Agilidade e diversidade: como esses temas se encontram?

Três perspectivas que demonstram como a diversidade é um fator importantíssimo para as organizações ágeis

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9:45 am - 25 de janeiro de 2022
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Agilidade se tornou um tema muito explorado por pessoas e organizações, principalmente com as incertezas e necessidade de rápida adaptação potencializadas pela pandemia da covid-19. Ágil, ou Agile em inglês, foi o termo utilizado na divulgação do chamado Manifesto Ágil, escrito em 2001 por 17 homens brancos, todos profissionais que tinham alguma relação com o desenvolvimento de software.

O Manifesto Ágil declara 4 frases, como por exemplo “responder às mudanças mais do que seguir um plano” e 12 princípios tais quais “Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente através da entrega contínua e adiantada de software com valor agregado” e “Simplicidade – a arte de maximizar a quantidade de trabalho não realizado – é essencial”.

Podemos definir agilidade como a capacidade de adaptação rápida para obtenção de vantagem competitiva através da entrega de valor iterativa e incremental em ciclos curtos. Sendo assim, uma empresa ágil é aquela que consegue estar atenta às necessidades dos seus clientes e dos seus negócios, e constrói uma capacidade interna de se adaptar às mudanças necessárias minimizando burocracia, desperdícios e desmotivação das pessoas.

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Portanto, velocidade é uma característica da agilidade, mas não é sinônimo. Quando falamos de agilidade somente com a expectativa de acelerar capacidade produtiva e aumentar a eficiência, cometemos um grande erro que é não se preocupar em usar essa capacidade produtiva para resolver os problemas mais importantes. Eficácia é palavra-chave nas empresas realmente ágeis.

Entendido o que é Agilidade, listo três perspectivas que demonstram como a diversidade é um fator importantíssimo para as organizações ágeis em seus negócios.

1. Diversidade para inovar e entregar o que seus clientes precisam

Times diversos, compostos por pessoas com características e trajetórias de vida diferentes, trazem olhares diferentes para a construção das experimentações. Antecipar riscos, fazer perguntas, contrapontos e sugerir caminhos que enriquecem a capacidade criativa coletiva. Como aponta Gary Hamel, grande acadêmico e consultor de estratégia e inovação, diversidade é fundamental. Não conseguiremos inovar sem pessoas com diferentes experiências de vida. É muito difícil conseguir uma boa decisão sem visões distintas.

No Brasil, esse cenário precisa mudar. Analisando as 464 empresas abertas negociadas na B3 em 2021, 334 (71,98%) não reportam nenhum tipo de diversidade de gênero ou de minorias – como a porcentagem de funcionários ou da alta liderança. Pelos relatórios de mercado feitos percebe-se que a proporção de mulheres em conselhos vem aumentando, porém a menor porcentagem de informações reportadas são as relacionadas às demais minorias na gestão (étnico-racial). Temos muito ainda o que evoluir.

2. Somos responsáveis pela evolução da tecnologia

A evolução da tecnologia tem nos levado a contrastes muito fortes sobre quem é servido por ela. Temos saboneteiras com sensor que não liberam sabão na mão de pessoas negras. Temos casos na indústria de cosméticos com diferenças significativas dos resultados dos seus produtos em peles diferentes da pele branca.

Temos carros autônomos com maior probabilidade de atropelar pessoas negras, temos 90,5% das pessoas presas por reconhecimento facial no Brasil sendo negras, além de algoritmos e redes neurais de inteligência artificial propagando nossos vieses e causando danos irreversíveis à nossa sociedade. Enquanto cada um de nós não se preocupar com a falta de diversidade nos ambientes criativos e de desenvolvimento de soluções para a nossa sociedade, seremos cúmplices de situações como essas.

3. Precisamos gerar ambientes que viabilizem o potencial humano

Ambientes diversos proporcionam mais autenticidade às pessoas, gerando ambientes mais seguros para se expressarem e assim contribuírem nos desafios da organização. Um estudo do World Economic Forum mostra que cerca de 75% da força de trabalho mundial será composta por millennials até 2025 e, de acordo com dados de 2018, 3 em cada 4 millennials acreditam que a diversidade é essencial para a inovação das empresas.

Temos visto cada vez mais empreendimentos no Brasil e muitos deles crescendo com potencial e resultados impressionantes. Nos tornamos a terra de unicórnios. Despontamos nas fintechs e temos visto uma onda forte e crescente de empresas inovadoras nos ramos de seguro, saúde, educação e agricultura. As techs são os novos polos de desenvolvimento profissional preferido por grande parte da força trabalhadora do mundo digital. Precisamos investir em capacitação e acolhimento dos mais diversos perfis para compor nossas equipes e ampliar nossa capacidade produtiva.

Para isso, se faz necessário trazer e formar essas pessoas que não se mostram aptas imediatamente a concorrer pelas vagas do mundo tech. Só assim as empresas terão sua força humana de trabalho disponível para seu crescimento. E, mais importante, para que consigamos promover uma ação social essencial para a diminuição das desigualdades do nosso país. É o certo a ser feito, e todos nós podemos – e devemos – contribuir.

* Mariana Zaparolli é expert em agilidade da Bain & Company, além de mstre em ciência da computação pela IME/USP

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