Mulheres que inspiram: Marília Lara, empreendedorismo, tecnologia e inovação na sustentabilidade hídrica

Liderança visionária de Marília Lara, Stattus4 avança na preservação da água

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3:35 pm - 10 de outubro de 2023
Marília Lara

Dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) revelam uma notável tendência: entre 2015 e 2022, a participação feminina no setor de tecnologia aumentou em impressionantes 60%. 

Mas apesar desses avanços, ainda prevalece uma marcante predominância masculina, com cerca de 83% do mercado sendo ocupado por homens, enquanto as mulheres alcançam apenas 12,3% dos cargos relacionados à tecnologia.

Neste contexto desafiador, a Stattus4 surge como um exemplo inspirador de representatividade. Sob a liderança visionária de Marília Lara, cofundador e CEO, a empresa se destaca ao desenvolver soluções tecnológicas voltadas para a preservação do que é realmente essencial, a água. 

Com um foco na detecção precoce de vazamentos e anomalias de consumo dos recursos hídricos, essa não é somente a história de uma empresa inovadora, mas também um exemplo de uma empreendedora que superou barreiras. É sobre uma trajetória que inspira outras, contribui significativamente para a construção de um futuro mais sustentável e que nós da Domo tivemos a oportunidade de investir. 

Sintetizei o que falamos nestas perguntas e respostas:

A pergunta que não quer calar: por que ainda há poucas mulheres na liderança em áreas de tecnologia e o que pudemos fazer para mudar esse quadro?

Marília: Sem dúvida, é resultado de uma combinação complexa de fatores. Começa em uma época em que – socialmente – brincadeiras, roupas e carreiras eram rigidamente categorizadas como “coisa de menino” ou “coisa de menina”, e a tecnologia, infelizmente, não escapou dessa divisão.

Tivemos muitas evoluções sociais, mas acredito que ainda estamos lidando com as repercussões dessa questão, uma vez que o empoderamento feminino e a promoção de igualdade de gênero são movimentos relativamente recentes. Essa transformação cultural é um processo contínuo, então ainda temos barreiras sociais e pessoais a serem superadas a cada dia. 

Na minha casa, por exemplo, minha filha escolheu fazer parte do clube da matemática e meu filho pratica ginástica olímpica. Nós encorajamos essas escolhas “fora da caixa”, e a escola também desempenha um papel crucial nessa desconstrução, pois eles apoiam ativamente a igualdade de oportunidades e incentivam interesses diversos, independentemente do gênero. 

Estamos, de fato, vivenciando uma mudança significativa na maneira como as futuras gerações enxergam carreiras e interesses. Essa evolução nos enche de esperança por um futuro mais justo e inclusivo. E à medida que as mulheres continuam a desbravar outras áreas, sua presença e influência nas esferas tecnológicas têm grande potencial para crescer, conduzindo-nos a um futuro verdadeiramente igualitário e diversificado.

Quais os principais desafios que você enfrenta nesse mercado que é dominado por homens?

Marília: A barreira é construída por vários tijolos, que acaba se tornando a herança histórica, com a combinação complexa de fatores que comentei. 

Temos primeiro a questão da capacitação, já que estamos falando de um setor que por si só carece de mão de obra, quanto mais a feminina. Pois mesmo não existindo uma lei que proíba a mulher de exercer alguma profissão, não podemos deixar de mencionar a síndrome da impostora, que nos leva a questionar nossas próprias habilidades, fazendo com que nos arrisquemos menos em mercados tradicionalmente masculinos.

Quando vencemos esse primeiro obstáculo, existe o desafio de se sentir à vontade em ambientes predominantemente masculinos, especialmente ao assumir uma posição de liderança. É como se estivéssemos em um círculo onde o equilíbrio de poder é difícil de manter. Outra camada desse desafio é encontrar a maneira certa de se impor. Quando uma mulher fala com firmeza, muitas vezes é rotulada como “petulante”, enquanto um homem nas mesmas circunstâncias é considerado “assertivo”.

Há ainda o agravante das expectativas sociais em relação aos papéis de gênero, como a maternidade, que muitas vezes nos coloca diante de escolhas difíceis entre carreira e vida pessoal.

Na minha trajetória, por exemplo, percebi que alguns clientes preferiam se comunicar com meu sócio e CTO da Stattus4, Antônio Oliveira – que por acaso é meu marido nas horas vagas (risos) – mesmo que o assunto fosse a minha especialidade. Essa dinâmica ressalta os obstáculos que enfrentamos para sermos ouvidas e reconhecidas em um setor que ainda carece de uma mudança significativa em termos de aceitação das habilidades individuais, independentemente do gênero.

Diante de tudo isso, como podemos quebrar essas barreiras e promover a equidade de gênero no setor?

Marília: Navegar por esse cenário exige resiliência, determinação e, acima de tudo, uma vontade inabalável de romper padrões. No entanto, é encorajador ver que a transformação está em andamento.

A cada dia, mais mulheres estão se unindo para desafiar o mercado, compartilhando suas histórias e conquistas inspiradoras. Estamos ganhando voz e espaço, mostrando que somos capazes de contribuir de maneira significativa para a inovação, o crescimento e o desenvolvimento econômico. 

Para continuarmos trilhando esse caminho, é essencial incentivar a colaboração de todos – homens e mulheres – que acreditam na importância da diversidade e da igualdade. Precisamos assumir a nossa responsabilidade na transformação que queremos ver no mundo. Criar uma rede de apoio, por exemplo, mesmo que seja para compartilhar as dificuldades e criar conexões, faz toda a diferença.

Por isso fiquei muito feliz quando fui selecionada para integrar o programa Mulheres Empreendedoras, criado pelo Itaú, em que dividimos as dores e as delícias desse universo, tornando a jornada da liderança menos solitária. A sensação que tenho quando estamos juntas, é que podemos superar qualquer desafio. 

Além disso, a educação e a mentoria são ferramentas poderosas para quebrar os estereótipos de gênero e abrir portas para futuras gerações. Investir em oportunidades de aprendizado e desenvolvimento desde cedo é fundamental para inspirar e capacitar mais mulheres a ingressarem e prosperarem no mercado de tecnologia.

Nesse sentido, quais são suas referências femininas e por que elas são exemplos a serem seguidos?

Marília: Quando se trata de referências femininas, encontro inspiração em mulheres fortes e corajosas que deixaram sua marca em diversas áreas. Não tenho uma única figura como minha referência, mas reconheço a influência vital que minha família teve em minha jornada, especialmente minha mãe.

Meus pais lideravam seus próprios negócios, então eu cresci em um ambiente empreendedor. Essa vivência me permitiu entender que o empreendedorismo era um caminho possível, mas que exigia comprometimento de longo prazo para alcançar êxito.

O ponto de partida da Stattus4 ocorreu há 8 anos atrás quando o Antônio, que é engenheiro, concebeu a ideia de criar o equivalente do “Shazam” para detecção de vazamentos. Esse conceito envolve um algoritmo que sintoniza os sons da água e habilmente categoriza se os ruídos indicam um possível vazamento. Ele assumiu a responsabilidade técnica, enquanto eu, como profissional na área administrativa, trabalhei na elaboração abrangente do plano de negócios.

Eu consegui o nome do Diretor de Inovação da Sabesp, fiz o contato telefônico e em poucos minutos de ligação fiz o nosso pitching. Era uma oportunidade única e precisávamos ser assertivos. Essa conversa resultou em um encontro presencial, inicialmente programado para trinta minutos, porém, estendeu-se por surpreendentes duas horas. 

Ao final, deixamos essa reunião com uma carta de intenção de compra por parte da Sabesp. O documento expressava claramente o interesse deles em adquirir uma tecnologia com as características que estávamos desenvolvendo. E isso serviu de base para uma solicitação de financiamento do projeto junto à FAPESP. 

Essa abordagem ousada nos concedeu o primeiro aporte financeiro, que viabilizou o desenvolvimento da tecnologia. À medida que avançávamos nesse empreendimento, nossa paixão pelo tema crescia exponencialmente, cativados pelo desafio e potencial transformador que tudo isso representava.

Eu atribuo isso também à minha mãe, que era uma verdadeira guerreira. Suas palavras de orientação e conselho ecoam constantemente em minha mente, enquanto sua determinação serve como um exemplo de como superar obstáculos. Minha avó também exerceu um papel significativo, personificando força, determinação e assertividade. Essas mulheres sempre se destacaram por sua resolução e valentia, moldando profundamente minha jornada e fortalecendo minha crença de que posso alcançar qualquer objetivo que eu abrace.

Avanços, desafios e inspirações para o futuro

Encerrando nossa conversa, fica evidente que o cenário da tecnologia, embora tenha progredido, ainda precisa avançar significativamente para alcançar a equidade de gênero. Os números refletem não apenas a desigualdade presente, mas também a imensa oportunidade que temos diante de nós para promover mudanças reais e duradouras.

A Marília é um exemplo concreto de como uma mulher pode romper barreiras e liderar com sucesso em um campo predominantemente masculino. Sua jornada inspiradora nos mostra que a determinação, o foco e a resiliência podem levar não apenas ao sucesso pessoal, mas também ao avanço de toda a indústria.

À medida que nos despedimos deste momento de reflexão, queremos convidá-los a compartilhar suas próprias percepções sobre a equidade de gênero no setor tecnológico. Como podemos continuar a promover a igualdade? Quais são as histórias de mulheres inspiradoras que vocês conhecem? Como podemos fortalecer nossa rede de apoio e incentivar as futuras gerações a trilharem caminhos diversos?

Fiquem atentos à próxima edição, onde continuarei explorando temas relevantes e inspiradores, trazendo vozes influentes e histórias de sucesso que moldam o nosso mundo em constante evolução. Até lá, lembrem-se: a mudança começa com cada um de nós! 

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