Neurodiversidade como vantagem competitiva
A Tecno-Humanização vai além da diversidade e inclui em seus projetos a Neurodiversidade.
Primeiro artigo nesta coluna e primeiro desabafo. Mas prometo que não será um desabafo chato.
Você já “chantageou” uma criança para ela comer saudável?
Ofereceu algo que ela gostava muito, inclusive sobremesa extra, para que pudesse comer verdura?
Ter que contar histórias, dar chocolate, deixar brincar uma hora a mais, ter que explicar uma e outra vez a importância e os benefícios de comer verduras e legumes para o seu desenvolvimento, enfim, o que quase todo pai e mãe faz ou já teve que fazer.
Mostrar e explicar as coisas, mesmo que sejam óbvias, a uma criança se chama ensinar, e é obrigação dos adultos.
Ter que explicar e convencer a um adulto de mais de 50 anos que ele deve comer verduras, que precisa olhar para os dois lados para atravessar a rua, que não deve beber em copo de pessoas estranhas, pode ser, no mínimo uma situação “kafkiana”.
Pois é, assim que me sinto escrevendo este artigo.
Seguindo essa lógica, pode parecer absurdo em 2019 ainda ter que explicar diversidade e inclusão. Contudo, se algum aspecto da condição humana não está claro, temos o dever de contribuir para que esteja.
Temos 7,7 bilhões de pessoas no mundo, somos 7,7 bilhões de seres humanos diferentes. Ah! Claro que temos características comuns, mas todos temos nossas particularidades.
Dito isto, então…
O que nos torna especiais?
Ser diferentes.
O que nos atrai no outro?
A diferença.
O que fez a humanidade evoluir?
Pensar diferente.
O que provoca inovação?
A diferença. (de visão, de opinião, de experiência, de vivência…).
O que as empresas precisam para sobreviver?
Diferenciação e inovação.
O que contratamos para nossa empresa?
O igual. O padrão. O que se molda em um perfil previamente traçado e estudado.
Então espera um momento, porque agora fiquei confuso.
Se a diferença é o que gera inovação e a empresa contrata “iguais”, como ela pode inovar?
Para tentar entender este comportamento incoerente, precisamos de alguns conceitos que eu descobri em uma palestra do neurocientista Pedro Calabrez, e me inspirou estudar e conhecê-los com mais detalhes.
Um dos princípios de funcionamento do cérebro e, por consequência, da mente humana é o princípio da busca por consistência.
Quando processamos informações conflitantes em nosso cérebro, isso provoca um desconforto, que é chamado de dissonância cognitiva. O cérebro automaticamente, e de forma inconsciente, trabalha para recuperar a consistência, criando crenças e imagens, mesmo que distorcidas, e a nossa parte racional as justifica.
Isso explica o porquê, normalmente, temos uma imagem sobre nós mesmos superior à que os outros tem de nós. Nos consideramos mais honestos que a média, mais inteligentes que a média e assim por diante.
Outro conceito que gostaria de trazer é o de distância psicológica. Quanto mais distante estamos de um julgamento moral ou de uma tomada de decisão, mas racional ela se torna.
Vou trazer um exemplo para ilustrar a dissonância cognitiva e a distância moral.
A maioria das pessoas acham linda e louvável a atitude de alguém que adota uma criança transexual ou a um bebê com síndrome de abstinência porque a mãe usou drogas durante a gravidez, e dizem que fariam o mesmo.
Este pensamento, automaticamente serve para construir uma imagem positiva de si mesma.
Mas quando ela tem que tomar uma decisão ou atitude assim, quando pensa nos preconceitos e sofrimentos que sofrerá por adotar uma criança trans ou doente, normalmente muda de opinião.
E para resolver esta dissonância cognitiva, o racional busca justificativas para manter a imagem de boa pessoa, argumentando com pensamentos do tipo:
“Eu faria se pudesse”; “Agora não é o momento”.
Ou a frase clássica, “eu não tenho nada contra os homossexuais, eu até tenho um amigo gay”, e tem alguns que arrematam dizendo “e gosto dele pra caramba”.
Este é o mesmo processo que seguem muitas empresas. Não contratam pessoas que se vestem diferente, que pensam diferente, que sentem diferente, porque tem crenças negativas fortemente arraigadas e uma imagem tão distorcida de si mesma, provocada pela publicidade que fazem de si, dizendo, obviamente, que são maravilhosos, que consideram que não devem se “misturar”.
Somos naturalmente diferentes, ainda bem! Portanto, a diversidade e a inclusão nas organizações deveriam ser naturais.
Mas seria ingenuidade minha pensar assim. Afinal, somos hipócritas, como demonstramos no exemplo acima.
Mas será que precisa ser sempre assim? Será que não dá para mudar esse modo de agir e de pensar?
Graças aos millennials, algumas empresas encontraram o poder da diversidade e como ela contribui para seus processos de inovação, de humanização e para seus resultados.
A Tecno-Humanização vai além da diversidade, e traz a seus projetos a Neurodiversidade. Somos neurodiversos por definição, mesmo que não tenhamos nenhuma patologia ou distúrbio.
Em minha jornada de construção da metodologia da Tecno-Humanização eu encontrei a Specialisterne, empresa que desenvolveu uma metodologia para capacitar e promover a inclusão no mercado de pessoas com Transtorno do Espectro Autista – TEA.
A Specialisterne capacita pessoas com TEA, desde programação à robótica. E pensemos juntos:
Quais características mais relevantes são necessárias em um bom programador?
Raciocínio lógico, boa memória, concentração e atenção ao detalhe.
Quais características pessoas com TEA possuem de forma acentuada?
Bingo!!!
Eu já dei palestra para plateias enormes (mais de 1.000 pessoas) e já falei para altos executivos, incluindo presidentes de grandes multinacionais. Esse é o meu trabalho e, para mim, é supertranquilo.
Mas tenho que reconhecer, a palestra que eu dei para os 20 alunos da Specialisterne foi diferente.
O pessoal da Specialisterne, muito gentil, procurou me instruir antes, dizendo para eu não me sentir mal caso eles não demonstrassem empatia ou não aplaudissem efusivamente, que isso não significaria que não tivessem gostado da palestra.
Ao final, fui aplaudido efusivamente, 4 deles aplaudiram em pé e alguns vieram me cumprimentar e me abraçaram.
Foi emocionante e, para os que me conhecem, para este tipo de coisas, sou de lágrima fácil. Chorei muito!
Ouça o nosso bate-papo com Marcelo Vitoriano e Gláucia Ribeiro, Diretor geral e Gerente de marketing da Specialisterne, no podcast da BE&SK, e veja alguns exemplos de como profissionais com neurodiversidade tem gerado vantagens competitivas para seus clientes.
Empresas neurodiversas são mais inovadoras e humanizadas!