IA e gestão integrada combatem incêndios no Pantanal

Focos de incêndio no bioma saltaram 1.500% no comparativo de 2023 contra 2024, segundo o Inpe.

Author Photo
3:21 pm - 13 de setembro de 2024
Imagem aérea de Corumbá (MS) mostra área devastada pelo fogo no Pantanal. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A maior planície alagada do planeta, o Pantanal, pode desaparecer até o final do século. Esta recente declaração da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reforça a urgência de reverter o cenário de degradação ambiental e de aquecimento global.

O Pantanal vem secando desde 2020, com declínio das cheias e prolongamento de períodos de secas intensas. O ano de 2024 já é considerado o mais seco da história do bioma. Ao mesmo tempo, o aumento de grandes incêndios agrava a saúde deste ecossistema: de janeiro a 17 de junho deste ano, os focos de incêndio no Pantanal saltaram 1.500% no comparativo de 2023 contra 2024, segundo o Inpe.

O projeto Abrace o Pantanal tem trabalhado para mudar essa realidade. Com patrocínio da JBS, a iniciativa integra diferentes níveis de governança, como o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) e Serviço Social do Comércio (Sesc) Pantanal, ao uso do sistema Pantera de gestão de incêndios florestais da climatech umgrauemeio. Baseado em inteligência artificial (IA), o software permite a detecção precoce e monitoramento de incêndios florestais por meio de câmeras de alta resolução e dados de satélite, o que facilita a comunicação e a mobilização de brigadas de combate ao fogo.

A plataforma monitora 2,5 milhões de hectares do bioma Pantanal, por meio de cinco câmeras instaladas na região da Serra do Amolar e apoio de satélites. Em 2022, o Abrace o Pantanal alcançou redução de 90% no número de incêndios da região monitorada, em comparação a 2020. O impacto na redução das emissões de dióxido de carbono geradas por incêndios florestais foi de 5 toneladas no período.

Leia também: “Química Verde” – a estratégia da Basf para a sustentabilidade na América do Sul

“O Abrace o Pantanal está caminhando para o terceiro ano e é um modelo de abordagem holística no combate aos incêndios, que reúne tecnologia, empoderamento de comunidades e suporte de setores privados privado e público, da academia e da organização da sociedade civil”, destaca Osmar Bambini, cofundador e CIO da umgrauemeio.

Pantera no Pantanal

O software Pantera atua na prevenção, detecção, análise e resposta a incêndios florestais. O módulo de prevenção traz alertas diários e boletins com previsões meteorológicas, análise de material combustível e análise do histórico de ocorrências e pressão antrópica.

Já o módulo de detecção é dividido em dois: detecções instantâneas por meio de câmeras de alta resolução instaladas em torres de monitoramento com infraestrutura autossuficiente alimentada por painéis solares e conexão via rádio, dispensando a internet em áreas remotas; e detecção com o uso de imagens de mais de 15 satélites espaciais provedores de informação com alcance a áreas remotas e localização precisa dos focos de calor.

Em seguida, o módulo de análise cruza essas informações e detecta focos de calor e de fumaça com risco potencial e, por fim, o módulo de resposta, que integra informações sobre a localização das brigadas, recursos e equipamentos disponíveis, tempo de ativação e outras.

“O diferencial do Pantera está nessas torres embarcadas com um algoritmo de IA desenvolvido pela umgrauemeio que detecta fumaça instantaneamente. Elas possuem giro de 360 graus e capacidade de visão que ultrapassa 20 km, o que resulta na cobertura de um raio de 120 mil hectares”, pontua Bambini.

Ao todo, são três comunidades beneficiadas: o IHP, na região de Corumbá na Serra do Amolar, com cinco torres de monitoramento cobrindo 1,1 milhões de hectares; o SESC Pantanal, próximo a Cuiabá-MT, com a Reserva Particular do Patrimônio Natural SESC Pantanal e o Parque Estadual do Encontro das Águas; e a região de Miranda e Aquidauana, com torres hoje sob a concessão do Prevfogo, sendo o governo brasileiro responsável pela gestão.

“Um elo importante do Abrace o Pantanal é o empoderamento comunitário, no qual a as pessoas da região estão envolvidas para liderar a gestão do território e do combate aos incêndios por meio da plataforma Pantera”, frisa Bambini. A resposta rápida é o resultado da capacidade de comunicação, mobilização e planejamento de combate das brigadas facilitada pela plataforma.

“A tecnologia não vai salvar o mundo, ela é uma ponte para isso, mas quem vai salvar o planeta são as pessoas. A grande maioria dos incêndios é causada pelas pessoas. Se o fogo não fosse descontrolado nossa empresa não precisaria existir”.

Em julho, o Abrace o Pantanal foi premiado pela AI for Good-Innovate for Impact 2024, organizada pela International Telecommunication Union (ITU), iniciativa que visa reconhecer e promover projetos inovadores que utilizam a inteligência artificial (IA) para abordar desafios globais e promover os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Atualmente, a umgrauemeio conta com uma equipe de mais de 50 pessoas, incluindo os times de tecnologia e operação. A climatech brasileira  possui projetos em todos os biomas do país, sendo os principais clientes do setor privado, em especial áreas de florestas plantadas e agricultura, com destaque para cana-de-açúcar. A empresa já tem clientes fora do país e o próximo passo é realizar o monitoramento da biodiversidade dentro do Pantera.

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

Author Photo
Karen Ferraz

Karen Ferraz é colaboradora freelance do Distrito Itaqui. Jornalista, mestre em Sustentabilidade, pesquisadora em Mudanças Climáticas, Justiça Climática, Gênero, Desenvolvimento Sustentável, Adaptação Climática e Políticas Públicas.

Author Photo

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.