Google Cloud: ‘Nosso jogo não é o da infraestrutura’

Na disputa entre os três maiores provedores de serviços de nuvem do mundo, o Google Cloud permanece há anos na terceira posição. Dados da Synergy Research Group, empresa de pesquisa do mercado de TI, apontam que o Google respondeu por uma fatia de 10% do mercado global de serviços de nuvem no segundo trimestre deste ano.

O percentual representa um aumento em relação aos anos anteriores, quando a companhia registrou participações de 8% (2020) e 9% (2021) no mercado global de serviços de nuvem. Mas a verdade é que a empresa ainda está bem distante dos principais rivais do setor: Amazon Web Services e Microsoft Azure registraram, respectivamente, 34% e 21% de market share no segundo trimestre deste ano.

Para Marco Bravo, líder do Google Cloud no Brasil, no entanto, a estratégia da empresa não é a briga por volume. “O nosso jogo não é o da infraestrutura”, disse o executivo em entrevista recente ao IT Forum, falando sobre os negócios atuais da empresa e sua estratégia junto ao segmento financeiro – um dos que mais se transformou através da nuvem nos últimos anos.

Segundo Bravo, a estratégia seguida pelo Google Cloud é a desenhada por Thomas Kurian, CEO da empresa desde 2019. Na visão de Kurian, o Google aposta em uma abordagem multi-cloud para o mercado, baseada em ofertas que tiram proveito de suas expertises, como a análise de dados. “A gente está entrando na era do multi-cloud. É o que a gente chama de o ‘omnicloud’; Não interessa onde o serviço está, ele tem que ser tratado da mesma forma e estar integrado ao portfólio do cliente de uma forma transparente”, explicou Bravo.

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Para navegar por esse cenário, o Google Cloud investiu em uma arquitetura preparada para suportar as demandas multi-cloud de clientes. Exemplo disso, cita o executivo, é a plataforma de modernização de aplicativos Anthos, construída no Kubernetes, tecnologia de código aberto do Google. Com ela, clientes têm um plano de controle de gerenciamento unificado para implantações local, híbrida ou multi-cloud para visualizar o que está acontecendo nos ambientes. “Através disso, você consegue construir aplicações para a nuvem em que parte roda na AWS, parte roda na Microsoft Azure, e parte no Google Cloud”, destacou Bravo.

Um dos exemplos dessa abordagem, conta o executivo, é o negócio da empresa junto ao setor financeiro, um dos segmentos da indústria que mais têm trabalhado em jornadas de nuvem nos últimos anos. Em abril, o Google Cloud realizou, em parceria com a R/GA, o estudo FinFacts, focado em entender como acontece o processo de compra de um produto e serviço financeiro nas plataformas digitais das principais instituições financeiras que operam no Brasil.

Entre os achados, está o fato de que 40% das empresas analisadas apresentaram dificuldades no upload de documentos para o processo de abertura de conta corrente, devido a fatores como lentidão do sistema e formulários extensos. Além disso, mais de 70% das instituições não dão continuidade ao processo de abertura de conta corrente entre dispositivos.

Mais de 60% tiveram uma avaliação ruim da experiência com chatbot e apenas 16% permitem usar o comando de voz. Isso é uma oportunidade vista pelo Google Cloud.

“O que é melhor: eu focar no cliente para ele sair da nuvem da AWS ou Microsoft para fazer, com a gente, a mesma coisa que já faz, ou de fato inovar – criar um chatbot mais sólido com experiência melhor para o cliente, ou melhorar a prevenção à lavagem de dinheiro, ou melhorar a geração de reports?”, pontuou o executivo do Google Cloud. “Então, toda nossa estratégia de go to market está focada em pegar casos de uso que a indústria financeira tem e ir atrás de resolver. Se, por conta disso, fizer sentido o cliente migrar para nossa infraestrutura, vamos. Ma o driver não é a migração”, completou.

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Exemplo disso é projeto do Google Cloud junto ao Banco Votorantim. Em 2021, as duas empresas anunciaram uma parceria que levaria à migração de ativos do banco para a nuvem do Google, incluindo transações e operações críticas. No começo deste ano, uma nova parceria foi fechada: através dela, o Google trabalharia com o uso intensivo de inteligência de dados para ajudar o banco a criar novos produtos, aprimorar suas plataformas e expandir seu modelo de ciência de dados.

Não brigar pelo jogo da infraestrutura, no entanto, não significa que a empresa tenha deixado de lado planos de expansão. Em junho, a companhia anunciou que investiu R$ 1,6 bilhão desde 2017 em infraestrutura no Brasil. Esses investimentos envolvem a região de nuvem de São Paulo, inaugurada em 2017, e os cabos submarinos com passagens pelo Brasil: Júnior – Rio de Janeiro a São Paulo; Tannat, Santos a Maldonado, no Uruguai; e Monet, Boca Raton, na Flórida, a Santos, passando por Fortaleza.

No mesmo mês, o Google anunciou um novo investimento de US$ 1,2 bilhão para os próximos cinco anos na América Latina. Este valor compreende, entre outras ações, a construção do cabo submarino Firmina, que vai da costa leste dos Estados Unidos para Las Toninas, na Argentina, com estações de pouso na Praia Grande (Brasil) e Punta Del Este (Uruguai). O cabo submarino tem previsão para entrar em operação em 2023.

Também parte destes investimentos, o Google Cloud anunciou uma nova região de nuvem na América Latina, no México. Quando for inaugurada, a América Latina passará a ter três regiões de nuvem. Não há novos planos específicos sobre infraestrutura para o Brasil, no entanto. “Nossa região de Brasil, nós continuamos expandindo conforme a demanda. Mas isso é planejamento, não temos nada de novo nesse momento”, disse Bravo.

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