Desvendando a fraude bancária: uma chamada à ação para apoiar as vítimas e combater o crime

Talvez ainda não seja possível eliminar completamente golpes e fraudes, mas já é possível causar um grande impacto

Author Photo
8:45 am - 13 de agosto de 2024
Imagem: Shutterstock

Fraudadores não escolhem suas vítimas de forma totalmente aleatória. Antes de abordar alguém, eles realizam uma pesquisa minuciosa para identificar suas vítimas, principalmente online – em plataformas de namoro, redes sociais e aplicativos de mensagens. No caso de esquemas românticos, o próximo passo é ganhar a confiança da pessoa, levando a vítima a se apaixonar rapidamente (ação conhecida como “love bombing”) e, geralmente, criando uma dependência emocional, isolando o parceiro romântico de amigos e familiares.

Durante esse processo, os golpistas frequentemente procuram oportunidades para aumentar a pressão e o medo, induzindo a vítima a acreditar que está perdendo uma oportunidade única. Eventualmente, criam uma crise para solicitar apoio financeiro ou resgate.

Leia também: Arklok cresce com estratégia de regionalização e aposta no mercado de telecom

Esse ciclo se repete até que a vítima esteja completamente esgotada, tanto emocional quanto financeiramente. Então, os fraudadores desaparecem, deixando a outra pessoa sem entender muito bem o que aconteceu e o que precisa ser feito a partir de agora. Eles não se preocupam com a vítima como indivíduo – seu único interesse é em seus próprios ganhos financeiros.

Com base na minha própria experiência e no meu trabalho como Fraud Advocate da BioCatch, sei que muitos golpes podem ser prevenidos. Um dos caminhos para isso é identificar e predizer quais as contas laranja, as que receberão o dinheiro da fraude – afinal, ele precisa ser movimentado para algum lugar. Atualmente, sabemos que é possível identificar essas contas antes mesmo das transações serem realizadas, o que poderá salvar muitas vítimas.

Também é fundamental aumentar a conscientização sobre fraudes, fornecendo mais educação a toda a sociedade sobre como reconhecê-las. É crucial que bancos e governos cooperem mais estreitamente nesse sentido. Atualmente, apenas 7% de todos os casos de fraude no mundo são relatados, e estou empenhada em aumentar esse número. Espero que, ao falar mais sobre o assunto, possamos reduzir o estigma associado a elas. A fraude não afeta apenas os indivíduos, mas todas as camadas da nossa sociedade, incluindo empresas, organizações governamentais e pessoas de todos os setores.

Embora não seja possível eliminar completamente golpes e fraudes, podemos causar um grande impacto. Meu objetivo é envolver mais vítimas na discussão sobre a mudança de políticas, sistemas, processos, leis e regulamentos; unidos, podemos ter um impacto muito maior. Na maioria das vezes, as organizações que deveriam apoiar as vítimas de fraude não estão preparadas para lidar com essas pessoas quando entram em contato e fazem seu relato.

E falo de organizações, mas mesmo pessoas individuais precisam estar preparadas para apoiar, sem que isso cause desconforto e desconfiança. Quando relatei minha experiência de como fui fraudada, não recebi ajuda de nenhuma organização e poucas foram as pessoas que ofereciam algum apoio; quase sempre eu era confrontada que havia voluntariamente dado o dinheiro. Eu não fui levada a sério. E essa responsabilidade não deve recair apenas sobre os bancos; acredito que os governos também têm um papel fundamental nisso.

Deveria ser obrigatório que bancos, empresas e governos tivessem centros de atendimento específicos para vítimas de fraudes e golpes, e que os funcionários recebessem treinamento sobre como abordar e orientar as vítimas, pois ainda há muito pouca compreensão sobre esse assunto.

Infelizmente, em todo o mundo, há uma tendência arraigada de culpar as vítimas – seja de golpes e fraudes financeiras ou não -, como se fosse “culpa delas”. “Você transferiu o dinheiro sozinha, você assinou os papéis sozinha, você convidou a pessoa para sua casa sozinha”. Precisamos urgentemente acabar com esse estigma! As vítimas de fraudes merecem receber o mesmo apoio, compreensão e orientação que as vítimas de qualquer outro crime, em todos os níveis.

Ao culpá-las, estamos permitindo que os criminosos vençam. Devemos ouvir as pessoas, demonstrar empatia e encontrar soluções juntos. É fundamental que empresas e organizações em todos os níveis tenham planos de ação para prevenir fraudes e que incluam também um sistema de apoio para as vítimas reais, não apenas focando na prevenção, mas também no suporte pós-fraude.

Golpes podem atingir qualquer um de nós. Eu senti na pele e ficou dolorosamente claro que qualquer pessoa pode ser vítima. O golpe certo apenas precisa encontrar a pessoa certa, no momento certo. Culpar os criminosos, e não as vítimas, é o primeiro passo para que encerremos esse ciclo.

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

Author Photo
Ayleen Charlotte

Ayleen Charlotte, uma vítima transformada em heroína anti-fraude, ganhou destaque internacional ao compartilhar sua experiência no documentário ‘O Golpista do Tinder’ da Netflix. Defraudada em US$ 140.000 pelo então namorado, que ficou conhecido como o Golpista do Tinder, ela se tornou uma voz líder contra fraudes e golpes online, recebendo reconhecimento como Pessoa do Ano na Luta Contra Golpes em 2023. Determinada a quebrar o estigma em torno da fraude, Ayleen, que é Fraud Advocate da BioCatch, educa agências governamentais, bancos e empresas sobre a importância da prevenção de fraudes, enquanto oferece apoio e inspiração para outras vítimas.

Author Photo

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.