Com nova CPU, Qualcomm dá mais um passo no mercado de PCs

Ainda que a plataforma móvel Snapdragon 8 Gen 2 tenha sido o centro das atenções durante a convenção Snapdragon Summit, que aconteceu nesta semana em Maui, no Havaí, a Qualcomm fez questão de deixar claro que suas ambições para o mercado de PCs continuam vivas.

Na última quarta-feira (16), a companhia revelou o nome de sua aguardada nova CPU customizada baseada em Arm: a Oryon. “Oryon é a primeira parte de uma jornada. É uma CPU que vai revolucionar a indústria com performance rápida, poderosa e eficiente para uma nova era de PCs Windows de topo de linha”, pontuou Gerrard Williams, vice-presidente sênior de engenharia da Qualcomm.

Segundo o executivo, a CPU Oryon terá um “papel chave” no roteiro de tecnologia da Qualcomm, e estará alimentando também suas plataformas de realidade expandida e mobile, além de Snapdragons para PCs. A CPU Oryon também está “encaminhada” para chegar nas mãos dos consumidores ainda em 2023, completou Williams.

A nova CPU revelada pela Qualcomm é resultado da aquisição da startup de chips Nuvia pela gigante de San Diego, confirmada em janeiro de 2021 pelo equivalente a US$ 1,4 bilhão. Baseada em Santa Clara, a Nuvia foi fundada por ex-engenheiros da Apple, incluindo responsáveis pelos chips móveis da série A, que estão em iPhones. Os chips da série A são considerados as bases que levaram à Apple aos poderosos processadores da série M, que estão hoje em computadores Mac.

Inteligência artificial embarcada

Detalhes sobre o Oryon ainda não foram divulgados, mas uma coisa é certa: a CPU deverá alavancar capacidades de inteligência artificial nas quais a Qualcomm tem investido, seguindo os mesmos passos de seu chipset móvel Snapdragon 8 Gen 2. Ao IT Forum, Kedar Kondap, vice-presidente sênior e diretor geral de computação da Qualcomm Technologies, afirmou que a Qualcomm enxerga uma “convergência” entre os mundos desktop e mobile e que a IA será parte importante deste processo.

“Pense em como a IA pode tornar os PCs muito mais inteligentes: há tantas maneiras de gerenciar a duração da bateria com IA em computadores; computadores que sabem exatamente o que você está fazendo todos os dias podem gerenciar suas tarefas para você”, disse. “As oportunidades são infinitas”.

Uma das áreas que o executivo destaca é a transformação na comunicação, acelerada pela chegada das redes 5G e pelo avanço do trabalho híbrido pós-pandemia. “Hoje, todos nós vivemos em um mundo onde meio bilhão de pessoas ligam suas câmeras e microfones todos os dias, em vários aplicativos, como Discord, Google Meet, Microsoft Teams, Slack, Zoom. O que é crítico para todos estes aplicativos é a qualidade do áudio e da câmera”, disse Kondap.

Em colaboração com a Microsoft, a companhia demonstrou o Voice Focus para o Windows 11, uma capacidade que usa IA para reduzir o volume de barulhos ambientes durante videochamadas para que apenas a voz dos participantes fique em evidência. Em outra capacidade demonstrada, o Windows é capaz de desfocar o fundo de videochamadas de forma inteligente, focando em participantes da conversa, mas removendo outros elementos da cena. Recursos como estes devem estar no centro do próximo chip Snapdragon para PCs.

Competição aquecendo

Em entrevista com o IT Forum, Kondap afirmou que a Qualcomm está de olho na série de transformações que estão ocorrendo no mundo empresarial para capturar seu espaço no mercado. “Os CIOs estão mudando a maneira como gerenciam funcionários remotos, aprimorando a segurança, estão lidando com mais e mais aplicativos, movendo-se para a nuvem”, explicou. “Então, para nós, há uma série de novas oportunidades, e estamos olhamos para todos os segmentos – desde pequenas e médias empresas, até grandes empresas, bem como diferentes verticais”.

Durante a Snapdragon Summit, a companhia anunciou que 400 empresas estão testando a implementação de dispositivos Windows em Snapdragon entre seus funcionários. Uma destas companhias é o Citi, banco de investimentos multinacional que começou a explorar plataforma da Qualcomm como uma forma de se adaptar às mudanças trazidas pelo trabalho remoto.

“Somos uma força de trabalho híbrida e pretendemos continuar assim”, afirmou Patrick Javier, líder de computação para usuário final do Citi. “Ouvimos de nossos funcionários como a IA tornou as videochamadas mais envolventes, isolando vozes humanas de ruídos e distrações, atendendo às necessidades de ambientes de trabalho híbridos”.

Segundo o executivo, a migração de plataformas x86 para Snapdragon também tem auxiliado a empresa em suas metas energéticas, através da maior eficiência energética e consumo reduzido de bateria que o sistema oferece. A expectativa, segundo Javier, é que 70% dos mais de 300 mil colaboradores do Citi tenham o potencial de mudar para PCs Windows Snapdragon.

Em conversa com o IT Forum, Reinaldo Sakis, gerente de Pesquisas e Consultoria da IDC Brasil, avaliou como positivo o novo passo da Qualcomm no segmento de PCs. “Quando a gente conversa com fabricantes, tanto os internacionais quanto os nacionais querem ter mais uma opção. Na escassez de componentes que vimos, por exemplo, uma nova opção seria muito bem-vinda para trazer condições melhores de mercado e ter nichos específicos para trabalhar.”

Na avaliação do analista, no entanto, ainda não é possível ter a visão de qual será o verdadeiro impacto da empresa no setor – o que só se tornará claro uma vez que OEMs começarem a apresentar suas ofertas com o novo hardware Snapdragon para Windows no futuro. “Quem vai mostrar uma mensagem atrativa para vender o produto são os fabricantes, não será a Qualcomm com a plataforma”, explicou. “Quando os fabricantes A, B ou C trabalharem com a plataforma, aí vamos entender como vão atender às demandas específicas dos consumidores”.

Desafios a frente

O anúncio das CPU Oryon, vale lembrar, ocorre em meio a uma disputa legal entre a Qualcomm e a Arm, fabricante britânica de semicondutores que está por trás de boa parte das tecnologias embarcadas em plataformas da empresa de San Diego. Desde a aquisição da startup, a Arm tem alegado que a Qualcomm deveria ter sua permissão para desenvolver novos sistemas baseados nas tecnologias Arm da Nuvia, uma vez que Nuvia já tinha acordos prévios de licenciamento com a Arm.

Na última terça-feira (15), a disputa legal ganhou um novo episódio, com uma nova acusação da Arm, na qual a companhia afirma que, ao continuar a usar os designs da Nuvia, a Qualcomm estaria produzindo “um produto não licenciado” e “violando materialmente” sua própria licença com a Arm. A Qualcomm, no entanto, não fez comentários sobre o caso durante a Snapdragon Summit.

*O repórter foi ao Havaí a convite da Qualcomm

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