Futuro da economia global precisa olhar para o passado, diz especialista
Em evento promovido pela Qintess, especialistas discutem movimentos da economia, globalização e o futuro do dinheiro
Voltado para executivos e convidados o evento Economics of Change – exploring the new age of value, promovido pela Qintess, trouxe reflexões baseadas na história de grandes crises, depressões econômicas e os aprendizados deixados com esses episódios. A discussão realizada na última quarta-feira (27) passou a fronteira do dinheiro e falou de valores que são importantes em momentos de crise, como a que vivemos.
Participaram Nana Baffour, economista e CEO da Qintess; Ricardo Amorim, economista e consultor financeiro, como mediador e David Mulford, professor distinto da Universidade de Stanford. Jean Pierre Landau, professor de economia na SciencesPo-Paris; Bertrand Badré, CEO e fundador da Blue Like na Orange Sustainable Capital; Adam Cai, CEO da VirgoCX e Nicolas Rohatyn, CEO e Chief Investment Officer do The Rohatyn Group (TRG) também participaram como painelistas.
Fim da Globalização
Ao falar sobre globalização, o professor David Mulford lembrou de importantes passos na carreira e como acompanhou o processo de união pela Europa, Estados Unidos e diversos outros países que se expandiram economicamente além fronteiras.
“Com mercados crescentes nas décadas de 60, 70, a consequência foram mercados supranacionais, que não estavam em controle de nenhum governo, com exceção da Grã-Bretanha, que já tinha política de não interferência nos mercados”, destacou Mulford.
Ele lembrou também do fim do sistema Bretton Woods, estipulado pelos países vitoriosos da Segunda Guerra Mundial para regência econômica. “Foi um movimento significativo, a longo prazo foi positivo, mas a curto prazo foi preocupante. A OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) elevou o preço do petróleo e houve crescimento de riqueza líquida mais rápida do mundo”, disse o professor.
O palestrante pontuou diversas crises econômicas mundiais e ao recordar de eventos do final do século 20 e início do 21, fez um recorte sobre guerras no Oriente Médio e movimentos migratórios grandes, como da América Central para os Estados Unidos. O que, segundo ele, impactaram a economia e a multinacionalização.
David Mulford enumerou os benefícios da globalização, principalmente em aspectos econômicos. O especialista avançou também para a crise de 2007/08 que desestabilizou os mercados e acrescentou: “a recuperação pouco interessante com longos períodos de baixo crescimento criou tom que dificultou a globalização… não era mais tão unida”.
Covid-19 e impactos
Para o economista brasileiro Ricardo Amorim, a crise posta pela covid-19 implica em uma reversão da globalização, ao mesmo tempo em que existe uma regionalização de cadeias produtivas, como no Brasil e no México, mais próximos dos EUA e já acostumados com esse fluxo de mercado.
Ele ainda ressaltou o índice IPCA, trazendo a maior deflação da história brasileira e como é importante neste momento reconquistar a confiança econômica para evitar maiores prejuízos.
Nicolas Rohatyn, CEO do The Rohatyn Group, seguiu as ideias dos participantes anteriores e falou sobre uma recuperação em formato em V ou U, seguindo o movimento das economias em gráfico durante a pandemia.
Nicolas prevê que haverá fluxos de capital emergentes, que países nessa situação vão se beneficiar do momento. “Para mercados emergentes, são 100 países diferentes, se examinarmos esse universo, há motivos para sermos otimistas. Por um lado demográfico, no contexto de Covid, possuem mais jovens que são menos afetados com a Covid, assim como mercados asiáticos têm mais habilidade de se fechar e controlar a doença”, finaliza o executivo.
Dinheiro eletrônico
Jean Pierre Landau, professor de economia na SciencesPo-Paris, falou sobre o papel dos bancos e como tecnologias financeiras podem mudar daqui pra frente. O acadêmico dissertou sobre tokens digitais, com garantias, títulos, depósito e possibilidades de transferência, funcionando como um dinheiro eletrônico.
O uso do celular para ele será fundamental para transações e especula: “as crianças talvez não tenham que abrir contas, será uma evolução social. A tecnologia vai trazer novos apps para gerenciar portfólios financeiros, não precisaremos de dinheiro. Apenas um acesso para transferir por um app…o que será o dinheiro no futuro e como será a política monetária?”.
Ele acredita que diversas taxas deixarão de existir, o que torna mais barato, mais flexível e mais rápido o sistema financeiro como uma todo. “Mas será preciso, novamente, confiar, naquele com quem se faz a negociação e em todo o fluxo, com relação a dados”, finaliza.
Confiança é palavra chave
Bertrand Badré, CEO e fundador da Blue Like na Orange Sustainable Capital, aproveitou a deixa e iniciou sua fala: “estamos reconstruindo uma nova forma de confiança que é essencial para lidar com o que enfrentamos. Durante esta crise vamos conseguir utilizar novas ferramentas, novas governanças, em vez da fragmentação que vemos”.
Para o CEO existe um novo engajamento do setor privado e que é fundamental para a saída de crise se esses não se envolverem de forma genuína. “A confiança é chave. Existem índices, painéis, mas não sabemos como medir a confiança. Ela é indispensável para tudo e para a democracia. Depois das crises globais financeiras chegamos mais fracos no Covid”, ele exalta.
Adam Cai, CEO da VirgoCX, discutiu moedas estáveis e fez um retrospecto das moedas virtuais, como bitcoins. “Estamos vendo uma base que será usada com cada vez mais frequência. Todos dias vemos trading de milhões. Já existe um grande player que se conecta em uso de baixo nível como por exemplo para comprar café, carro, com criptomoedas” segundo Cai.
O executivo exemplificou com a Bitpay, provedor de pagamentos em bitcoin, que processou US$ 1 milhão em 2018, número que foi bem maior em 2019. “Acho que vimos uma revolução do dinheiro, desde escambo, moedas, cartão de crédito, dispositivos móveis e moedas digitais que vão revolucionar a maneira de pagamento”, finaliza.