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‘OT não acompanhou a evolução de cibercriminosos’, diz Edgard Capdevielle

Enquanto o mundo de TI lida há anos com a evolução de ciberataques em seus sistemas, essa não era uma rotina para as áreas que usam tecnologia operacional, ou OT (Operations Technology). Mas, a chegada do ransomware e do bitcoin mudaram esse cenário.

Em entrevista exclusiva ao IT Forum, Edgard Capdevielle, CEO da Nozomi, explica que também há um déficit orçamentário se comparado a outras áreas da empresa. “Em um cenário ideal, uma empresa teria, por exemplo, comprado um firewall por X valor. No próximo ano, o orçamento pode ter crescido 5% e será possível gastar um pouco mais com a segurança. Mas, se a companhia não gasta nada em segurança de OT, é preciso começar do zero no investimento.”

Confira os melhores momentos do bate-papo:

IT Forum: Quais são os desafios de cibersegurança em OT?

Edgard Capdevielle: Nós temos muitos desafios. O principal desafio é o legado do OT. Os cibercriminosos e a área de TI estão evoluindo juntos há muito tempo. Desde o começo, você tem atacantes e defensores, e isso cria uma evolução. OT não fazia parte desse jogo, porque não era atacado. Antes, isso acontecia porque ninguém tinha incentivo para atacar o OT.

Agora, o ransomware e o bitcoin mudou a perspectiva. Qualquer empresa que esteja conectada é monetizável. O hacker não precisa buscar dinheiro ou credenciais em TI, como fazia antes. A indústria tinha a percepção de que o OT poderia ser desconectado e esse é um dos principais problemas. Além disso, as redes não eram compatíveis com IPs ou TCPs, criando uma barreira tecnológica contra ataques. Mas, nas últimas décadas, a maior parte dos controles de rede da indústria foi adaptada para IP ou TCP, ainda que com muitas falhas.

Então, é muito difícil. Manter a disciplina de ter uma rede confiável funciona apenas em verticais como instalações nucleares e sites de tecnologia militar. Dessa forma, o OT entra nesse jogo de atacantes e defensores que foram evoluindo juntos sem necessariamente ter a evolução e isso gera outros problemas.

Um deles é: você tem os melhores atacantes do mundo, atacando os mais vulneráveis ​​do mundo e que nunca se prepararam para um ataque. Além disso, há um problema orçamentário. Em um cenário ideal, uma empresa teria, por exemplo, comprado um firewall por X valor. No próximo ano, o orçamento pode ter crescido 5% e será possível gastar um pouco mais com a segurança. Mas, se a companhia não gasta nada em segurança de OT, é preciso começar do zero no investimento.

IT Forum: Com o 5G, esses desafios aumentarão?

Edgard Capdevielle: Com certeza. A tecnologia sem fio está dominando o mundo e os telefones agora grandes canais de dados. A internet sem fio criou os problemas e oportunidades de BYOD. Mas eles ainda não penetraram no OT. Eu acredito que o 5G vai mudar isso porque tem todos os requisitos de banda larga e latência e garante as perspectivas de que OT precisa. Por isso, eu acho que expandirá de forma muito significativa a superfície de ataque do OT.

IT Forum: Você acredita que alguma vertical será mais atingida?

Edgard Capdevielle: Eu acredito que manufatura terá dificuldades. Mas teremos também outras importantes áreas adotando o 5G, como a indústria de eletricidade. Hoje, as subestações são muito distantes e é difícil de confiar no Wi-Fi tradicional, então o 5G trará novas oportunidades. Conforme você expande, por exemplo, uma fábrica que possui um sistema de controle mais antigo, poderá adicionar uma nova tecnologia de controle via 5G.

IT Forum: Falando sobre a Nozomi, qual o balanço do ano de 2022?

Edgard Capdevielle: Estamos muito felizes, pois crescemos bastante. Este ano nosso crescimento foi muito substancial mesmo com o mundo passando por um período de recessão inflacionária. Então estamos muito felizes com o nosso crescimento. Acho que é normal que a área de cibersegurança não seja muito afetada pela recessão, mas o fato de não só não termos sido afetadas por ela, mas continuarmos crescendo, nos deixa felizes.

Nosso ecossistema cresceu de forma bastante significativa. Expandimos o número de parceiros globalmente e regionalmente.

IT Forum: Vocês trabalham 100% com canais parceiros?

Edgard Capdevielle: Cerca de 80% de nossos negócios em todo o mundo são entregues por meio de canais. Gostaríamos que fosse 100%, mas alguns clientes exigem que tratemos deles diretamente. No Brasil e na América do Sul, os principais negócios são através de canal.

IT Forum: E quais são os planos para o próximo ano?

Edgard Capdevielle: Vamos apresentar novos produtos que permitirão uma adoção mais rápida da OT. Acredito que o número de ataques continua aumentando e as pessoas não conseguem implementar soluções com rapidez suficiente. Portanto, vamos criar produtos adicionais ou componentes de produtos que permitem uma implantação mais rápida de soluções Nozomi.

Por exemplo, tem muito cliente que tem dezenas ou centenas de instalações novas e ele demora um pouco para identificar ou dimensionar o que precisa. Portanto, queremos garantir que esses lançamentos aconteçam cada vez mais rápido.

IT Forum: Quão importante o Brasil é em uma perspectiva global?

Edgard Capdevielle: O Brasil é muito importante. É uma das maiores economias e que mais crescem, impulsionando também a automação e a transformação digital. Além disso, as empresas brasileiras são mais vulneráveis a ataques.

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