Colaboração, IoT e simuladores: um giro pelas inovações da fábrica da Fiat

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4:51 pm - 12 de dezembro de 2017

Principal fábrica de automóveis da América Latina, com capacidade produtiva de 800 mil veículos ao ano, Betim (MG) é um dos trunfos da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), empresa constituída a partir da fusão global entre Fiat e Chrysler em outubro de 2014. Primeira planta da montadora no Brasil, fundada em 1976, as instalações vêm passando por grandes transformações e, para isso, a inovação tem sido foco da companhia.

Em termos de produção, a grande aposta é no conceito de Indústria 4.0, com as chamadas fábricas inteligentes. São mais de 1 mil robôs espalhados pelas diversas áreas de produção, formando um verdadeiro arsenal produtivo.

Mas, mais do que processos ou metodologias, a FCA quer que a inovação chegue a outro importante personagem do seu ecossistema: as pessoas. “Inovação e tecnologia não são apenas o digital. Inovação também está na forma como desenvolvemos produtos”, destaca Mateus Silveira, head da área de Future Insights.

Para mostrar suas iniciativas, a companhia promoveu na última quarta-feira a primeira edição do Circuito FCA de inovação, no Polo Automotivo Fiat, em Betim. O IT Forum 365 esteve presente e traz os detalhes sobre a jornada de criatividade e conhecimento da empresa.

Colaboração

Colaboração tem sido palavra-chave dos negócios modernos, seja qual for o setor. É o que a FCA também busca, em diversos aspectos. O primeiro deles é ampliar o brainstorm dos veículos para os clientes, visando saber o que os consumidores buscam em um veículo. O primeiro processo de inovação colaborativa, como classifica Silveira, foi com o modelo Novo Uno, em 2007, quando a companhia realizou pesquisas de campo com consumidores.

Mas foi em 2010 que a iniciativa de fato vingou, com o carro conceito Mio, primeiro carro-conceito da indústria automotiva no mundo criado em uma plataforma de inovação aberta. O processo contou com a participação de mais de 17 mil pessoas e 12 mil ideias de mais 160 países. “Era uma época em que as redes sociais ainda não tinham o poder de hoje”, lembra Silveira. “O processo começou com perguntas e não afirmações (sobre o que deveria ter um carro). Os consumidores querem carro urbano, com dois lugares e a favor do meio ambiente. O Mio é viável tecnicamente, mas não industrialmente”, pondera.

Na prática, o Mio serviu de inspiração para a concepção do Fiat Mobi, carro compacto lançado no ano passado. Os recursos de conectividade, por exemplo, são exemplos do que a companhia ouviu de anseios de seus clientes. “O Mobi tem insights do Mio. A ideia era saber o que o cliente queria e procuramos materializar”, comenta Silveira.

A experiência com o Mio também inspirou a criação do Afterburner, estúdio criativo para suporte a operações. “É uma estrutura fora dos padrões dos processos e funciona com projetos.”

Na sequência, surge o primeiro Fab Lab, espaço de criação que segue a lógica de startups. “Focamos no conceito de “Fail Fast”, não somente para prototipar soluções mas também desenvolver pessoas”, explica o executivo.

No espaço, pessoas de diversas áreas se reúnem para realizar projetos de fabricação digital de forma colaborativa. A FCA foi a primeira empresa no Brasil a ter um fab lab, que está localizado no Isvor (universidade corporativa da FCA em Betim), local que fomenta a ideia do “faça você mesmo” ao incentivar as pessoas a materializarem suas ideias com o uso de tecnologias como a impressão 3D e o corte a laser.

Dentro de casa

Além da colaboração da porta para fora, a companhia buscou incentivar processos colaborativos internamente. Para isso, a área de engenharia de produto criou workshops mensais, em que os funcionários têm a oportunidade de levar ideias, que são discutidas e, caso selecionadas, levadas para discussão de um comitê formado por diretores.

“A empresa precisa ter regras, compliance etc, mas com agilidade. É o espírito de startup que buscamos, trazendo tecnologias de outras áreas para quebrar paradigmas.”, destaca Toshizaemom Noce, supervisor de Inovação.

Noce comenta que geralmente quem tem as ideias acaba liderando o projeto, é reconhecido e pode transformar em talento da empresa. É o caso de Marcelo Lima, que criou o projeto R&D Hunter, ou seja, caçador de P&D e junto com outras iniciativas em curso se tornou coordenador do Manufacturing 2020.

Lima também lidera a aproximação com startps e universidades. Na área de manufratura, são 10 startups parceiras, 33 grandes empresas – como Cisco, Accenture e Siemens -, além de universidades, como ITA, USP, PUC Minas e CESAR.

Casa da inovação

Colocar as ideias em prática era outro desafio. E, para isso, a FCA também apostou no conceito de metologia ágil com a criação da Manufacturing 2020, espaço dedicado a inovação.

O Manufacturing 2020 promove a conexão da FCA com fornecedores, startups, academia e governo, reduzindo as distâncias e tornando a Indústria 4.0 uma realidade.

A iniciativa atua em três frentes: experimentação, treinamentos e parcerias. O objetivo é possibilitar conexões e agregar times que tenham condição e conhecimentos para colaborarem com os desafios da Indústria 4.0, abrangendo fornecedores, universidades, startups e poder público.

Lima classifica o local como laboratório feito para errar. Segundo ele, são 32 provas de conceito em desenvolvimento.

Algumas das inovações trazidas pelo laboratório são robôs colaborativos, que complementam o trabalho dos operadores; solução de realidade aumentada, que usa um óculos para mostrar onde cada peça deve ser colocada; o jogo Plantx, que, com base em gamification, cria uma plata virtual para ser gerenciada pelo funcionário; além de soluções para ergonomia, com o exoesqueleto, que vem complementar uma série de iniciativas para melhoria da condição ergonômica do operador na linha de produção.

O “ponto alto” do espaço é o simulador IC.IDO, do fornecedor francês ESI, que contou com investimento de cerca de R$ 1 milhão. A solução cria o chamado gêmeo digital, que consegue simular a linha de produção visando otimizar processos e pensar nos esforços dos operadores. A máquina foi usada para simular toda a linha do Argo, lançado em maio deste ano. Segundo a empresa, economizamos R$ 1,3 milhoes em 8 meses.

A principal vantagem, destacada pela empresa, é a simulação colaborativa. Na Sala de realidade virtual, são reunidos profissionais de diversas áreas, com a integração da Engenharia de Produto e de Manufatura, para identificação de oportunidades de melhoria, seja diretamente no produto ou no processo produtivo.

Simulador veicular

Os 2 milhões de metros quadrados da Fiat apresentam diversas inovações, mas é a aproximadamente 10 quilômetros do local que está o grande destaque inovador da companhia.

Trata-se do SIMCenter, centro de simulação de dinâmica veicular mais moderno da América Latina, instalado na Campus Coração Eucarístico da PUC Minas, em Belo Horizonte. O equipamento contou com investimentos de R$ 18 milhões do BNDES para criação de um ambiente multidisciplinar.

O sistema, primeiro do gênero da FCA no mundo, é formado por uma plataforma que realiza todos os movimentos de um veículo real por meio de nove atuadores; um cockpit equipado com sistema de áudio que reproduz os sons do motor e as reações dos pneus com o piso; e uma tela curva com ângulo de visão de 230°. Os movimentos do cockpit são integrados às imagens da tela e alinhados com os comandos realizados pelo motorista, guiados em tempo real pelos instrumentos da sala de controle.

Mais do que ser a pista de testes virtuais da FCA, o equipamento também trará benefícios para a universidade. “Dára para explorar em biologia com comportmento do ser humano com medicamento”, cita Gustavo Costa, supervisor de Análise Virtual de Engenharia Chassis.

A instalação foi finalizada há poucos meses, com alguns passos ainda a serem dados. No momento, a equipe já possui o modelo computadorizado do Renegade, da Jeep (outra marca do grupo FCA), para testes, mas apenas em pistas europeias. Os próximos passos são adicionar pistas brasileiras, além de incluir outros modelos – o desenvolvimento do Argo já está em andamento.

No caso da pista, a primeira escolhida é o circuito do Autódromo Internacional de Curvelo, localizado a cerca de 200 quilômetros de Belo Horizonte. “Hoje a FCA não tem um campo de provas e usa de parceiros, como a Pirelli. A mais perto utilizada é a pista de Curvelo, que em 6 meses terá a versão virtual, preparada por alunos da faculdade de jogos digitais”, diz Costa. “A ideia é teletransportar e dirigir qualquer carro em qualquer pista”, finaliza.

*O jornalista viajou a Betim (MG) a convite da Fiat Chrysler Automóveis

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