Conexões móveis no mundo e no Brasil: uma avaliação

Novo relatório “The Mobile Economy”, da GSMA, trouxe números importantes sobre o estado das conexões móveis no mundo

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por ABES
10:00 am - 28 de março de 2024
telecomunicações, telecom, redes móveis, antena, provedores Imagem: Shutterstock

O novo relatório “The Mobile Economy” da Global System for Mobile Communication (GSMA) trouxe números importantes sobre o estado das conexões móveis no mundo1. O número de usuários de Internet móvel atingiu 4,7 bilhões de pessoas, perfazendo uma taxa de penetração de 58%, com estimativas de atingir 65% em 2030. Em termos de qualidade, em 2023, 59% das conexões eram 4G, com uma estimativa de baixar a 35% em 2030, ao passo que as conexões 5G representavam 18% em 2023, com previsão de crescimento para 56% em 2030.  

Além de ser a forma principal como as pessoas se conectam à Internet, o relatório ainda salienta alguns números impressionantes da “economia móvel”: o setor gera cerca de 19 milhões de empregos diretos e 16 milhões de empregos indiretos, representando cerca de 5,4% do PIB mundial em 2023.  

Portanto, podemos perceber a importância da economia móvel tanto para o impulsionamento das aplicações de Internet das coisas, gerando dados importantes para a tomada de decisão, bem como para a geração de empregos e desempenho econômico. No entanto, no que diz respeito à conectividade, é importante discutirmos alguns aspectos limitantes de um acesso à Internet restrito ao telefone celular. 

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De acordo com a última pesquisa TIC Domicílios, o Brasil possuía, em 2023, aproximadamente 156 milhões de usuários de Internet, o que representa 84% da população do país2. Deste total, 58% acessam a Internet somente pelo telefone celular e vale a pena averiguar o perfil dessa população. Ainda que este acesso pode ser relacionado com o uso exclusivo do dispositivo, não implicando necessariamente o uso da conexão móvel, as características da população nos sugerem um cenário diverso.  

Conforme o gráfico abaixo, a principal característica da população que usa Internet exclusivamente pelo celular é estar em área rural. Em termos regionais, a maior parte se encontra na região Nordeste, seguido das regiões Norte e Centro-Oeste. 

Gráfico 1 – Usuários de internet exclusivo por celular, por área e região (2023) 

Total de usuários de Internet (%)

Grafico 1

Ao observamos aspectos socioeconômicos e demográficos, é interessante destacar algumas características que refletem tanto uma herança de desigualdades que marcam o país, bem como aspectos da forma como alguns segmentos consomem a Internet. Acerca do primeiro ponto, vale destacar que o uso exclusivo de celular para acessar a Internet é maior nas populações indígenas (84%). Outro ponto de destaque é que 91% dos usuários de Internet analfabetos ou com educação infantil e 80% dos usuários de internet com ensino fundamental acessaram a Internet somente pelo celular. Ainda nos aspectos socioeconômicos, indivíduos com até um salário-mínimo ou sem renda também compõem o perfil da população que usa a Internet somente pelo celular. Por outro lado, e, termos de faixa etária é possível observar que o uso exclusivo de celular é mais frequente entre os indivíduos mais jovens e entre os mais idosos, o que pode revelar mais um padrão de consumo do que uma restrição, conforme observado nas demais categorias. 

Gráfico 2 – Usuários de internet exclusivo por celular, por cor, escolaridade, faixa etária e renda (2023) 

Total de usuários de Internet (2023) 

Grafico 2

 

Com os dados de uso exclusivo de Internet via celular, é possível discutir com mais detalhes os impressionantes números da economia móvel no mundo. Uma vez da alta proporção de pessoas que usam o celular como principal meio de usar a Internet, é importante garantir conexões mais rápidas e estáveis que possam conferir uma ampla experiência online. Conforme os dados acima mostram, esse uso exclusivo de celular traz consigo reflexos de desigualdades tradicionais que permeiam o país, bem como se fortalece via restrições financeiras. Aliado a isso, os dados da TIC Domicílios evidenciam que o uso exclusivo de celular traz dificuldades para o aprendizado de habilidades básicas necessárias para uma boa experiência online3. O relatório da GSMA traz previsões otimistas sobre a penetração do 5G, mas é importante garantir que essas conexões se ampliem para o maior número possível de usuários de Internet, conferindo condições de igualdade tanto para qualificação, quanto para busca de bem-estar. 

Por fim, é importante destacar que o Brasil teve avanços importantes na disseminação da conectividade, com a maior parte do país já conectada à Internet. No entanto, tanto as exigências de talento quanto de produtividade da economia digital possuem como premissa a presença de conexões de alta qualidade. Quanto maior o ecossistema de pessoas e organizações conectadas com rapidez e estabilidade, maior será o benefício geral, sendo importante um trabalho conjunto do setor público e privado para coordenar esforços de investimento e eliminar obstáculos para levar conexões e dispositivos de qualidade para todo o país.

Leonardo Melo LinsLeonardo Melo Lins é Pesquisador do Think Tank da Abes, participante do Programa de Pós-Doutorado do IEA/USP e Analista do Cetic.br | NIC.br. As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, os posicionamentos da Associação. 

 

 

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