Retorno ao presencial: um dilema para a área de tecnologia

A discussão sobre os modelos de trabalho exige adaptação e novas estratégias para o ambiente corporativo

Author Photo
3:00 pm - 08 de janeiro de 2025
Imagem: Shutterstock

Por Juliana Bauman*

Desde a pandemia, o mercado de tecnologia tem debatido qual modelo de trabalho é mais adequado: presencial, híbrido ou remoto. Nos últimos tempos, vimos grandes empresas do setor no Vale do Silício e adjacências, nos EUA, voltarem em massa para estruturas presenciais. Como sabemos, as companhias mais reconhecidas geralmente ditam tendências, e esse movimento costuma ser seguido em outros mercados.

Durante a pandemia, as instituições do setor foram pioneiras no trabalho à distância, promovendo flexibilidade, aumento de produtividade e bem-estar dos colaboradores. No entanto, muitas dessas empresas revisaram suas políticas e passaram a exigir que seus funcionários voltassem ao trabalho presencial.

Leia também: A transformação do mercado de tecnologia pós-layoffs: demandas e desafios

Recentemente, uma das maiores corporações de tecnologia do Vale do Silício implementou a política que exige que seus funcionários trabalhem no escritório cinco dias por semana, exceto em “circunstâncias excepcionais”, como doenças ou emergências. Colaboradores com permissões especiais continuam trabalhando remotamente. O CEO desta companhia ressaltou que, antes da pandemia, o home office já era permitido em casos específicos, e essa prática será mantida sob as novas diretrizes.

Essa estratégia faz parte de um movimento maior liderado por grandes empresas de tecnologia que estão endurecendo as regras de presença física no escritório. A mudança gerou questionamentos sobre os motivos por trás dessas decisões e seus impactos na produtividade, cultura organizacional e moral dos funcionários. Mas será que isso representa um progresso ou um retrocesso?

O declínio do trabalho totalmente remoto

De acordo com o Future of Work Trends 2023, da Gartner, 44% das empresas de tecnologia optaram por modelos híbridos, nos quais os colaboradores têm flexibilidade para trabalhar remotamente alguns dias da semana, mas precisam comparecer ao escritório em outros dias. Esse número reflete uma mudança para um modelo mais estruturado, que mantém a flexibilidade, mas exige presença física no ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo, o número de funções totalmente remotas diminuiu significativamente.

Essa mudança reflete uma crescente crença de que a colaboração presencial é mais eficaz para criatividade, inovação e produtividade. Empresas que inicialmente adotaram o modelo virtual mencionaram a queda na produtividade e colaboração como razões para retornar aos escritórios. A preservação da cultura organizacional também é um dos motivos para a mudança.

Muitas empresas acreditam que a presença física no escritório fortalece os laços entre as equipes e ajuda a preservar os valores culturais da empresa. Em tempos de crise econômica e desafios financeiros, a justificativa é a de que a convivência presencial melhora a eficiência operacional e reforça a identidade corporativa.

Profissionais resistem a voltar para o escritório

Embora muitas empresas pressionem pelo retorno ao escritório, nem todos os funcionários estão satisfeitos com essa mudança. Segundo pesquisa sobre modelos de trabalho, realizada pela Robert Half no Brasil, 43% dos funcionários considerariam deixar seus empregos se perdessem a opção de trabalhar remotamente ou em uma configuração híbrida.

Impor o trabalho no escritório pode prejudicar o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, especialmente para colaboradores com responsabilidades familiares, gerando estresse e aumentando o risco de burnout.

E no Brasil, qual é a situação atual?

No Brasil, o setor de tecnologia tem sido resistente a adotar modelos totalmente presenciais, pois muitos colaboradores já trabalhavam remotamente antes da pandemia. Nos últimos anos, o trabalho remoto se expandiu, permitindo que empresas internacionais recrutassem talentos no Brasil. Esse movimento criou uma simbiose no mercado, com empresas estrangeiras pagando menos para profissionais brasileiros altamente qualificados, enquanto os colaboradores se beneficiavam dos salários em dólar, vantajosos para a realidade local.

Essa situação gerou dois problemas para empresas que desejam restaurar o trabalho presencial: profissionais acostumados com trabalho flexível e salários altos, o que dificulta a competição local, especialmente com a valorização do dólar. 

Além disso, o retorno pode impactar na atração de talentos: segundo a pesquisa da Robert Half, aproximadamente 11% dos profissionais desempregados aceitariam uma proposta 100% presencial apenas se não houvesse outra escolha.

O futuro do trabalho no setor de tecnologia dependerá de como as empresas vão conciliar suas demandas organizacionais com as expectativas dos colaboradores, criando ambientes de trabalho que incentivem inovação, engajamento e produtividade. Com o aumento da flexibilidade e a crescente pressão para o retorno ao escritório, é fundamental manter um diálogo constante entre empregadores e empregados para encontrar soluções que atendam às necessidades de ambos.

*Juliana Bauman é Business Manager na Robert Half

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.