Precisamos falar sobre o Dia Internacional da Mulher

A origem do 8 de março como Dia Internacional da Mulher remonta ao final do século 19, quando as mulheres dentro do movimento operário lutavam por melhores condições de trabalho nos Estados Unidos e na Europa.

O movimento feminista foi ganhando corpo e a data foi oficializada pela Organização das Nações Unidas em 1975. Hoje, o 8 de março faz parte do calendário de celebrações corporativas. É comum as empresas prepararem ações para comemorar a data, especialmente para as colaboradoras mulheres. Com sorte, a prática de entregar rosas vermelhas e chocolates às mulheres ao lado de um cartão parabenizando-as pelo seu dia está caindo em desuso. Nada contra chocolates e flores, até tenho amigos que são. Mas esse costume acaba por esvaziar o sentido da data, que não é de celebração, mas de reflexão: apesar de haver um senso comum de que homens e mulheres possuem direitos iguais, os números não mentem:

• A cada 7.2 segundos uma mulher é vítima de violência física. (Fonte: Relógios da Violência, do Instituto Maria da Penha)
• Mulheres recebem salário cerca de 38% menos que homens na mesma função
• Só 6,3% dos assentos nos conselhos de administração das 100 maiores empresas da América Latina são ocupados por mulheres, embora a presença delas em cargos de liderança aumenta em 21% a chance de uma empresa ter desempenho financeiro acima da média. (Fonte: CWDI)

Nos últimos anos, vimos crescer o debate sobre empoderamento das mulheres em diversas áreas, potencializado pelo fenômeno das redes sociais que permitiu às mulheres expressar suas indignações e se conectar, percebendo que não estavam sozinhas, como nos movimentos #meuprimeiroassédio e o #metoo. Passamos a questionar por que não estamos representadas em espaços entendidos como masculinos, como política, economia, tecnologia, entre outros.

Diversidade e inclusão começaram a aparecer no discurso de líderes em empresas. Elas começaram a perceber que o tema é um diferencial estratégico: empresas com equipes mais diversas tendem a lucrar mais. A pesquisa da McKinsey, consultoria empresarial norte-americana, mostra que a companhia que investe em diversidade, seja de gênero ou étnica, pode aumentar em até 33% sua rentabilidade. Os números foram analisados em mais de mil empresas em 12 países, incluindo o Brasil. Quanto mais diversa a equipe – e a métrica inclui mais mulheres nos cargos de chefia – melhor seu desempenho financeiro.

Essa tendência de mudança exige que as empresas repensem suas práticas e daí voltamos ao Dia Internacional da Mulher: vi muitas empresas se perguntando sobre o que fazer para marcar a data, já que chocolates e flores já caíram no clichê.  A Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, inclusive deu ótimas dicas neste post, sobre como promover debates sobre a importância de equidade de gênero nas empresas.

O principal ponto é não reduzir a causa à uma data. Datas são fundamentais porque mobilizam atenção e o debate público, e só assim conseguimos sair do lugar, mas se o discurso não vier acompanhado de práticas, nada muda. Não adianta debater se a empresa não tem ações para garantir:

• que o processo de recrutamento e promoção não é enviesado;
• que sua cultura seja de fato inclusiva;
• que haja igualdade salarial para homens e mulheres em cargos iguais;
• que não haja assédio no ambiente de trabalho;
• que haja representatividade em cargos de liderança.

Marcar o dia da mulher é importante, e pode ser um excelente primeiro passo, mas o objetivo da ação não deve terminar em si, “apenas para constar”. A primeira lei de Newton explica: se você quer que um sistema continue como está, basta não fazer nada e a inércia se encarregará do resto. Agora, se o objetivo é mudar, é preciso aplicar força. E isso requer trabalho, recurso, tempo e, principalmente, intencionalidade. Que as sementes plantadas nesse Dia da Mulher sejam regadas e floresçam.