Novos riscos e soluções do mundo integrado

Como a tecnologia da informação está moldando cada vez mais setores, oferecendo novos riscos, mas também novas soluções

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11:05 am - 16 de junho de 2023
Foto: Shutterstock

Em março estive na ISC West 2023, principal conferência internacional sobre segurança, e a experiência rendeu muitos questionamentos, uns novos, outros nem tanto. Entre outras questões, destacou-se como a tecnologia, principalmente a de informação, está cada vez mais presentes em setores da sociedade que até pouco tempo ainda eram quase que exclusivamente analógicos.

Por ser um evento focado em segurança — digital e “real” —, é normal criar receios que beiram teorias de conspiração ou livros do Asimov. Contudo, também é reconfortante ver de perto que, pelo menos na teoria, para cada inovação com seus riscos inerentes, existem investimentos reais em medidas, algumas já aplicáveis, para antecipar problemas futuros e solucionar outros atuais.

Infraestrutura conectada

Um conceito recente é o das Cidades Inteligentes, que combina redes de informação, Internet das Coisas, automação e IA no gerenciamento e gestão de cidades, visando melhorar a qualidade de vida e acelerar o desenvolvimento econômico. Por mais que pareça algo de um futuro distante, isto já é praticado em diferentes níveis. Songdo, na Coreia do Sul, é o modelo do que uma Smart City pode representar.

Com foco em tecnologia e sustentabilidade, seus prédios são completamente conectados. Isso possibilita o monitoramento ativo em tempo real de redes de fornecimento de energia, calefação, alarmes de incêndio e outros serviços essenciais, resultando na otimização da manutenção, redução de custos e prevenção de acidentes.

O problema é que ter tantos dispositivos conectados, principalmente os de caráter tão sensíveis como serviços básicos, abre um leque enorme de vulnerabilidades a ataques com potencial disruptivo gigantesco. Basta tomar como exemplo os ataques cibernéticos entre Rússia e Ucrânia para desestabilizar ambas as economias durante o conflito, ou os crescentes casos de ransomware contra órgãos governamentais em países do mundo todo.

Para viabilizar essas integrações, quase sempre é preciso combinar processos Edge, isolados em redes locais, com computação em nuvem. Mais do que o processamento e armazenamento virtualmente ilimitado, essa abordagem híbrida melhora a redundância de dados, crucial em casos como o ataque que comprometeu informações de milhares de usuários do SUS.

Segundo relatório recente da Bravo Research, estima-se que mais de US$ 10,5 bilhões serão investidos em cibersegurança até o final de 2023. Uma das prioridades é, justamente, reduzir ao máximo as vulnerabilidades geradas pela demanda crescente dos serviços em nuvem.

De maneira geral, os principais serviços, como IBM Cloud, Amazon Web Services e Azure (MS) já contam com ferramentas robustas de segurança, mas cada cliente é responsável por configurá-las e gerenciá-las, e montar uma equipe interna de cibersegurança é tão caro quanto demorado.

Considerando que as configurações fracas de segurança são os principais ponto de falha em infraestrutura de nuvem, uma tendência crescente é o outsourcing de serviços de TI. Empresas desse ramo oferecem contratos de Segurança como Serviço, com soluções como redes privadas (VPN), padrões ativos de monitoramento de tráfego, e, principalmente, criptografia de dados, para blindar as principais canais utilizados por hackers.

Fora da nuvem

No entanto, a maioria dessas inovações serão raramente percebidas pela maioria das pessoas, exceto quando falharem e uma cidade ficar no escuro. Por outro lado, algumas novidades no setor de segurança têm muito mais potencial de afetar diretamente muitas vidas. A robótica e Inteligência Artificial já estão sendo utilizadas como ferramenta de segurança pública em diversos cenários.

Desde o ano passado, a empresa responsável pela segurança do Rock In Rio adotou um cão-robô de monitoramento. Utilizando a tecnologia proprietária GenzAI de Inteligência Artificial (IA) o Yellow conseguia realizar reconhecimento facial e identificar padrões de comportamento suspeitos. Com isso, o robô pode se expor a situações perigosas, sem a necessidade de acionar equipes locais, minimizando o risco a vidas tanto dos agentes de segurança, quanto do público.

Outra aplicação similar, mas voltada para segurança de estabelecimentos é o IPXAnalytics. O produto é um sistema de monitoramento de vídeo, criado em parceria entre a Intel e a IP Extreme, empresa especializada em softwares de segurança. Também utilizando Inteligência Artificial, o sistema consegue identificar padrões de ação comuns em situações suspeitas.

A solução já está sendo utilizada em uma rede de drogarias e vem apresentando resultados muito positivos. Em apenas 7 meses, o índice de furtos, roubos e assaltos caiu em até 80% nas unidades piloto. Essencialmente, o software é treinado para identificar ações potencialmente criminosas, como uso de capacete no estabelecimento, presença de arma, anomalia no uso dos caixas, prateleiras vazias, etc.

Ao detectar qualquer fator suspeito, o software envia um alerta para a central de segurança que verifica as imagens e confirma se, realmente, existe alguma ação criminosa em andamento. Como se trata de uma solução de IA, o treinamento da inteligência não é restrito a um padrão específico, e pode ser adaptado dependendo do cliente, situação ou tipo de estabelecimento.

Segundo registros da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, em abril de 2022 o número de roubos e furtos subiu quase 40% em relação ao ano anterior, representando uma questão gravíssima e urgente. Em paralelo, de acordo com a ONG Human Rights Watch (HRW), a violência policial no Brasil, especialmente em grandes centros urbanos, também subiu muito nos últimos dois anos.

Implementadas adequadamente, soluções como IPXAnalytics têm potencial para reduzir os indicadores em ambos os casos. Ao identificar situações que, realmente, ofereçam risco à população, é possível prevenir que delitos menores escalonem para situações violentas. Além disso, com os algoritmos de reconhecimento facial, a mesma tecnologia pode ser utilizada para identificar criminosos com maior precisão, minimizando prisões equivocadas ou ações violentas.

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