A química da cocriação

Cocriação é como um processo químico, onde as ideias de duas ou mais pessoas se misturam, e todas elas saem transformadas

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5:25 pm - 26 de março de 2021

Minha coluna se chama “cocriação e marketing” e é a primeira vez que escrevo sobre isso. Não trago aqui o conceito de “cocriação” apresentado em 2004 no livro “O Futuro da Competição”, até porque não o li. Mas conto o que eu mesma entendo sobre o tema.

Já percebeu que toda palavra que carrega o prefixo “co” suscita “associação”, “participação”, “simultaneidade”? Podemos dizer então que “cocriação” é o processo de criar junto. Simples assim.

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Mas e “criar”? O que significa isso num mundo regido por leis como a do químico Antoine Lavoisier, em que “…nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”? Não seria mais honesto, então, mudarmos o termo “cocriar”, para “cotransformar”, já que nada se cria?

Olha que não foi só o Lavoisier que observou transformações causadas em processos químicos. O notável psiquiatra Carl Jung, pela perspectiva dos arquétipos, escreveu que “o encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se houver qualquer reação, ambas saem transformadas”.

Portanto a cocriação é como um processo químico, onde as ideias de duas ou mais pessoas se misturam, e todas elas saem transformadas.

Por isso soa estranho afirmar que uma ideia criativa foi criada por uma única pessoa. Alguém sozinho. Uma ideia criativa parte de alguém que fora transformado pelo resultado de várias outras ideias, geradas por várias pessoas. Um texto lido, uma história, uma letra de música, uma conversa, tudo serve nesse “processo químico”.

Conclui-se também que todos somos (co)criativos em potencial. Basta se contextualizar, entender a necessidade das pessoas, manter suas antenas ligadas e estar disposto a trocar ideias, para transformá-las em soluções (co)criativas.

Uma ideia criativa é, essencialmente, uma ideia cocriativa.

Uma pessoa (co)criativa não é nada mais que um curador que saiba pinçar boas ideias.

Você percebe que isso é assim? Observe uma reunião de brainstorm. Se nunca participou de uma, sugiro selecionar um tema e provocar uma reunião. Escolha um desafio de qualquer natureza ou dificuldade e junte um grupo de amigos ou colegas do trabalho.

Eu já participei de centenas dessas reuniões – das mesas de bares aos canvas ultrassofisticados das escolas de criatividade. A metodologia pouco importa, desde que tenha ela um elemento fundamental: a suspensão dos julgamentos. A começar pelos seus próprios. Deixe as pessoas contarem tudo o que elas pensam sobre o tema, escute ativamente e atente-se para pinçar as ideias mais pertinentes.

Você vai perceber que não é simples não julgar. Por isso, há inúmeras dinâmicas para te auxiliar. Uma é “brainstorm negativo”. Ele é como o brainstorm comum, só que todos compartilham suas ideias ruins, algo do tipo “10 ideias de como não fazer isso”. Uma poderosa ferramenta para quebrar o gelo e diminuir o julgamento, além de gerar ótimas ideias.

Outra ferramenta muito bacana, porém, mais performática, é o “bodystorm”. Aqui se interage com a ideia como se ela existisse, usando o corpo. Por exemplo, imagine que o desafio criar um banner para vender um produto X. No bodystorm duas pessoas atuam, uma como o vendedor, a outra como o cliente, utilizando falas improvisadas, sugeridas pelo grupo. As reações espontâneas geram um rico resultado, além de ser muito divertido.

Mas seja o bodystorm ou o brainstorm, na mesa do bar ou em uma séria reunião de gestão de crise, uma coisa é fato: se houver um grupo de pessoas abertas, sem julgamentos e interessadas na solução, pronto, a química da cocriação acontece. O resultado é um deleite, pois não há melhor sensação que a de cumprir, juntos, um objetivo. Permita-se esse exercício.

Por fim, as palavras com prefixo “co” sempre me interessam. Cocriar, coinventar, colaborar, coexistir. Não pelo prefixo, mas pela transformação. Nos últimos 10 anos, semanalmente estou metida em alguma reunião de cocriação com clientes, fornecedores ou amigos. Acho que é porque eu amo a química do fazer junto.

Espero que você também descubra essa química transformadora do cocriar e encontre o (co)criativo que há em todos, inclusive em você. Trarei aqui histórias desse tema pra te inspirar nas próximas semanas!

*Gabriela Vicari é Diretora de Comunicação e Marketing da IT Mídia 

 

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