Cenário econômico freia avanço de Parques Tecnológicos no Brasil

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1:58 pm - 26 de setembro de 2017
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Qual é o estágio da inovação no Brasil? Analisar o cenário de Parques Científicos e Tecnológicos ajuda responder a essa pergunta. Atualmente, o País conta com 96 iniciativas de Parques Tecnológicos, sendo 28 em operação plena. Segundo a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) – entidade que representa os principais parques, incubadoras e aceleradoras do Brasil -, os outros 68 estão em diversos estágios de desenvolvimento – alguns em projetos e outros em implementação.

O número mostra um enorme salto em relação a 2010, por exemplo, quando o País somava apenas dez Parques Tecnológicos. Os oito anos seguintes registraram enorme avanço e, em 2008, o total era de 74.

Em 2013, houve novo crescimento considerável e o Brasil já registrava 94. Os dados são do “Estudo de Projetos de Alta Complexidade – Indicadores de Parques Tecnológicos”, apresentado pela Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, em parceria com o Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília, em 2014.

Fica evidente a desaceleração justamente no período econômico desafiador que o Brasil vive nos últimos três anos. Jorge Audy, presidente da Anrpotec, destaca o crescimento exponencial até 2014, com ampliação de operações e de fomento público, mas lamenta a queda nos investimentos. “Nos últimos dois anos, o volume de editais e fomento para criação desse ecossistema no País foi para quase zero”, ressalta, em entrevista ao IT Forum 365.

Audy afirma que a crise foi o principal fator para essa estagnação e, para ele, caso o Brasil tivesse seguido o ritmo que vinha tendo desde 2010, estaria em um estágio completamente diferente. “Estamos andando de lado nos últimos dois anos, junto com o Brasil.”

Diante desse cenário, Audy, que também é pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, destaca que a entidade busca alternativas no mercado global para abrir janelas com parques europeus e asiáticos, por exemplo. Na última semana, inclusive, esteve na Espanha para uma missão com cerca de 30 ambientes brasileiros. “Estamos buscando novas possibilidades para as empresas do nosso ecossistema e, em uma visão otimista, esperamos uma retomada no ano que vem”, projeta.

A Anprotec conta com aproximadamente 400 sócios, reunindo os principais parques, incubadoras e aceleradoras brasileiras. Os principais eixos de atuação são por meio de frentes de articulação política, bem como capacitação, como a Uni Anprotec, que promove cursos de formação, além de missões de trabalho. “Nossa causa envolve o empreendedorismo inovador no Brasil e nosso propósito é, por meio do empreendedorismo, proporcionar o crescimento socioeconômico do País”, resume.

Cenário

O estudo da Anprotec mostra também que, nos 28 parques respondentes que se consideram em estágio de operação, foram contabilizados 32,2 mil empregos nas 939 empresas e institutos de pesquisas residentes e na equipe de gestão – a maioria de nível superior.

Destaca-se também o grande número de mestres e doutores envolvidos, aproximadamente 4 mil (13%), com o indicativo de que parcela considerável desses profissionais atua diretamente nas empresas, contrastando com o universo empresarial brasileiro, cujo quadro de colaboradores tem participação pouco expressiva de mestres e doutores.

Brasil: movimento tardio

O conceito de Parque Tecnológico surgiu nos EUA na década de 1950, na Califórnia, com o Stanford Research Park, da Universidade de Stanford. Estabelecido em 1951, é considerado por especialistas como o principal precursor desses ambientes de inovação. Com base na interação entre universidades e empresas, essas iniciativas visam prover infraestrutura técnica e administrativa para auxiliar companhias no desenvolvimento de produtos inovadores.

Mas o Brasil demorou para entrar no circuito. Audy comenta que, após os EUA iniciarem na década de 50, a Europa Ocidental teve as primeiras iniciativas nos anos 70, a Ásia no final dos anos 80 e o Brasil iniciou, de fato, em 2000.

“A América Latina como um todo iniciou o movimento só no início do século 21. Temos um movimento no Brasil muito tardio em relação ao mundo”, comenta Audy, que ressalta, porém, que o Brasil está muito à frente dos outros países latino-americanos. “Temos um caminho longo pela frente. Pelo tamanho do Brasil, ainda temos uma escala pequena.”

O País chegou a ter os primeiros incentivos para fomentar o desenvolvimento de habitats de inovação no início na década de 1980, com a criação do Programa Brasileiro de Parques Tecnológicos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). No entanto, por conta dos desafios impostos pela falta de uma cultura direcionada à inovação e pelo baixo número de iniciativas inovadoras no território nacional, os projetos de parques tecnológicos da época não tiveram o mesmo impacto de outros pelo mundo.

A partir de 2000, novos incentivos foram destinados para a criação de Parques Científicos e Tecnológicos no Brasil, com objetivos que englobavam não só inovações, mas também desenvolvimento econômico e social. Assim, com a criação de marcos legais de apoio ao processo de inovação, como a Lei da Inovação em 2004, novos impulsos foram dados ao desenvolvimento dessas iniciativas.

“Tivemos nesses últimos 30 anos uma grande aventura de transformação no Brasil. Há 30 anos não se falava em ambientes de inovação no Brasil. A Anprotec, junto com outras entidades de governo, vivenciou uma aventura de transformação envolvendo universidades, governo, sociedade, empresas”, lembra Audy.

O cenário de pesquisa e desenvolvimento no Brasil ainda deixa a desejar. O setor recebe 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) do País em investimentos, enquanto a média de países integrantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 2,4%. Países como Israel e Coreia do Sul, conhecidos por suas inovações de berço, investem mais de 4% do PIB. O ranking Global Innovation Index 2017 classifica o Brasil apenas em 69º, entre 127 países analisados.

Iniciativas

O grande salto para consolidação dos Parques Tecnológicos no Brasil foi e tem sido baseado no apoio de entidades públicas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, apoiou algumas iniciativas, entre elas o Tecnopuc, em Porto Alegre (RS), por meio da construção de um prédio para abrigar empresas de TICs. No Parque da Ciência e Tecnologia Guamá, em Belém (PA), o objetivo do financiamento foi o desenvolvimento da infraestrutura de urbanização, saneamento, água, energia e comunicação, construção de prédios para administração e incubadora da empresa.

Ainda, o banco tem apoiado, além de projetos que envolvam inovação, aqueles que abrangem conhecimento e criatividade. No caso do Nordeste, o principal apoio foi no Porto Digital e no Porto Mídia, empreendimentos que aliam a restauração do patrimônio histórico à revitalização urbana, ao desenvolvimento de atividades de base tecnológica, à promoção da economia criativa e à geração de inovação, enfim, ao desenvolvimento sustentável.

Isabela Brod, gerente de Inovação do BNDES, comenta que os Parques Tecnológicos possuem extrema importância no ecossistema de inovação, pois promovem a aproximação entre a tripla hélice – empresas, instituições de ensino e Governo. “Essa proximidade (empresas, instituições de ensino e Governo) facilita o fluxo de conhecimento e a criação e desenvolvimento de tecnologia por meio da promoção da convivência entre profissionais de diferentes áreas, aumentando assim a possibilidade de conexões de conhecimento indispensáveis para a inovação”, afirma ao IT Forum 365.

Isabela destaca também o quanto iniciativas desse tipo impactam positivamente para o crescimento de emprego e desempenho superiores aos daquelas que se localizam fora desses ambientes. O banco participa de fóruns e reuniões com a própria Anprotec. “O apoio aos Parques Tecnológicos consta nos itens de apoio à inovação do banco nas melhores condições disponíveis”, cita.

Mas qual o critério para a escolha dos investimentos por parte do BNDES? Isabela explica que são os mesmos que os usados para os projetos de inovação, como mérito do projeto, inovação, sustentabilidade financeira e capacidade de pagamento. O processo segue os trâmites do banco para entrada de projetos, por meio de uma consulta prévia eletrônica, explicados em mais detalhes no site do BNDES. “No caso de projetos abaixo de R$ 10 milhões, esses são financiados indiretamente por meio de agentes financeiros credenciados e devem ser encaminhados por meio destes agentes (bancos comerciais e agências de fomento)”, explica.

Concentração regional

Audy e Isabela destacam iniciativas em todo o Brasil, mas os números mostram uma grande concentração regional. A região Sudeste lidera, com um total de 39 Parques, seguida de perto pelo Sul, com 35. As outras três regiões mostram números menores: Centro-Oeste, com oito, Nordeste, sete, e Norte, cinco.

“Sabemos o que fazer e como fazer. O que nos falta é enxergar s ecossistemas como verdadeiras plataformas de desenvolvimento de um país que quer ser protagonista no século 21. Se tem alguma coisa que podemos de chamar de um Brasil que dá certo, é esse Brasil que está localizado nesses ambientes de inovação”, crava.

Destaques

Alguns parques têm se destacado no cenário de inovação brasileiro. O prêmio Anprotec, promovido em parceria com o Sebrae a o MCTIC, por exemplo, já nomeou o Tecnopuc três vezes como o melhor do País. O Porto Digital, por sua vez, também é tricampeão da premiação. Outros vencedores do prêmio, que tem 12 anos, foram Tecnosinos, de São Leopoldo (RS), e o Parque Tecnológico da UFRJ, no Rio de Janeiro.

Quais são as principais iniciativas desses e de outros parques tecnológicos brasileiros? Que tipo de contribuição estão dando para o País? O IT Forum 365 preparou um especial sobre alguns dos principais Parques Tecnológicos do Brasil. Confira nas próximas semanas.

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