Com Backbone Educacional, Cogna aposta em futuro de parcerias tecnológicas
Segundo o VP Roberto Hengist, backbone reduziu complexidade do negócio e já abre portas para serviços educacionais personalizados por aluno
Mais do que manter uma estrutura de TI rodando com estabilidade e eficiência, um dos grandes desafios de todo executivo de tecnologia moderno é criar bases para a inovação e para a participação de um ecossistema que contribua com esse objetivo. No caso da Cogna Educação –holding que detém marcas como Vasta (educação básica), Saber (que inclui as editoras Saraiva e Ática), e Kroton (ensino médio e superior, com marcas como Anhanguera, Unopar e Pitágoras) –, isso passa pelo Backbone Educacional, que busca facilitar a integração de sistemas entre as diversas empresas do grupo e seus parceiros.
Na prática o backbone é um modelo operacional de “arquitetura de referência”, fortemente baseado em cloud computing – no caso, a Azure, da Microsoft –, com um banco de dados unificado e integração por microsserviços e APIs. Tanto o sistema de gestão acadêmica como o back-office foram repensados, de modo a transformar a Cogna em uma empresa de plataformas educacionais.
Segundo Roberto Hengist, vice-presidente de tecnologia e CTO da Cogna, o backbone reduziu substancialmente a complexidade do negócio, e passou a integrar toda a cadeia de produção, do financeiro ao marketing, em um único sistema. Hengist está na Cogna desde junho de 2021, e se tornou VP em março de 2022 – e um dos seus maiores objetivos é justamente viabilizar esse projeto, sobre o qual repousa grande parte das expectativas futuras da companhia.
“Nós tínhamos um ambiente muito diverso por causa das aquisições. Hoje boa parte da minha agenda é de consolidação de ativos, para evitar a multiplicação de esforços diferentes”, explicou o executivo, em conversa exclusiva com o IT Forum, referindo-se ao grande número de compras feitas pela empresa nos últimos anos. “Quando a gente fala de uma oferta digital, tenho que ter um catálogo único para fazer uma oferta personalizada a qualquer aluno que queira estudar conosco.”
O espectro de cursos oferecidos pela Cogna é tão grande quanto o número de companhias que a compõe, e passa por graduação, pós-graduação, ensino de jovens e adultos e cursos técnicos, entre outros. Mas a “linha-mestra”, explicou Hengist, é a jornada do aluno – e a partir dela o backbone ganha escala.
“Outros negócios de educação vão surgir, e a gente tem que estar aberto. Tem que ser um modelo padronizado, porém flexível”, contou o executivo. “Nosso backbone harmoniza as relações entre a companhia e os parceiros. Prover integrações acuradas, prontas e rápidas. Quando eu quiser integrar com outra empresa para gerar uma jornada, ele é o caminho”, explicou.
Jornada infinita
Antes da Cogna, Hengist não havia atuado no setor de educação. Com passagens pelo varejo (Dafiti e Via Varejo), setor financeiro (Banco Votorantim) e serviços (Atento, TAM, Everis), sua chegada ao grupo educacional se deve à necessidade de ter um executivo com “olhar multi-indústria”.
O executivo contou que o conceito do backbone foi considerado pela Cogna pela primeira vez em 2019. No começo de 2020, o grupo educacional começou os primeiros desenvolvimentos, integrando serviços básicos. E desde então houve uma aceleração.
Segundo ele, o modelo de backbone foi cunhado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT, como parte de uma estratégia de transformação baseada em cinco pilares. Embora sua aplicação seja visível em empresas do setor financeiro e da indústria, também pela complexidade elevada de suas cadeias, ele ainda não é tão comum no Brasil.
E por isso a empresa já é chamada a falar sobre ele fora do Brasil, se tornando referência para “grandes seguradoras europeias”, bancos e empresas de outros setores.
“É uma jornada. Ele [o backbone] nunca vi ter fim, é um produto vivo”, ponderou o CTO. “Estamos digitalizando a organização. O desafio é assegurar que o backbone não deixe de ser o grande centro desse processo. Ele é o grande estruturante para permitir que essa estratégia nunca se quebre.”
Muito embora tenha se tratado de um investimento substancial por parte da Cogna – afinal, trata-se de um projeto estruturante –, atualmente “ninguém questiona o que foi investido”.
Mapa de evolução
Para o executivo, apesar da aceleração da digitalização do ensino promovido pela pandemia, o modelo de educação não mudou substancialmente. A relação lousa, professor e aluno ganhou as telas do ensino à distância (EAD), mas ainda segue a mesma. Mesmo o uso de tecnologias inovadoras, como realidade aumentada e outras formas de imersão, não alterou essa lógica.
“Estamos flertando com uma possibilidade de disrupção do mercado que é multiplexação do conteúdo”, ponderou, explicando que as pessoas assimilam conhecimento de vários formas, e que tecnologias como grafos e aprendizado de máquinas estão prestes a serem capazes de converter conteúdo educacional para se adequar ao melhor jeito de o aluno aprender.
Por exemplo, gerar uma apostila a partir de uma aula em vídeo, ou um artigo em podcast.
Hengist explica que a empresa fez investimentos substanciais no passado recente para se tornar mais data driven, e que hoje qualquer produto é pensado e desenvolvido usando dados. Na performance acadêmica dos alunos, algoritmos de IA podem sugerir conteúdos de reforço, por exemplo.
“A gente consegue orientar e dar informação para o professor. Mostrar onde ele [o aluno] tem dificuldades. E aí podemos ofertar os melhores produtos para reforço escolar”, diz. “Se um aluno tem dificuldade e temos essa informação, posso fazer uma oferta fora do contexto da escola por um curso livre, por exemplo.”
Seja quais forem as tecnologias que integrarão o futuro da educação, o CTO da Cogna tem certeza que pelo menos um modelo já é tempo presente: o ensino híbrido. Para ele, telas não substituem a relação social entre as pessoas, “principalmente em um ambiente educacional, de colaboração, questionamento”.
“Só vai funcionar se houver harmonização dos interesses de todos, com tela ou sem tela”, ponderou.