Dell, Intel e FAS: projeto ESG contribui na transformação de comunidades indígenas e ribeirinhas
Em entrevista ao IT Forum, a indígena Camila Araújo conta a importância do projeto na sua jornada profissional
Em uma região onde a densa vegetação da floresta amazônica se encontra com os desafios do isolamento e da falta de acesso a serviços básicos, o projeto Dell Solar Hub tem se destacado no trabalho em comunidades remotas.
Para entender melhor o impacto e os desafios dessa iniciativa, entrevistamos Leonardo Tiaraju, gerente de ESG para as Américas da Dell Technologies e com a Roberta Knijnik, gerente de marketing e vendas na Intel.
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O Dell Solar Hub é uma parceria entre a Dell Technologies e pela Computer Aid International, com apoio da Intel e suporte da FAS (Fundação Amazônia Sustentável), idealizado para atender às necessidades de comunidades em áreas remotas, inicialmente na Nigéria e posteriormente em outros locais ao redor do mundo. No Brasil, o projeto encontrou seu lar na Amazônia, onde uma comunidade a 345 km de Manaus se beneficia dos serviços providos pelo hub.
O primeiro passo foi identificar as necessidades do local, já que o projeto nasceu com um cunho principalmente educacional, entretanto, foi observado que outras áreas também necessitavam de atenção.
Com base nisso, foi identificada a dificuldade de acesso à água potável, especialmente em uma região onde o rio local é afetado por minerais pesados. Para enfrentar esse desafio, o projeto implementou um sistema de captação de água da chuva, proporcionando um recurso vital para a comunidade.
Além disso, o Dell Solar Hub também se destaca por seu papel na área da saúde. Com a instalação de uma enfermaria local e o uso da telemedicina, a comunidade agora tem acesso a serviços essenciais que antes exigiam longas viagens. “Observamos um grande número de atendimentos para casos de ansiedade e depressão”, revela Tiaraju, ressaltando a importância do cuidado com a saúde mental.
Desafios logísticos e estruturais
O Solar Hub foi construído com dois contêineres desativados e ligados por uma sala central, de madeira. Fica bem no meio da comunidade Boa Esperança, às margens do Madeira, de onde pode ser alcançado por cerca de outras 11 comunidades próximas, incluindo indígenas, dos povos Mura, Tenharim e Apurinã.
Durante a construção, Roberta Knijnik relembra os obstáculos enfrentados. “Pensávamos que levar os contêineres seria mais fácil, entretanto enfrentamos diversas dificuldades de acesso e distância.” No entanto, ela ressalta que todo esforço valeu a pena ao testemunhar a transformação de vida das pessoas daquela comunidade. “Conhecemos pessoas que tiveram acesso aos estudos e mudaram toda a realidade de sua família”, afirma.
Essa narrativa é complementada pelas dificuldades logísticas e de comunicação encontradas para entrevistar Camila Araújo, monitora ambiental do projeto. No dia marcado, a equipe da FAS informou que perdeu contato com Camila e outros moradores da aldeia Kamaiwá, devido à falta de energia que já durava mais de 24 horas.
Além disso, Camila mora a duas horas e vinte minutos de lancha da comunidade Boa Esperança, onde fica o hub, e as condições climáticas do inverno amazônico dificultam ainda mais essa questão, com fortes tempestades.
Apesar das adversidades, a entrevista foi reagendada. Camila, uma jovem de 23 anos, residente na aldeia Kamaiwá e pertencente à etnia Munduruku, desempenha com resiliência diversas responsabilidades. Além de ser monitora da FAES, ela atua como professora e secretária da Associação Indígena da região, sendo mãe de duas filhas.
Em meio à sua rotina agitada, Camila encontra motivação na busca por um futuro melhor para suas filhas e conta com o apoio da família para isso. “Minha mãe cuida muito bem delas quando preciso sair para o trabalho. É uma parceria essencial”, diz ela.
Enfrentando os desafios do trajeto até o Hub Solar com determinação, Camila compartilha: “Quando há oficinas ou eventos, pego a moto até o ponto de acesso, onde sou levada de lancha até lá. É um esforço que vale a pena.”
Ao ser questionada sobre a importância do projeto em sua vida, ela responde: “é muito gratificante poder trabalhar juntamente com a turma da FAS, era a oportunidade que eu precisava”, compartilha Camila. “No ano anterior eu não tinha conseguido entrar, mas consegui esse ano e foi maravilhoso. Não se trata só do valor material, mas de contribuir com a comunidade e a natureza.”
Seu trabalho na FAS envolve monitoramento e levantamento de produção. Com base em dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), ela se desloca para áreas identificadas com focos de calor.
Lá, ela realiza avaliações e monitoramentos, interpretando as imagens dos satélites que podem indicar desmatamentos ou queimadas. “A parte mais desafiadora é enfrentar o sol durante o levantamento dos pontos do roçado, mas o resto é tranquilo”, compartilha Camila.
Além de suas responsabilidades profissionais, Camila destaca a importância da Associação Indígena e do Hub Solar em sua vida e formação. “Eles oferecem oportunidades não só para os jovens, mas também para os mais velhos que desejam continuar estudando. É incrível ver como isso impacta positivamente nossa comunidade”, enfatiza ela.
Em termos de impacto, os resultados são notáveis. O número de comunitários cursando ensino superior aumentou significativamente, demonstrando a capacidade do projeto de abrir portas para oportunidades educacionais. Além disso, o acesso a serviços básicos, como saúde e água potável, tem transformado a qualidade de vida da comunidade de Boa Esperança e das áreas circunvizinhas.
Para Tiaraju, o maior aprendizado pessoal foi testemunhar o impacto positivo na vida das pessoas atendidas pelo programa. “Não existe maior realização do que ver um sonho se tornando realidade”, afirma.
Por sua vez, Roberta destaca a importância de celebrar os sucessos já alcançados e reitera o compromisso contínuo de lutar por um futuro mais inclusivo e sustentável para todas as comunidades, ao comentar que já estudam ampliar o projeto para outras áreas da América Latina.
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