Teorizando a Gestão de Sistemas de Informação

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2:00 pm - 25 de setembro de 2018

Em várias áreas do conhecimento, como na Economia e Psicologia, o desenvolvimento, uso e ensino de teorias próprias são práticas comuns. Teorias são importantes porque nos ajudam a resolver problemas novos. Pelo menos aqueles que são novos para nós, mesmo que apenas na forma. Apesar disto, tenho a impressão que as ações e decisões dos profissionais de gestão de SI tendem a se basear mais em suas experiências e intuição do que em teorias.

Lim et al (2013) identificaram as teorias mais utilizadas na pesquisa sobre gestão de SI publicada nos principais periódicos científicos da área. Eles primeiramente classificaram os artigos em função do objeto de estudo: (i) Desenvolvimento de SI, (ii) TI e Indivíduos, (iii) TI e Grupos, (iv) TI e Organização, e (v) TI e Mercados.

Fig tipos de SI Teorizando a Gestão de Sistemas de Informação

Eles verificaram que a maioria das teorias utilizadas são originárias de outras áreas de conhecimento que não SI, como: Psicologia, Economia, Sociologia e Estratégia, dentre as mais utilizadas. Apenas 10% das teorias utilizadas nos artigos são nativas de Sistemas de Informação.

Ao olhar as 165 teorias utilizadas nos artigos analisados por eles, a teoria mais utilizada foi o Modelo de Aceitação Tecnológica (Technology Acceptance Model – TAM), que é uma teoria da área de gestão de SI. Na sequência vêm Visão da empresa baseada em recursos e Teoria dos jogos, que são originárias da Estratégia e da Economia.

Considerando apenas os artigos sobre TI e mercados, as teorias econômicas são dominantes: Teoria dos jogos, Custos de transação, Redes externalidades, Teoria das opções e Teoria da produção. Nos artigos sobre a TI nas organizações, as teorias mais utilizadas são Visão da empresa baseada em recursos, Capacidades Dinâmicas, Aprendizagem Organizacional, Teoria dos Custos de Transação e Capacidade Absortiva, que são teorias oriundas (e apropriadas) de Estratégia, Ciências Organizacionais, Psicologia e Economia.

Nos trabalhos sobre TI e grupos, as teorias mais frequentemente utilizadas são: Media richness theory, Visão da empresa baseada em recursos e Teoria da presença social, que são teorias das áreas de Comunicação, Estratégia e Sociologia, respectivamente. Já nos estudos sobre a TI e os indivíduos as teorias dominantes vêm da Psicologia: Teoria da ação racional, Teoria da difusão da inovação, Teoria do comportamento planejado e Teoria social cognitiva.

É interessante notar que estas não são áreas das ciências exatas (Matemática, Lógica, Ciência da Computação), e sim das áreas de humanas e das sociais aplicadas (Psicologia, Economia, Sociologia, Estratégia, etc). Se no início da carreira dos profissionais de TI as competências ligadas às ciências exatas são mais valorizadas, já que estão ligadas a postos de trabalho e tarefas mais técnicas, as competências valorizadas em profissionais em posições de comando estão mais ligadas ao conhecimento das ciências humanas e sociais aplicadas.

Outro aspecto desse trabalho a ser destacado é a frequência de uso das teorias mais empregadas. Existe uma grande variedade de teorias (de diferentes áreas de conhecimento) utilizadas na pesquisa em gestão de SI. Isto mostra que pessoas com formações diversas podem, em princípio, se envolver com a pesquisa sobre gestão de SI, e que várias áreas do conhecimento – como Psicologia, Economia, Sociologia, etc – podem contribuir na formação do profissional de SI. Isto também ajuda a explicar porque algumas empresas escolhem um CIO cuja formação original não é sistemas de informação e nem ciências da computação.

Por fim, gostaria de reforçar a importância de uma visão mais estruturada e formal da realidade que as teorias nos possibilita. Pretendo nos próximos artigos falar de algumas destas teorias e de seus usos na gestão de SI pois acredito que seja verdadeira a frase do psicólogo Kurt Levin: “Não há nada mais prático que uma boa teoria”.

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