China proíbe exportação de minerais críticos para os EUA em meio a tensões comerciais

Proibição envolve minerais estratégicos como gálio, germânio e antimônio, aumentando atritos comerciais entre dois países

Author Photo
3:35 pm - 03 de dezembro de 2024
Imagem: Shutterstock

A China proibiu a exportação para os Estados Unidos de itens relacionados aos minerais gálio, germânio e antimônio, que possuem possíveis aplicações militares, afirmou o Ministério do Comércio na terça-feira (3), um dia após o mais recente esforço dos EUA para restringir o setor de semicondutores da China.

Segundo informações da Reuters, a medida surge como uma retaliação às novas restrições americanas, escalando ainda mais as tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo.

Leia mais: Como a indústria de chips da China planeja lidar com Trump

A decisão, relatada pela Reuters, faz parte de uma diretiva do Ministério do Comércio chinês para itens de “uso dual”, ou seja, com aplicações militares e civis, alegando preocupações de segurança nacional. O documento também impõe uma revisão mais rigorosa sobre o uso final de itens de grafite enviados para os EUA.

“Em princípio, a exportação de gálio, germânio, antimônio e materiais superduros para os Estados Unidos não será permitida”, afirmou o Ministério do Comércio. Esta proibição visa reforçar os limites existentes sobre a exportação desses minerais críticos, já estabelecidos pelo governo chinês no ano passado, mas agora aplicados exclusivamente ao mercado dos EUA.

Matéria-prima para semicondutores

Os dados da alfândega chinesa mostram que não houve embarques de germânio ou gálio bruto ou refinado para os Estados Unidos em 2024 até outubro, apesar de o país ter sido o quarto e quinto maior mercado desses minerais no ano anterior. O gálio e o germânio são utilizados na fabricação de semicondutores, e o germânio também é essencial em tecnologias infravermelhas, cabos de fibra óptica e células solares.

Da mesma forma, os embarques chineses de produtos de antimônio em outubro caíram 97% em relação a setembro, depois que a medida de restrição de exportação entrou em vigor. A China foi responsável, no ano passado, por 48% do antimônio extraído no mundo. Esse elemento é amplamente utilizado em munições, mísseis infravermelhos, armas nucleares, óculos de visão noturna, além de baterias e equipamentos fotovoltaicos.

Este ano, a China representou 59,2% da produção global de germânio refinado e 98,8% da produção de gálio refinado, segundo dados da consultoria Project Blue. “A medida é uma considerável escalada das tensões nas cadeias de suprimento, onde o acesso a matérias-primas já é restrito no Ocidente”, afirmou Jack Bedder, cofundador da Project Blue.

Os preços do trióxido de antimônio em Roterdã subiram 228% desde o início do ano, atingindo US$ 39.000 por tonelada em 28 de novembro, segundo a provedora de informações Argus. “Todos irão cavar em seus quintais para encontrar antimônio. Muitos países tentarão descobrir depósitos de antimônio”, disse um comerciante de metais menores na Europa, que preferiu não ser identificado.

O anúncio chinês vem logo após os Estados Unidos lançarem sua terceira ofensiva em três anos contra a indústria de semicondutores da China, restringindo as exportações para 140 empresas, incluindo a fabricante de equipamentos para chips Naura Technology Group.

Veja também: EUA impõem novas restrições a investimentos em tecnologia na China

O presidente eleito Donald Trump, que teve seu primeiro mandato marcado por uma amarga guerra comercial com a China, já declarou que implementará tarifas de 10% sobre produtos chineses e ameaçou impor taxas de até 60% sobre as importações vindas do país durante sua campanha presidencial.

“Não é surpresa que a China tenha respondido às crescentes restrições das autoridades americanas, atuais e iminentes, com suas próprias restrições ao fornecimento desses minerais estratégicos”, afirmou Peter Arkell, presidente da Associação de Mineração Global da China. “É uma guerra comercial que não tem vencedores”, completou.

Além disso, várias associações industriais chinesas solicitaram na terça-feira que seus membros comprem semicondutores de fabricação nacional, argumentando que os chips americanos não são mais seguros ou confiáveis.

Tensão comercial

As tensões comerciais entre os EUA e a China têm se intensificado nos últimos anos, particularmente no setor de tecnologia e semicondutores, onde ambos os países buscam assegurar sua liderança global e reduzir a dependência um do outro em componentes estratégicos. As sanções e restrições comerciais se tornaram instrumentos frequentes na política externa, principalmente com o objetivo de pressionar adversários e proteger indústrias domésticas.

Enquanto os EUA alegam que suas restrições visam impedir que a China utilize tecnologias avançadas em suas operações militares e de inteligência, a China acusa Washington de tentar sufocar seu desenvolvimento tecnológico e prejudicar seu crescimento econômico. As recentes proibições de exportação de minerais críticos são um exemplo claro de como Pequim está disposta a revidar, utilizando sua posição dominante na produção de minerais essenciais para a indústria de alta tecnologia.

O gálio, por exemplo, é um material essencial para a produção de semicondutores e dispositivos eletrônicos avançados, como LEDs e radares. Já o germânio é fundamental em equipamentos ópticos e eletrônicos, e o antimônio é amplamente usado na fabricação de baterias e dispositivos de armazenamento de energia. Sem o acesso a esses materiais, muitos dos avanços tecnológicos no Ocidente podem ser afetados, especialmente na produção de semicondutores, que são componentes fundamentais para tudo, desde smartphones até veículos elétricos e equipamentos de defesa.

*Com informações da Reuters

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

Author Photo
Redação

A redação contempla textos de caráter informativo produzidos pela equipe de jornalistas do IT Forum.

Author Photo

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.