Capacidade de gestão da TI – uso da visão baseada em recursos na gestão de sistemas de informação

Author Photo
7:00 pm - 05 de outubro de 2018

Quando em 1987 Robert Solow disse que vemos a TI em tudo, exceto nos indicadores de desempenho das empresas, ele despertou um debate sobre os possíveis elementos que intermediam a relação entre investimento em TI e o desempenho (lucratividade) da organização. Além disso, a falta de evidências empíricas da relação entre investimento em TI e desempenho organizacional foi também observado em pesquisas acadêmicas, o que levou a criação da expressão paradoxo da produtividade.

Uma das explicações para este paradoxo é a existência de um elemento interveniente da relação entre investimento em TI e desempenho organizacional e que não foi considerada em estudos anteriores. Surgiu assim, o conceito de capacidade de TI que é uma aplicação da RBV (resource based view theory) na gestão da TI. A capacidade de TI (ou capacidade de gestão da TI) é o elemento que explica como os investimentos em TI se transformam (ou não) em desempenho organizacional.

Proposto por Edith Penrose no final dos anos de 1950, a visão da empresa baseada em recursos (RBV – Resource Based View) traz uma explicação das relações causais entre os recursos, capacidades e vantagens competitivas. Segundo esta teoria, a criação de valor pela empresa não acontece devido a posse de recursos, mas sim na gestão de recursos que cria novas competências e oportunidades de inovação e crescimento. Para que um recurso seja considerado estratégico e capaz de criar algum tipo de vantagem para organização, ele deve ser valioso, raro, inimitável (difícil de imitar) e não substituível. Estes recursos assumem diferentes formas e podem ser classificados em diferentes taxonomias. Barney (1991) classifica os recursos em: físico, humano e capital organizacional. Já Grant (1991) os classifica em: financeiro, físico, humano, tecnológico, reputação e recursos organizacionais.

O uso da RBV como referencial teórico no estudo da gestão da TI foi inicialmente feito por Bharadwaj (2000) para estudar como a TI afeta o desempenho das empresas cunhando o termo capacidade de TI (ou capacidade de gestão da TI). Apesar de reconhecer, assim como Barney (1991), que existem diferentes tipos de recursos estratégicos, ela optou por utilizar apenas os recursos humanos em seu trabalho. Mais especificamente, ela usou a avaliação do CIO feita por profissionais de TI de outras empresas como indicador da capacidade de TI. Nas empresas com maior capacidade de TI, os indicadores financeiros analisados eram superiores aos das empresas com menor capacidade de TI.

Capacidade de TI pode ser definida como a capacidade de mobilizar e implantar recursos baseados em TI em combinação ou em coexistência com outros recursos e capacidades, e tem sido reconhecida por vários autores como um construto que liga a TI ao desempenho organizacional. No entanto, não há consenso entre os pesquisadores sobre as dimensões relacionadas ao construto da capacidade de TI. Várias dimensões podem descrever o conceito de capacidade de TI. Comento algumas delas, mas sem a pretensão de ser exaurir a discussão:

Dimensão 1 – Infraestrutura de TI: Embora a infraestrutura de TI não seja um fator direto de criação de valor para as empresas, ela influencia positivamente outras capacidades. Ela inclui hardware, redes, software de sistema e ferramentas de suporte e pode ser avaliada por indicadores como eficiência do link de rede, grau de transparência dos dados e grau de compatibilidade dos sistemas de processamento de dados.

Dimensão 2 – Capacidades da equipe de TI são uma outra importante dimensão da capacidade de TI, na medida que a criação de valor a partir da TI decorre do relacionamento e confiança gerados dentro da equipe de TI e entre a equipe de TI e outras áreas de negócio. Além disso, enquanto os ativos físicos e os recursos tangíveis podem ser replicados muito mais facilmente pelos concorrentes, a vantagem de longo prazo no mercado geralmente depende das habilidades das pessoas na organização.

Dimensão 3 – Valores e comportamento de TI: os valores e comportamento de TI ajudam na aquisição de competências críticas e o uso destas. Aqui estão elementos como integridade, formalidade, controle, transparência, compartilhamento e proatividade.

Dimensão 4 – Ativos intangíveis de TI: os ativos intangíveis de TI se dividem em três grandes categorias: (i) orientação ao cliente, (ii) ativos de conhecimento, e (iii) sinergia que leva a superação de limitações físicas, espaciais e temporais.

 

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.