alerta Rodrigo.
Ludmilla concorda ao dizer que se você está conversando com alguém que não sabe nada de sua cultura ou sobre pequenas coisas, como universidade e lugares para trabalhar, existe uma barreira maior de experiência.
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