Mulheres que Inspiram com Monique Lima: empreendedorismo de pai para filha

CEO e cofundadora da Mimo Live Sales, Monique Lima promove o avanço do live commerce no Brasil

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10:00 am - 05 de abril de 2024
Monique Lima, cofundadora e CEO da Mimo Live Sales (Imagem: Reprodução/Linkedin)

Nos últimos anos, o cenário do comércio eletrônico no Brasil tem testemunhado uma revolução notável, impulsionada pelo advento das transmissões ao vivo com venda de produtos, popularmente conhecidas como live commerce. Esta inovadora forma de interação comercial tem se tornado uma ferramenta estratégica para empresas que buscam não apenas se adaptar, mas prosperar em um ambiente digital cada vez mais dinâmico. 

No Brasil, o live commerce ganhou destaque ao representar uma parcela significativa, atingindo a segunda posição depois da China em volume de interação por lives. Uma figura pioneira nesse movimento é Monique Lima, cofundadora e CEO da Mimo Live Sales, que desde 2020 tem desempenhado um papel fundamental na evolução desse modelo de negócios em terras brasileiras.

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Além de ser uma profissional exemplar, ela é minha filha, e para encerrar a série de Mulheres que Inspiram, não poderia deixar de falar dela. Sua dedicação, visão empreendedora e contribuição para o avanço do empreendedorismo feminino são fontes de inspiração não apenas para mim, mas para todos que buscam inovação e sucesso no mundo dos negócios.

Fique agora com um resumo da nossa conversa, onde exploramos as transformações no comércio eletrônico, o impacto do live commerce no mercado brasileiro, e a história inspiradora da Monique na liderança da Mimo Live Sales.

A Mimo é a pioneira no modelo de vendas na América Latina. Não é à toa que a startup atende grandes nomes do mercado nacional e internacional. Como tudo isso começou?

Monique: Não tem como falar do nascimento da Mimo Live Sales, sem mencionar a minha jornada profissional que é marcada por experiências diversas que tive em diferentes setores. Inicialmente, trabalhando na MTV e participando de programas ao vivo, onde, por coincidência, desenvolvi habilidades cruciais para lidar com imprevistos e focar em soluções em tempo real.

Em seguida, a vida me levou para o caminho do cinema, onde tive a oportunidade de coordenar equipes e realizar projetos grandiosos em Madrid, incluindo a produção de filmes para públicos grandes. Essa vivência foi complementada pelo meu tempo em renomadas agências de publicidade, como DM9, Wieden+Kennedy e África, onde me especializei em projetos especiais, inovação e projetos de tecnologia para grandes marcas, como Itaú, Vivo, Natura, entre outros.

Foi nesse período, durante a exploração de tendências e a identificação de lacunas no mercado, que me deparei com o fenômeno do live commerce. Motivada pela ideia de humanizar a experiência de compra digital, iniciei um estudo aprofundado sobre o crescimento exponencial desse movimento na China e seu potencial de aplicação no contexto brasileiro. 

Essa solução inovadora que visa revolucionar o comércio eletrônico ao unir a escala do digital com a pessoalidade do físico, oferecendo interação em tempo real para uma experiência de compra digital mais humanizada. Com uma abordagem que responde às demandas dos consumidores brasileiros, que valorizam a socialização e a interação nas plataformas digitais.

Fale um pouco sobre o crescimento da sua empresa e desse movimento de vendas ao vivo. 

Monique: A Mimo Live Sales oferece um potencial de conversão até dez vezes maior do que uma venda transacional comum. Essa performance excepcional é atribuída à capacidade da plataforma de humanizar a venda, atendendo a uma demanda essencial para os brasileiros que valorizam a atenção em suas experiências de consumo.

A nossa estratégia permite a interação e dados em tempo real, proporcionando aos consumidores a oportunidade de esclarecer dúvidas e realizar compras de forma mais assertiva. No ponto de vista da marca, o apresentador consegue mostrar o produto que está tendo mais interesse, a experiência é data driven e portanto entrega muito mais resultados. Esse modelo de live-shopping contrasta significativamente com a experiência muitas vezes solitária do e-commerce tradicional.

Um dos pontos mais impressionantes é a taxa de conversão que atingimos. Enquanto a média nos portais é de 1.6%, a experiência sem fricção da Mimo atinge uma média de 10%, podendo chegar a 30% em determinados segmentos como beleza e moda.

Além disso, nos destacamos não apenas pela inovação, mas também pela facilidade de integração em diferentes ambientes de comércio eletrônico. Para isso, oferecemos serviços que se conectam com os próprios sites e aplicativos das marcas. Essa flexibilidade permite que possamos nos adaptar à estrutura existente do cliente, proporcionando uma experiência coesa e alinhada com a identidade da marca.

Também investimos em fornecer treinamento completo para os clientes. Isso inclui treinamento antes, durante e depois das transmissões ao vivo, conduzido por uma equipe de especialistas da Mimo. E ainda oferecemos um curso online sobre como vender via live, capacitando os usuários a aproveitar ao máximo a plataforma. Tanto um cliente com estrutura pequena, quanto um cliente com um time maior, após as primeiras lives, já conseguem entrar em uma escala sozinhos. Eles têm em mãos uma plataforma “user friendly” e tem autonomia e flexibilidade para executar os seus eventos.

Outro diferencial significativo é o nosso ecossistema. Digo isso porque estabelecemos parcerias estratégicas com grandes produtoras, agências de influenciadores e profissionais de marketing especializados no mercado. Temos até criadores de conteúdo treinados por segmentos, que têm habilidade de vender por meio de lives e ainda levam uma audiência incremental significativa. 

A combinação disso tudo é oferecer aos clientes da Mimo acesso a uma experiência robusta e colaborativa, com valores diferenciados, fortalecendo ainda mais a nossa posição como uma líder inovadora no universo do comércio eletrônico ao vivo. 

A startup já conta com grandes investidores do mercado. Como foi esse processo de captação? 

Monique: A trajetória de captação de investimentos da Mimo Live Sales foi desafiadora, especialmente em meio ao contexto do live commerce no começo da pandemia. Quando a empresa foi lançada, surgiram diversas startups no mesmo segmento, tornando o processo mais competitivo. No entanto, conseguimos nos destacar ao adotar uma abordagem centrada no cliente e com uma atenção meticulosa às necessidades traduzidas em um produto SaaS cada vez mais completo. O nosso grande diferencial foi ter focado em um único produto e suas melhorias, durante os dois primeiros anos.

A Mimo é reconhecida como líder de mercado na América Latina, resultado de um compromisso genuíno em ouvir o público, compreender as marcas e concentrar-se na retenção, ultrapassando as simples transações.

Além de alcançar vendas em larga escala, ainda nos diferenciamos por oferecer percepções valiosas aos clientes, incluindo análises detalhadas da experiência do consumidor durante as transmissões ao vivo. Não atendemos apenas às demandas do mercado, mas também antecipamos as necessidades dos clientes, contribuindo significativamente para a retenção a longo prazo.

Em pouco tempo, conquistamos a confiança dos investidores ao apresentar resultados concretos, resiliência, foco nos objetivos e evidências tangíveis por meio de casos de sucesso com clientes renomados, como Carrefour, Kimberly Clark, Max Mara, Boticário e Picadilly.

Essa jornada desafiadora destaca a importância de construir não apenas sobre tendências momentâneas, mas de estabelecer uma proposta de valor sólida, priorizando a compreensão do cliente e demonstrando a capacidade de agregar um valor significativo ao mercado.

Você abordou os desafios enfrentados pela Mimo, agora gostaria de saber, em sua jornada empreendedora pessoal, qual considera ser o obstáculo mais significativo que enfrentou até o momento?

Monique: Percebo que a habilidade fundamental para qualquer empreendedor é manter-se em movimento. Isso envolve uma abordagem contínua de escutar o cliente, identificar lacunas, compreender o que está funcionando e, mais importante, o que precisa ser ajustado.

A evolução é constante! Começamos com um produto, e o processo de refinamento nunca termina. É uma jornada que nos leva a olhar para além do ponto inicial, preenchendo os gaps e entregando algo que seja relevante a ponto do cliente ir do “quero testar”, para “não podemos viver sem a Mimo”. Este ano, além do live commerce, lançamos o vídeo commerce guiados pelo feedback e necessidades dos clientes.

Esse novo produto é um “shoppable vídeos” que a marca pode trabalhar no site dela – na home e em internas de produtos. Os vídeos da Mimo já tem conversão dez vezes superior às lojas virtuais. A Mimo se consolida como um booster de e-commerces, através de soluções que humanizam a experiência de compra para o consumidor, que além de trazer vendas em escala, oferece uma camada de dados e metadados adicional para a marca. 

A jornada empreendedora é bem dinâmica e eu adoro esse ambiente. Cada semana é uma oportunidade para começar do zero, avaliando o que está funcionando bem e buscando áreas de aprimoramento. Nesse processo, o papel do CEO é fundamental, proporcionando não apenas motivação, mas também um impulso necessário para garantir o crescimento sustentável do negócio.

Ainda sobre empreendedorismo, considerando sua carreira notável, você já enfrentou barreiras ou impedimentos por ser mulher?

Monique: Infelizmente, essas situações aconteceram. Houve casos durante a captação de investimentos em que, junto com minha co-founder Etienne Du Jardin, ouvimos comentários inapropriados como “vamos investir em vocês porque são bonitas”. Embora tenhamos recusado esse capital, fica evidente que enfrentamos episódios que, geralmente, os homens não vivenciam.

Em um evento, fui convidada para palestrar com a justificativa de preencher uma cota de diversidade, algo que poderia ter sido omitido. No entanto, utilizo essas experiências como combustível para seguir em frente e levar uma entrega ainda maior e mais surpreende. 

Como foi para você crescer em um ambiente empreendedor? 

Monique: Minha casa realmente é repleta de exemplos inspiradores e acho isso incrível. Quando a mãe tinha apenas 23 anos ela construiu uma enorme fábrica de biquínis em Santa Catarina. Então, minha irmã e eu crescemos entre máquinas de costura, aprendendo desde cedo o que significa ser uma mulher trabalhando. Isso foi fundamental para mim, pois também comecei a trabalhar desde os meus 15 anos.

Você, pai, sempre foi um grande motivador. Se algo não estivesse dando certo, você me incentivava a seguir em frente e ir para o próximo desafio. Quando eu estava na área de publicidade e ganhei prêmios em Cannes, por exemplo, você me encorajou a pedir aumentos, algo que as mulheres geralmente evitam. O exemplo impulsionou minha jornada, vocês sempre enfatizaram o valor do trabalho e a importância de conquistar as coisas passo a passo.

Agora, que também sou mãe, isso tudo se tornou ainda mais evidente. Quando preciso viajar ou enfrentar desafios, a culpa de não estar com eles às vezes vem junto, mas ela é acompanhada pela perspectiva e o legado que estou construindo para os meus filhos. Esse equilíbrio entre os diferentes papéis na vida é algo que aprendi com vocês também. A nossa casa sempre foi muito dinâmica! 

Por último, quais são suas referências femininas e por que elas são exemplos a serem seguidos? 

Monique: Primeiramente, a minha mãe que sempre foi e ainda é uma inspiração fundamental de uma mulher guerreira que faz acontecer, e não aceita não como resposta! Não posso deixar de mencionar uma amiga e futurista que admiro muito, Andréa Bisker, e uma outra amiga que também é referência em inovação para o varejo, Camila Salek.

 Além delas, não posso deixar de falar da minha sócia e co-fundadora Etienne Du Jardin, que é uma mulher inspiradora, que fomenta e ajuda a trazer mais diversidade para o mercado de tecnologia. Gostaria de trazer também Whitney Wolfhard, CEO e fundadora da Bumble, e Melanie Perkins, cofundadora e CEO do Canva, que são figuras que admiro profundamente e acompanho de perto. Cada uma delas não apenas fundou startups de sucesso, mas também trouxeram inovações que agregam valor significativo à sociedade.

Participar de grupos como Future Female, SHEs, Mulheres do E-commerce, She Makes e The New Squad, tem sido incrivelmente valioso para inspirar, fazer networking e trocar experiências. Essas comunidades proporcionam oportunidades para interagir com mulheres em cargos de liderança em diversos setores, o que é enriquecedor.  Também faço parte de alguns grupos de investidoras, como o Sororité, que é uma experiência valiosa que contribui para o empreendedorismo feminino.

Para fechar, gostaria de deixar uma frase da Nora Ephron, que gosto de pensar quando enfrento os desafios do dia a dia “Above all, be the heroin of you life, not the victim!”.

Inspirando o futuro do empreendedorismo

À medida que exploramos a incrível jornada de Monique Lima, somos levados a compreender não apenas a revolução do live&video commerce no Brasil, mas também a força de uma empreendedora dedicada a redefinir os padrões do comércio eletrônico.

A ascensão da Mimo Live Sales, hoje com mais de 200 marcas e 20 mercados diferentes, reflete não apenas a visão inovadora de Monique, mas também sua resiliência diante de desafios. Seu papel como líder não é apenas profissional; é também um exemplo para mulheres que buscam não apenas espaço, mas excelência no mundo empresarial.

Encerro por aqui a nossa série “Mulheres que Inspiram”, na qual tive a honra de entrevistar sete empreendedoras extraordinárias, cada uma contribuindo para iluminar o caminho do futuro do mercado. E deixam um legado que ressoa, nos conduzindo a superar desafios e moldar um futuro onde a igualdade de gênero e a inovação coexistam harmoniosamente. 

Mas esse não é o fim desta coluna, nas próximas publicações continuarei explorando assuntos que moldam nosso mundo, e nos desafia a pensar, a aprender e a agir. Até a próxima!

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