GITEX 2024, em Dubai: 9 perspectivas do presente e do futuro tecnológico

Como podemos aplicar esses conhecimentos por aqui no Brasil? Focando em inovação

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6:00 pm - 25 de outubro de 2024
GITEX 2024. Foto: Marcon Censoni A. Lima

De 14 a 18 de outubro, participei da Gulf Information Technology Exhibition (GITEX), em Dubai. Lá me deparei com uma explosão de criatividade, inovação e descobertas tecnológicas.

A feira reuniu mais de 100 mil visitantes, e 6 mil expositores de todo o mundo, consolidando-se como um dos maiores eventos globais de tecnologia. Dubai, com sua infraestrutura futurista, trânsito caótico e temperaturas desafiadoras, foi o palco ideal para um evento que apresentou o futuro da tecnologia. Acompanhe comigo as grandes perspectivas tecnológicas apresentadas lá.

1. África, Ásia e Oriente Médio: protagonistas do futuro

Essas três regiões têm um papel fundamental no futuro econômico e demográfico global. A África, com uma população de aproximadamente 1,45 bilhão de pessoas, está em uma fase de crescimento populacional acelerado. Seu PIB de US$ 2,98 trilhões reflete um potencial econômico enorme, especialmente em setores como mineração, energia e tecnologia financeira.

Países como Nigéria, África do Sul e Egito lideram a digitalização no continente, com um foco crescente em inovação.

Ásia, com seus 4,74 bilhões de habitantes e um PIB de US$ 42 trilhões, estão localizadas algumas das maiores potências econômicas do mundo, como China, Japão e Índia.

O Oriente Médio, com sua população de 460 milhões e PIB de US$ 3,5 trilhões, tem economias impulsionadas pelo petróleo e gás, mas países como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos estão investindo fortemente em diversificação econômica, buscando alternativas sustentáveis em turismo, tecnologia e finanças.

2. A tecnologia encontra o futuro

A GITEX é mais que uma feira de tecnologia. Ela é o ponto de encontro global para as inovações que vão moldar o futuro.

Várias Big Techs marcaram presença, incluindo empresas como Amazon, Google, Microsoft, Oracle, Nvidia e AMD. O evento deste ano focou em tendências como inteligência artificial (IA), transformação digital, big data e tecnologias disruptivas que impactam setores essenciais como saúde, educação, cidades e finanças.

Com uma média de 20 mil visitantes diários, a GITEX foi um verdadeiro hub para startups e grandes corporações de tecnologia, que marcaram presença com inovações de ponta. Um dos maiores destaques foi o novo chip Blackwell da Nvidia, projetado para IA.

Este chip, que pode processar grandes volumes de dados localmente, traz uma revolução na interatividade entre usuários e dispositivos, sem depender diretamente de conexão à internet.

Sua capacidade de realizar cálculos avançados 30 vezes mais rápido do que os modelos anteriores prometem mudar o futuro da IA.

3. IA e a democratização da inovação

Um dos painéis mais inspiradores foi o “AI for Good”, que trouxe discussões sobre como a IA pode ser usada para melhorar a vida das pessoas em larga escala.

Especialistas de organizações como World Information Technology and Services Alliance (WITSA) e International Telecommunication Union (ITU) exploraram soluções que utilizam a IA para democratizar o acesso à saúde, educação e outros recursos fundamentais.

O WITSA é uma organização global que representa a indústria de tecnologia da informação e comunicação, com membros de mais de 80 países. Ela promove a transformação digital, políticas públicas favoráveis à inovação e a cooperação internacional no setor de TI.

Já o ITU é uma agência especializada da ONU responsável por questões relacionadas às tecnologias da informação e comunicação (TICs). A ITU define padrões globais, gerencia o espectro de rádio e busca expandir o acesso a tecnologias digitais em todo o mundo.

O destaque foi para a necessidade de capacitar professores e alunos no uso ético e responsável dessas novas tecnologias, em vez de restringir o acesso.

4. Cibersegurança em foco

A cibersegurança foi um dos temas centrais na GITEX 2024. Em um mundo cada vez mais conectado, proteger dados digitais se tornou uma prioridade para as empresas, que estão investindo pesadamente em IA para prevenir ataques cibernéticos. Apresentações de especialistas mostraram como a integração de IA pode transformar a maneira como lidamos com segurança empresarial, destacando os desafios que acompanham a transformação digital.

5. Robótica e IA no varejo

Outro grande destaque foi a robótica avançada, com empresas apresentando soluções que combinam IA e robótica para otimizar o atendimento ao cliente e melhorar a eficiência no controle de estoque. Durante o painel “Robótica e Automação no Varejo”, foi demonstrado como essas tecnologias estão moldando o futuro das compras, personalizando a experiência do consumidor e tornando as operações mais rápidas e precisas.

6. 5G e IoT na saúde

O impacto da conectividade 5G e da Internet das Coisas (IoT) no setor de saúde foi uma das áreas mais promissoras abordadas na GITEX 2024. Desde dispositivos médicos conectados até o monitoramento remoto de pacientes, essas tecnologias estão revolucionando o cuidado médico, permitindo diagnósticos mais rápidos e precisos, além de melhorar a qualidade do atendimento e experiência dos pacientes.

7. Hospital da Samsung com 2 mil leitos lidera inovação

O futuro da saúde digital está em uma integração completa dessas tecnologias, promovendo um novo patamar de eficiência.

8. Sustentabilidade e energia verde

A GITEX 2024 também espaço à sustentabilidade, com foco em tecnologias verdes e soluções energéticas eficientes. Empresas como Matrix Power apresentaram inovações que ajudam a reduzir o consumo energético em data centers, impulsionadas pelo crescente uso de IA, que requer grandes quantidades de energia para processamento de dados. O compromisso com a sustentabilidade está transformando indústrias e criando um impacto positivo no meio ambiente.

9. Experiência imersiva

Além das palestras e exposições, a GITEX 2024 ofereceu uma experiência imersiva com demonstrações ao vivo de inovações em IA, workshops interativos e estandes que pareciam ter saído de um filme de ficção científica.

O impacto visual e tecnológico fez com que todos os presentes se sentissem verdadeiramente imersos no futuro.
A cidade de Dubai, com sua arquitetura arrojada e ambiente vibrante, reforçou ainda mais a sensação de que o futuro já está acontecendo agora.

O que vem agora?

Já não se trata de essas tecnologias serem factíveis; elas já estão implementadas em vários locais e já atingimos o “no return point” na sua utilização. O que não sabemos ainda é como a sociedade equilibrará seu uso nos diversos pontos. Estamos longe desse futuro? Não estamos longe, inclusive alguns brasileiros já têm, na prática, o início do uso de IA e Copilot no processo decisório. Peças jurídicas já contam com análises de IA.

Como podemos aplicar esses conhecimentos por aqui no Brasil? Focando em inovação. É crucial entender que a implementação das tecnologias vistas na GITEX 2024 no Brasil demanda uma análise detalhada sobre o cenário atual e as possibilidades de adaptação.

O país, apesar de ser um dos maiores mercados emergentes do mundo, apresenta uma série de desafios estruturais que limitam a adoção rápida de inovações tecnológicas. Temos disparidades regionais significativas no acesso à infraestrutura tecnológica. Redes de alta velocidade, como o 5G, fundamentais para soluções de IoT/IOMT e IA, estão em fase inicial de implementação e, em muitos casos, restritas a grandes centros urbanos.

As áreas rurais e periferias enfrentam uma grande lacuna de conectividade, o que limita o alcance de inovações que dependem de internet estável. Além disso, a escassez de mão de obra especializada para operar, manter e desenvolver soluções baseadas em IA e big data é um problema latente no mercado brasileiro.

Por outro lado, há um grande potencial para transformação digital em setores essenciais, como saúde, educação e varejo. A telemedicina no Brasil, por exemplo, teve uma aceleração significativa durante a pandemia de COVID-19, o que abre espaço para a implementação de tecnologias avançadas como IoT e dispositivos de monitoramento remoto.

Esse movimento também pode ser impulsionado por uma parceria público-privada, onde empresas de tecnologia e o governo trabalham em conjunto para melhorar o acesso e a eficiência dos serviços. No setor de saúde, a introdução de dispositivos conectados ao 5G para monitoramento remoto de pacientes e a implementação de inteligência artificial em diagnósticos e suporte à decisão podem otimizar drasticamente os custos e melhorar a qualidade do atendimento.

O Brasil tem um mercado consumidor altamente adaptável a novas tecnologias. A penetração de smartphones é alta, e as redes sociais têm forte influência, criando uma cultura propensa à inovação digital. As grandes empresas de tecnologia já enxergam o Brasil como um mercado-chave, com nomes como Google, Amazon e Microsoft investindo em centros de inovação e parcerias locais. No entanto, o sucesso dessas implementações dependerá de uma estratégia escalonada, onde a infraestrutura tecnológica e a qualificação da mão de obra precisam caminhar lado a lado com o desenvolvimento de novas soluções.

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Marcon Censoni A. Lima

Médico cirurgião do aparelho digestivo há 26 anos, com MBA gestão executiva em Saúde – Ensino hospital israelita Albert Einstein, chefe do serviço Medicina Hospitalar e Internistas no AC Camargo Câncer Center e consultor especialista em Transformação digital – Digital Health.

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