O jogo da tecnologia agora é coletivo

Não sejamos românticos ou simplistas. Não existe uma tecla ou um caminho fácil para a disrupção. A famosa jornada para a transformação digital passa pela complexidade do mercado de TI e implica em um entendimento mais amplo sobre ferramentas e tecnologias como da nuvem híbrida, inteligência artificial. O que está diferente? Digamos que o mundo tecnológico da competição evolui para a cooperação. Essa reviravolta colocou a gestão de ecossistemas em posição central no novo modelo de negócios da indústria. De forma bem direta: não é possível ganhar o jogo sozinho. O jogo da tecnologia, hoje, é coletivo.

Essa coletividade significa, de forma pragmática, que as empresas querem muito mais do que a “natureza bruta” da inovação e da tecnologia: existe uma busca por relacionamento e conhecimento dos negócios que subiu de patamar nos últimos anos. Não por acaso, fornecedores e parceiros agora vislumbram cocriar soluções com alianças que antes talvez fossem impensáveis. Ponto para o mercado – que vê um crescimento significativo do ecossistema e, claro, já estabelece uma relação “ganha-ganha” para todos os envolvidos.

Pesquisas globais corroboram com esses pontos. O estudo da EY deste ano – The CEO Imperative Study – realizado com mais de 800 líderes de negócios que utilizam pelo menos um modelo de negócios de ecossistema, apontou que os ecossistemas representam em média 13,7% de suas receitas anuais totais, gerando 12,9% em redução de custos e 13,3% em ganhos incrementais. Mais do que isso: quando os executivos foram questionados sobre o sucesso das empresas, 71% disseram acreditar que a estratégia de escossistemas é muito importante para seus negócios. E mais de 90% concordam que o modelo aumentou a resiliência de seus negócios.

Em linhas gerais, é imprescindível adotar esse modo de operar. Os líderes de sucesso de hoje veem o trabalho em colaboração com o ecossistema como uma maneira de abrir o caminho para acessar novos mercados, regiões e localidades, bem como criar oportunidades de negócios que não estariam disponíveis caso estivessem atuando de forma isolada.

O mundo de hoje é aberto. Seu cliente pode se tornar concorrente e, em um piscar de olhos, seu atual concorrente pode virar um parceiro. Empresas que competem hoje podem estar do mesmo lado logo no dia seguinte, em projetos maiores e mais promissores. Essa busca por alianças também faz parte do jogo e, de forma respeitosa, potencializa na construção de diversidade no mercado e, claro, um diferencial para empresas de todos os tamanhos.

No campo do ecossistema, é importante pensarmos que 1 + 1 pode ser maior que 2. É com essa filosofia que muitos negócios atingem seus objetivos. E se me permitem fazer um prognóstico, os ecossistemas ficarão cada vez mais robustos em pouco tempo. O estudo da EY, inclusive, já aponta que o número médio de relacionamentos aumentou de cinco para sete, com 58% dos entrevistados com mais de quatro ecossistemas ativos. Números, que, provavelmente vão seguir essa curva de evolução.

Por fim, vou um ponto básico, mas fundamental: a aceleração da transformação digital que vivemos nos últimos anos trouxe um aumento da expectativa e da exigência do mercado, que busca por soluções customizadas, velozes e eficientes. Para atender esses anseios, nada mais natural que empresas, clientes e parceiros de negócios estarem todos do mesmo lado do campo. Em uma escalação anterior, provavelmente haveria disputa entre os players do jogo. Agora, a ressignificação do ecossistema coloca todos para vestirem a mesma camisa e se tornarem companheiros de estratégias dentro de campo. Nessa ressignificação do ecossistema, a vitória de um garante o sucesso do outro.

*Fabrício Lira é líder de Ecossistema da IBM no Brasil