Maduros e online: pandemia impulsiona digitalização entre os maiores de 60
No segmento das fintechs de crédito, os mais experientes também estão presentes
Já foi uma cena comum em um passado não tão distante: antes mesmo de os bancos iniciarem os atendimentos pela manhã, uma fila se formava na entrada. Durante o dia, a espera, nem sempre breve, continuava, já dentro das agências. Clientes acostumados há anos a fazer todas as transações presencialmente e que não se sentiam confortáveis, preparados ou até mesmo seguros no ambiente online mantinham na rotina a ida frequente às instituições financeiras.
A pandemia chegou, e a adaptação se transformou em ordem do dia. Alguns bancos restringiram o funcionamento, criando horários prioritários para grupos mais vulneráveis ao coronavírus, enquanto outros optaram pelo fechamento total de suas agências no começo da crise. Todos, no entanto, incentivaram os clientes a resolver tudo o que fosse possível por meio de seus canais alternativos, como site e aplicativos, movimento que fortaleceu e acelerou a digitalização que já estava em curso no setor financeiro, mas que ainda não atingia a todas as faixas etárias, notadamente os mais maduros, ainda resistentes à inovação.
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Ao que parece, a nova realidade teve um impacto importante perante esse público. Para além de usar as opções digitais das grandes instituições, os mais experientes deram um passo adiante e também aderiram aos bancos digitais e a serviços normalmente procurados por um público mais jovem e familiarizado desde cedo com a tecnologia. Pesquisa recente feita em maio pelo Ibope com pessoas acima de 55 anos revelou que 45% desse grupo deixou de ir às agências bancárias, enquanto 42% passou a utilizar mais canais online durante a quarentena. Ainda segundo o levantamento, 27% acredita que o banco digital oferece mais vantagens do que o tradicional.
No segmento das fintechs de crédito, que já nasceram em um ambiente totalmente digital e disruptivo, os mais experientes também estão presentes, com potencial para aumentar ainda mais sua participação. De acordo com estudo A Nova Fronteira do Crédito no Brasil, feito em parceria entre a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD) e a consultoria PwC Brasil, e o primeiro a analisar o setor no país, apontou que os maiores de 60 anos eram 4% dos dos clientes das fintechs no ano passado, muito antes de a pandemia promover a democratização dos serviços digitais. A tendência é que, por causa do isolamento social e aumento da demanda por crédito, o número de clientes nessa faixa etária também aumente consideravelmente entre as fintechs.
De acordo com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, número que representa 13% da população do país. E esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada em 2018 pelo instituto.
Desta forma, essa parcela de consumidores terá cada vez mais relevância econômica e papel ainda mais determinante na sociedade. Daí a importância desse movimento de digitalização em curso e da democratização que ganha força na pandemia. Trata-se de um caminho sem volta e que vai beneficiar a todos.
*Claudia Amira é diretora Executiva da ABCD – Associação Brasileira de Crédito Digital