Digitalização avança, mas contingente de desbancarizados se mantém expressivo
34 milhões de brasileiros continuam “invisíveis” para o sistema financeiro
É imprudente arriscar qualquer análise mais aprofundada de situações ainda em curso. O cenário ganha um complicador quando se trata de um evento sem precedentes na história recente, como a pandemia de Covid-19. No entanto, mais de um ano após o início da crise, já é possível afirmar, com base em dados, que a digitalização foi acelerada de maneira importante desde a chegada do coronavírus. E, mais, trata-se de um caminho sem volta.
Muitas são as razões que explicam a explosão online. Parte delas ancoradas no distanciamento social, que transformou a maneira como as pessoas consumiam produtos e serviços, incluindo os financeiros.
Nesse contexto, o Auxílio Emergencial desempenhou papel importante no processo de digitalização no país. Pago por meio de contas digitais, inseriu milhões de brasileiros que antes não tinham qualquer acesso aos serviços bancários.
E a onda online veio tão forte que atingiu todas as faixas etárias, chegando inclusive àquelas mais resistentes às inovações tecnológicas, como os idosos. Até mesmo eles abandonaram o hábito de ir ao banco, migrando para opções digitais e aplicativos. Levantamento feito pelo Ibope em maio de 2020 apontou que 45% das pessoas acima de 55 anos deixaram de ir às agências bancárias, enquanto 42% passou a utilizar mais canais online durante a quarentena.
As fintechs de crédito, nascidas no ambiente online e sempre na vanguarda das inovações, contribuíram para a ampliação do uso de plataformas eletrônicas na pandemia, já que, além de possuírem alta capilaridade, alcançaram até mesmo clientes com menor acesso a serviços financeiros e segmentos com reduzido histórico de crédito no país, como trabalhadores informais e micro, pequenos e médios empreendedores.
Contudo, a digitalização ainda parece distante para uma boa parcela dos brasileiros. De acordo com estudo elaborado pelo Instituto Locomotiva, com informações referentes a janeiro de 2021, 10% da população não tinha conta em banco no período – cerca de 16,3 milhões de pessoas.
Já 11%, o que equivale a 17,7 milhões, não fez qualquer movimentação no mês anterior, configurando pouco uso dos serviços. Esses 21%, ou 34 milhões de indivíduos, continuam “invisíveis” para o sistema financeiro. O dado aponta diminuição em relação a janeiro de 2020, quando o índice estava em 29%, mas, mesmo assim, segue elevado se considerarmos o processo de digitalização que acabamos de testemunhar.
Ao permitir que as pessoas tenham acesso a uma maior quantidade de produtos e serviços, a inclusão financeira, que vai muito além de possuir uma conta em banco, apoia a sociedade como um todo, promovendo benefícios individuais e o desenvolvimento econômico do país, tão importante para a travessia de uma crise como a atual.
*Claudia Amira é diretora-executiva da ABCD (Associação Brasileira de Crédito Digital)