Lições que os profissionais de TI podem ensinar para outras áreas

Do Manifesto Ágil à Transformação Digital: agilidade é o novo mindset para gerar mudança na cultura das empresas

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11:00 am - 20 de agosto de 2020

Houve um tempo em que o desenvolvimento tecnológico de uma empresa se limitava ao setor de Tecnologia da Informação. O uso de ferramentas da TI deixou de ser apenas um suporte técnico aos sistemas organizacionais. Isso ficou no passado. Aos poucos, as organizações foram percebendo que para melhorar seu desempenho, ganhar produtividade e otimizar resultados é preciso incorporar recursos tecnológicos através da transformação digital. 

Reestruturar processos implica em uma mudança disruptiva por parte das empresas. Além da pandemia do coronavírus – que acabou contribuindo para o reposicionamento de muitas organizações em relação à transformação digital -, o Manifesto Ágil, declaração de princípios que fundamentam o desenvolvimento ágil de software, lançado no ano 2000, impulsionou a construção de uma cultura organizacional que valoriza, cada vez mais, as pessoas como caminho para gerar resultados. 

Na verdade, o que a gente vê é a humanização na área de Tecnologia, a partir de quatro valores trazidos por esse manifesto. O primeiro é a interação entre as pessoas, ou seja, o foco não deve mais estar nas ferramentas e nos processos. Se as empresas querem gerar resultados ágeis, devem dar foco mais nas pessoas. O segundo valor fala da importância da funcionalidade, 70% do que era desenvolvido em nível de softwares não era utilizado, pois tornava-se obsoleto com o tempo. É preciso desenvolver produtos que atendam o consumidor. O terceiro valor tem ligação com o segundo. Refere-se à colaboração com o cliente, que deve ser visto como um parceiro e o quarto valor é a flexibilidade para a mudança, já que as coisas mudam numa velocidade absurda. Não adianta desenvolver algo para o longo prazo, muita coisa muda no meio do caminho.

Assim como as coisas mudam, o comportamento do consumidor muda, o mercado se transforma, os profissionais evoluem. Hoje, o jeito de se relacionar e gerar resultados não é mais o mesmo de algumas décadas. Porque a cultura das empresas está mudando… Mas, o que é a cultura de uma empresa? Na verdade, é um grande mindset, é a soma de diversos mindsets, porque para que ocorra a transformação digital é preciso, antes, que aconteça a transformação humana, de mentalidade e de comportamentos. 

O novo jeito de fazer as mesmas coisas

Quem veio mostrar uma nova mentalidade e um novo jeito de fazer negócio, são esses profissionais que entram no mercado com um propósito mais forte, de um mundo melhor, que criam startups e acabam mudando o universo corporativo. Segundo relatório do Bank of América, em 2025, os millenials serão 75% da força de trabalho no mercado mundial. Ou seja, não adianta insistir no modelo antigo se o mundo pede mudança. E para essa agilidade ser implementada em uma empresa, é preciso rever suas diretrizes, o conjunto de crenças, valores e hábitos. 

O ambiente profissional precisa ser mais colaborativo, não dá mais para pensar numa competitividade destrutiva se o objetivo é promover um clima mais leve, um profissional mais feliz, que resulta numa melhor performance. A mudança tem que vir das pessoas. E, para isso acontecer, há necessidade de desenvolver soft skills, ou seja, as habilidades não técnicas junto às equipes. 

Existem várias metodologias ágeis, muitas formas de gestão em que as pessoas são mais colaborativas, mas isso não quer dizer que o que funciona para uma determinada empresa também serve para outra; a cultura de cada uma deve ser respeitada. O que importa é a agilidade e não propriamente o método.  

A verdade é que não tem como trabalhar com agilidade se não houver uma mudança no comportamento humano. É preciso estar mais atento ao cliente, desenvolver empatia, se comunicar, colaborar. É tudo uma engrenagem. Assim, os profissionais ficam mais felizes, mais criativos, interagem mais e se ajudam. Aparecem iniciativas, proatividade e autonomia. Habilidades que antes não eram demandadas. Além disso, há quebra de egos visto que a gestão está cada vez mais horizontal, com mais protagonistas e um líder mais servidor. 

A forma de dar e receber um feedback também mudou. O jeito formal de avaliar o desempenho já não cabe mais. Hoje, todos dão e pedem feedbacks, para que todos cresçam, de maneira espontânea, genuína e constante. E, mais uma vez, o isolamento social permitiu que essa engrenagem evoluísse, pois agora é preciso desenvolver uma relação de confiança com todo o time, proporcionada por uma comunicação e relacionamentos saudáveis, com as pessoas se ajudando entre si. 

Assim como o profissional de TI vem buscando se reinventar para desenvolver novas habilidades, é importante que os profissionais de outras áreas procurem quebrar suas resistências para aprender com os profissionais de TI, o que antes era necessário apenas para esse público. Diante de tudo isso, é preciso se posicionar e desenvolver a habilidade de aprender a aprender, pondo em prática o lifelong learning (aprendizado ao longo da vida). Assim, a “transformação digital” é, antes de tudo, uma “transformação humana”.

*Susanne Anjos Andrade – Autora dos best-sellers “O Poder da Simplicidade no Mundo Ágil”, “O Segredo do Sucesso é Ser Humano”, e do livro digital “A Magia da Simplicidade”. É coach, palestrante e professora de cursos de MBA pela FIAP em disciplinas sobre carreira, coaching, liderança e gestão da mudança para a transformação digital. É Head de Soft Skills na NL Pro, e sócia-diretora da A&B Consultoria e Desenvolvimento Humano, empresa que criou o “Modelo Ágil Comportamental”. Voluntária no Grathi

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