Participação de executivos de TI nos conselhos de administração das empresas abertas

O cenário dos comitês de inovação, tecnologia e transformação digital no Brasil

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por IBGC
4:00 pm - 30 de junho de 2020

Um dos requisitos para que as companhias abertas possam participar dos segmentos especiais da B3 é possuir um conselho de administração. As 186 empresas desse grupo em 2019 têm, média, 7,4 titulares, cujas formações principais são Engenharia (29%), Administração de Empresas (24%), Economia (16%) e Direito (13%), segundo o estudo Board Index 2019, da Spencer Stuart. Os profissionais com formações nas áreas correlatas à Ciência da Computação ainda não chegaram a 1% dentro desse universo composto por 1.569 profissionais. Apenas 13 tinham como background funcional principal a área de tecnologia, digital ou inovação.

Considerando-se os últimos 35 anos no Brasil, ou seja, o período chamado de Nova República, as carreiras dos executivos brasileiros passaram por 20 ministros da Economia, seis moedas, inúmeras crises, grandes fusões e incontáveis mudanças das mais diversas naturezas. O ambiente econômico explica, em parte, a ascensão dos profissionais com background de finanças. Esse não é, porém, o único fator. Executivos dessa área tornam-se profundos conhecedores dos impactos das demais áreas nos resultados da organização, sendo responsáveis por manter a saúde financeira e participando de decisões relevantes de investimentos e endividamento, além de lidar com uma complexidade tributária que não causa inveja a nenhum país do mundo.

Nesses mesmos 35 anos, os executivos de tecnologia foram responsáveis por integrar todas as áreas da empresa. Sob sua gestão ocorreram as implementações de ERP que automatizaram todas as transações, habilitou-se toda a comunicação interna e externa da empresa por meio das redes e da internet, desenvolveu-se toda uma nova abordagem de vendas e marketing, para dizer o mínimo. Em suma, protagonizaram a entrega de todas as tecnologias que habilitaram as empresas a se tornarem o que são hoje e, consequentemente, tiveram uma posição privilegiada de compreender todos os processos da organização e suas interrelações.

Nas reuniões de conselho, o exame financeiro é imprescindível, mas além dos resultados do passado, é preciso olhar também para o futuro. E essa tarefa é mais complexa, especialmente porque requer compreender as inúmeras mudanças na sociedade, incluindo-se as mudanças comportamentais e de necessidades das pessoas, o fluxo global de capitais, o impacto das novas tecnologias, apenas para citar alguns fatores.

Os CIOs podem contribuir com essa visão, não apenas de tecnologias, mas de tendências futuras dentro do seu negócio. Sua atuação pode iniciar por comitês, que são os órgãos de assessoramento ao conselho de administração. A pesquisa Board Index 2019 mostra que nove empresas, do total de 186, possuem comitê de inovação, tecnologia e transformação digital. Em 2016 não havia um sequer. Ou seja, o número de comitês vem crescendo ao longo dos anos.

Participar de um conselho de administração pode ser uma das formas mais recompensadoras de devolver às empresas todo o conhecimento conquistado ao longo de uma carreira de sucesso. E o domínio em tecnologia e inovação é, indubitavelmente, extremamente precioso no mundo atual.

* Carla Leal é membro da Comissão de Inovação do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

* Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC

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