Estradas inteligentes para um trânsito mais seguro

Com a Internet das Coisas, cada dia mais a tecnologia permeia nosso cotidiano de maneira, muitas vezes, imperceptível. Diferente do uso doméstico, quase sempre buscando mais conforto, a automação em serviços de infraestrutura foca muito mais em pautas urgentes, como a da mobilidade urbana.

A população dos centros urbanos cresce a cada ano, principalmente em cidades com economias mais desenvolvidas. Naturalmente, isso resulta em um aumento da circulação de pessoas, seja de pedestre, em transportes coletivos, ou veículos próprios, criando uma pressão em sistemas de transportes, muitas vezes já sobrecarregados.

Qualidade de vida em cheque

Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que cerca de 1,3 milhão de pessoas morre em acidentes de trânsito por ano, com outras 20 a 50 milhões de vítimas não fatais. Muito disso é resultado de infraestruturas saturadas ou obsoletas, geralmente com ferramentas de gerenciamento e controle ainda muito dependentes de soluções analógicas, e dependentes do fator humano.

Além disso, as frotas ainda são, em sua maioria, compostas por veículos movidos por combustíveis fósseis. Isso aumenta a emissão de gases estufas nessas cidades, prejudicando a qualidade de vida, e indo de encontro aos protocolos internacionais de controle de gases estufa.

Viabilizando estradas inteligentes

Para otimizar o controle de tráfego urbano, tanto o monitoramento quanto o tratamento de dados precisa ser extremamente rápido e eficiente. Isto garante uma geração mais precisa de indicadores, essenciais para identificar gargalos de infraestrutura, priorizar ações e investimento, além de reduzir o tempo de resposta de casos urgentes, como acidentes.

Nos sistemas tradicionais, boa parte dessa estrutura ainda depende de pessoas, o que pode afetar etapas diferentes desses processos, em um efeito cascata. É aí que as tecnologias de automação e Internet das Coisas têm mais potencial para tornar o trânsito, além de mais seguro, mais sustentável.

Pilares para Infraestrutura Inteligente

A Intel é membro da 5GAA e trabalha ativamente com órgãos governamentais, fabricantes de automóveis e outros setores da indústria de tecnologia para implantar infraestrutura digital, como C-V2X (Cellular-Vehicle-to-Everything), no mundo todo. Com isso, a empresa visa combinar três pilares, Computação de Borda (Edge), IA e o 5G, principais para viabilizar estradas inteligentes, potencialmente revolucionando a mobilidade urbana.

A conectividade é um dos primeiros desafios para reduzir o fator humano e otimizar processos de controle. Com a expansão da rede 5G é possível integrar elementos-chave da infraestrutura inteligente em grandes centros urbanos. Associada à arquitetura CERA (Converged Edge Reference Architecture) da Intel, para convergência de cargas de trabalho de rede e IoT, a conectividade deixa de ser uma barreira.

Com isso, a Inteligência Artificial embarcada em diferentes dispositivos, como veículos elétricos, semáforos inteligentes, ou sistemas de pedágio e estacionamento automatizados, se encarrega de gerar transmitir um volume muito maior de dados — e muito mais rapidamente — para os servidores e centrais.

Outra tecnologia Intel aplicável à mobilidade urbana é o design de RSU (Roadside Unit), que pode ser acoplado a postes de iluminação ou outras instalações já existentes. As unidades são voltadas para análise de vídeo em tempo real, e favorecendo a utilização de Computação de Borda.

A associação desses fatores faz com que a depuração e tratamento desse volume massivo de informações seja mais rápido, e próximo dos pontos onde foram coletados. Isso agiliza a geração de indicadores mais precisos, adaptados para contextos locais, diminuindo também o tempo necessário para planejar e promover intervenções.

Abordagem Vision Zero

Proporcionar esse nível de automação em ruas e estradas facilita a implementação da abordagem Vision Zero de prevenção de mortes no trânsito. Vision Zero é uma estratégia para eliminar todas as fatalidades e lesões graves no trânsito, ao mesmo tempo em que aumenta a mobilidade segura, saudável e equitativa para todos. Essa abordagem foi inicialmente implementada na Suécia na década de 1990 e tem se mostrado bem-sucedida em toda a Europa. Agora, está ganhando momentum nas principais cidades americanas.

A maioria dos acidentes no trânsito, de atropelamentos a colisões, está quase sempre ligado a distrações, falhas de sinalização ou falta de manutenção de vias e/ou veículos.

Em um cenário de cidades inteligentes, falhas em qualquer um dos dispositivos integrados à rede acusam, sem a necessidade de interação humana, riscos de acidentes em potencial. Além disso, o sistema permite identificar rapidamente a abordagem mais eficaz para contornar o problema.

Consequentemente, se bem implementada, essa infraestrutura acaba desafogando também outros serviços essenciais, como redes de saúde, segurança pública, além de reduzir prejuízos à população e cofres públicos.

Salvando vidas, na prática

Apesar de ainda não serem uma realidade ampla, algumas iniciativas já começam a pavimentar o futuro das Estradas Inteligentes, inclusive no Brasil. Em março deste ano (2023), Fortaleza (CE) é a primeira cidade da América Latina a receber o SecurOS Soffit, uma faixa de pedestres com iluminação dinâmica gerenciada por IA.

O projeto em fase de testes é uma parceria da Intelligent Security Systems (ISS), empresa especializada em monitoramento inteligente de vídeo, com Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania.

Por meio de câmeras de vigilância controladas por IA, o SecurOS Soffit identifica a presença de pessoas na faixa e ilumina exatamente sua posição. Conforme o pedestre avança, as luzes de sinalização acompanham seu movimento, até que a travessia seja completa. O sistema chama a atenção do motorista para o pedestre, garantindo maior visibilidade e segurança para ambos, principalmente em regiões de curva onde a visibilidade pode ser prejudicada por pontos cegos.

Fabiano Sabatini é Gerente de Alianças e Especialista em IoT da Intel para a América Latina