Data centers: é possível equilibrar práticas sustentáveis com o aumento da demanda energética?

Executivos afirmam que o equilíbrio entre o avanço tecnológico e a preservação do planeta é essencial

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1:49 pm - 05 de junho de 2024
Victor Arnaud, presidente da Equinix no Brasil, Cassandra Garber, Vice President, Sustainability & ESG, Dell Technologies e Meaghan Krohn, Lead Climate Strategist, Sustainability & ESG, Dell Technologies. Imagens: divulgação.

Por trás do avanço em Inteligência Artificial, mineração de criptomoedas e outras novas tecnologias, estão os data centers para comportar todas as informações. Segundo o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), o avanço dessas tecnologias pode ser responsável por dobrar o consumo dos data centers até 2026. 

Em um data center da Equinix na região metropolitana de São Paulo, visitado pelo IT Forum, é necessária uma subestação própria para atender a demanda energética vinculada ao processamento de dados, já que somente ele pode consumir a mesma energia de uma cidade de mais de 30 mil habitantes. 

Somados apenas os data centers de grande porte em operação no Brasil, o consumo de energia seria quase o de um estado pequeno. 

Mas como pensar em sustentabilidade com esse consumo exacerbado de energia? Para discutir essa questão, o IT Forum entrevistou Victor Arnaud, presidente da Equinix para o Brasil. 

Leia também: Indústria de data centers priorizará IA e sustentabilidade em 2024 

Segundo o executivo, ESG não é um tema novo para a empresa, já que desde 2015, a Equinix tem um relatório do tema, em que estruturam práticas que impactam tanto o funcionamento quanto a construção dos data centers. “Pensamos em sustentabilidade desde a concepção do design do data center”, afirmou Arnaud. 

Arnaud mencionou que a Equinix firma acordos de longo prazo para fornecimento de energia com empresas de geração de energia eólica e solar, garantindo uma matriz energética mais limpa, mesmo em países com uma alta dependência de fontes fósseis. “Isso assegura que estamos limpando a matriz energética e indo na direção certa”, afirmou. No Brasil, a preocupação se estende à origem da energia, preferindo fontes eólicas e solares, menos impactantes ao meio ambiente comparadas às hidrelétricas. 

Entretanto, a crescente adoção de IA, como observou o executivo, está gerando mais dados, demandando maior capacidade computacional e densidade energética. Isso traz o desafio de fornecer energia renovável e eficiente, além de garantir a refrigeração adequada dos servidores. 

Por isso, além da preocupação com energia limpa, a refrigeração líquida e outras evoluíram, permitindo uma maior eficiência energética. “Hoje é possível ser mais eficiente e sustentável dependendo do objetivo e da localização do data center, considerando variações de temperatura e outros fatores ambientais”, explicou o CEO.  

Um exemplo é o sistema de free cooling, que utiliza a diferença de temperatura entre o ambiente interno e externo para resfriar os data centers. Esse método aproveita a temperatura externa, quando suficientemente fria, para resfriar o ambiente, filtrando o ar externo sem necessidade de usar energia elétrica para condicionamento do ar. O sistema é automatizado, ajustando-se conforme a temperatura do ar, reduzindo o consumo de energia e promovendo um resfriamento mais sustentável e econômico. 

O executivo também citou a tecnologia de resfriamento líquido, que apresenta uma alternativa mais eficiente ao resfriamento por ar, capaz de transferir até 3.000 vezes mais calor e demandar menos energia, conforme dados do Gartner.  

Esse método permite que as empresas operem suas infraestruturas de TI com densidades mais altas de energia, obtendo um desempenho mais eficiente. 

Infraestrutura e sustentabilidade

No último ano, houve um aumento de 25% na construção de data centers nos Estados Unidos. Em entrevista, Cassandra Garber, vice president, sustainability & ESG e Meaghan Krohn, lead climate strategist, sustainability & ESG, ambas da Dell Technologies, falaram sobre a importância da sustentabilidade em toda a concepção dos projeto. 

Megan explicou que a empresa está focada em três frentes principais: hardware, software e o tratamento de fim de vida útil da infraestrutura. “Todos os desenvolvimentos que estamos trabalhando com nossos parceiros são para fazer equipamentos de servidor, armazenamento e rede tão eficientes e sustentáveis quanto possível”, disse. Ela destacou a importância do uso de software para fornecer dados em tempo real sobre o consumo de energia e otimizar o desempenho dos servidores, o que garante o controle de todo o processo. 

Além do hardware e software, ela ressaltou a importância da reforma e reciclagem dos equipamentos para garantir que o mínimo possível vá para o lixo. “Nosso modelo de negócios como serviço nos permite trabalhar muito de perto com o cliente para garantir que cada projeto seja o mais apropriado possível para suas necessidades”, explicou. 

Cassandra destacou que o consumo de energia dos data centers é uma preocupação crescente. “Todos estamos pensando sobre esse consumo de energia, porque é enorme, é uma grande questão, claro, então temos que resolver isso. Mas há outras questões de sustentabilidade que ainda são exacerbadas”, afirmou. Ela mencionou a importância de materiais sustentáveis e do design circular para garantir a renovação tecnológica sem aumentar os resíduos. 

Segundo elas, a Dell está ativamente envolvida na promoção do uso de energia renovável. Megan apontou que a eletricidade utilizada para alimentar os data centers é crucial. “Podemos tornar nossos produtos tão eficientes e verdes quanto quisermos, mas se você os conectar à rede elétrica, e estiver consumindo eletricidade da rede, e a rede for alimentada por energia não renovável, haverá uma pegada de emissões maior associada ao uso desse produto”, observou. 

Por isso, as executivas reforçaram a importância de conectar clientes com provedores que utilizam energia renovável e incentivar parcerias que priorizem a sustentabilidade. “Trabalhamos com nossos fornecedores para garantir que nossa voz seja ouvida e que estamos defendendo políticas que podem expandir a implantação de energia renovável ao redor do mundo”, afirmou Megan. 

Apesar dos esforços, a grande demanda por capacidade de inteligência artificial (IA) e a pressão intensa para reduzir o consumo de energia, os custos e as emissões de gases de efeito estufa continuam a representar um desafio. O equilíbrio entre o avanço tecnológico e a preservação do planeta é essencial, e as soluções precisam garantir que o progresso não comprometa a sustentabilidade. 

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Pamela Sousa

Repórter no IT Forum, é graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria, RS. Com 2 anos de experiência em produção de conteúdo, concentra-se na elaboração de reportagens e artigos jornalísticos.

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