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Profissão de futurista é nova tendência. Já pensou em ser um?

Um novo perfil de profissional está no radar das empresas: os futuristas. Já ouviu falar neles? Tem nada a ver com previsão de futuro, bola de cristal, ou quaisquer outros métodos para tentar descobrir o que pode acontecer daqui a alguns anos. Antes de procurar no Google apenas por “futurista” ou “futurismo”, outro alerta: este campo de estudos não tem nenhuma relação com o manifesto futurista, movimento artístico e literário do início do século XX.

 

 

Os futuristas nada mais são que profissionais que se debruçam sobre “estudos de futuros”, tradução em português para a disciplina “futures studies” – também conhecida globalmente como “foresight”. Ao redor do mundo, essas pessoas têm sido recrutadas para compor áreas estratégicas de empresas privadas e públicas. O motivo é simples: passamos por um momento de incertezas e transformações aceleradas em vários setores. As organizações querem compreender, com antecedência, os possíveis movimentos do futuro. Essa leitura é cada vez mais crucial: um passo à frente ou atrás pode significar mais dinheiro no bolso ou a falência do negócio.

 

 

“Futurista profissional é alguém que domina o glossário do futuro, interpreta sinais e ajuda as pessoas e empresas a construir o futuro na prática. Não é previsão, nem futurologia”, explica Jaqueline Weigel, CEO da W Futurismo, que oferece cursos abertos, programas in company e trouxe ao Brasil a certificação internacional em foresight estratégico, iniciativa ao lado de Rosa Alegria, uma das pioneiras em estudos de futuros no Brasil. Segundo ela, a profissão é recente no país e está dando os primeiros sinais de avanço. Para se ter uma ideia, a associação que representa os profissionais, a Association of Professional Futurists (APF), reúne membros em mais de 35 países – Jaqueline é uma das poucas integrantes brasileiras da lista.

“Futurista profissional é alguém que domina o glossário do futuro, interpreta sinais e ajuda as pessoas e empresas a construir o futuro na prática. Não é previsão, nem futurologia”

 

Carreira de futuro

 

 

A expectativa não poderia ser das melhores para quem deseja mergulhar na área. Ainda que o segmento seja embrionário no Brasil, as possibilidades de crescer nos próximos anos são altas. Nas palavras de Jaqueline, são “grandes as chances de explodir exponencialmente”. Isso porque companhias e profissionais de diversos setores vão precisar olhar para o futuro, não com “achismos” ou previsões infundadas, mas com base em metodologias fundamentadas. “Todos nós seremos pensadores de futuro, e isso é uma mudança cultural.”

 

 

Em outros países, existem cadeiras e disciplinas específicas para estudos de futuros nas universidades. Nos Estados Unidos, por exemplo, o primeiro curso de mestrado na área foi criado na década de 1970 pela Universidade de Houston. Há cursos, ainda, na Universidade de Jerusalém e na Universidade de Turku, na Finlândia. “No Brasil, apesar de termos grandes profissionais, ainda não conseguimos dar um passo à frente. Somos um dos poucos países do G20 que não tem uma cadeira de estudos de futuro ligada ao governo central”, aponta Gil Giardelli, cofundador da 5Era.

 

 

Segundo o especialista, as carreiras preditivas tendem a ser mais demandadas daqui pra frente. A procura por profissionais já começou. “Já existem várias empresas com departamentos de gestão da mudança”, exemplifica. Para trilhar a carreira de futurista, um requisito fundamental é ter uma curiosidade profunda – uma curiosidade embasada em métodos, e não puro achismo.

 

Para trilhar a carreira de futurista, um requisito fundamental é ter uma curiosidade profunda – uma curiosidade embasada em métodos, e não puro achismo

A lista de habilidades e competências envolve ter um olhar analítico e noções dos impactos tecnológicos, inclusive das implicações éticas no uso de novas ferramentas. Entender as transformações nos países é algo importante. Giardelli dá como exemplo a “economia da IA”, ou “AI Economy”.

 

 

Cursos online e presenciais

 

 

Para começar o percurso, os especialistas indicam procurar e-books, textos e vídeos nos sites das associações e federações globais de estudos de futuros. Um passo seguinte pode ser experimentar um curso de introdução, de curta duração. A W Futurismo oferece o programa online “Alfabetização para o futuro”, com nova turma aberta em fevereiro de 2020 e duração de seis semanas. Já a certificação internacional em foresight estratégico terá a próxima turma em janeiro de 2020.

 

 

Escolas como Aerolito, MindSchool e Escola Design Thinking têm cursos online e presenciais sobre estudos de futuros e design de futuros desejáveis, todos que podem servir como uma porta de entrada. Para quem deseja de fato se aprofundar no tema, além da certificação, uma recomendação é buscar universidades de referências nos Estados Unidos ou na Finlândia, por exemplo. Em 2019, foi lançado o MBA em Estudos do Futuro pela Universidade São Judas Tadeu, em parceria com a Finland University e o Instituto Ânima, com duração de 15 meses.

 

 

Comportamento humano

 

 

O publicitário Jefferson Zysko é especializado em marketing digital e nos últimos anos começou a se interessar por estudos de futuros. Em 2017, fez ocurso “Friends of Tomorrow”, na ocasião ministrado por Tiago Mattos na Perestroika e hoje oferecido pela Aerolito, novo negócio criado por Mattos. A curiosidade se transformou em uma nova opção de curso na prateleira da MindSchool, escola fundada por Zysko em 2014. Desde o ano passado, o curso online “Introdução ao futurismo” formou mais de 1.000 pessoas. “Em 2020, vamos lançar um curso de futurismo presencial. Geralmente, profissionais de comunicação e empresários acabam se interessando mais pelo curso”, conta o diretor-executivo da MindSchool.

 

 

Segundo Zysko, a principal habilidade de um profissional ehttps://itforum.com.br/wp-content/uploads/2018/07/shutterstock_528397474.webpso de futuro é estar aberto ao novo e, assim, enxergar os movimentos de mercado que podem dar pistas ou indicar possíveis tendências para os próximos anos. Para ele, o profissional tem potencial de ser um mentor de empresas, para que as companhias possam tomar as melhores decisões pensando no longo prazo e na perenidade dos negócios. “A grande questão é como consigo olhar para o ser humano hoje e entender as necessidades do consumidor amanhã ou daqui a dez anos. Se antes queríamos ter posses, bens, hoje cada vez mais os jovens pensam em ter acesso”, exemplifica.

 

A principal habilidade de um profissional ehttps://itforum.com.br/wp-content/uploads/2018/07/shutterstock_528397474.webpso de futuro é estar aberto ao novo e, assim, enxergar os movimentos de mercado que podem dar pistas ou indicar possíveis tendências

 

O olhar curioso de um futurista vai além de tentar entender os sinais de mudanças tecnológicas. Tem muito a ver com as transformações sociais, econômicas, políticas e, principalmente, os novos comportamentos do ser humano. “O futurista é muito mais alguém que analisa comportamentos do que números”, observa o empreendedor Luiz Candreva, head de inovação da Ayoo e coordenador do Disruptive MBA. Os movimentos capturados, claro, serão transformados em dados e números.

 

 

Para Candreva, o interesse por histórias ajuda na carreira. Ele mesmo acabou descobrindo o tema durante sua trajetória no empreendedorismo. Depois de uma carreira nas áreas de vendas e marketing, montou uma empresa de desenvolvimento de aplicativos, a CoLab, e um negócio em São Francisco, na Califórnia, que faliu em menos de quatro meses. “O fato de empreender, sobretudo em tecnologia, me fez olhar para frente, para antever oportunidades. Significa estar aberto para experimentação, e isso pressupõe vivência”, afirma.

 

 

Por mais que a intenção não seja se tornar um futurista, os especialistas são unânimes: as habilidades e competências de profissionais que estudam o futuro serão cada vez mais importantes para diversas carreiras. Significa ampliar o olhar, prestar atenção nos sinais e entender os impactos da tecnologia. “Neste novo mundo profissional, as pessoas precisam saber o que querem ser e fazer, além de pesquisar para onde a carreira está indo, se está em formação ou extinção”, diz Jaqueline, da W Futurismo. Quanto antes começar essa apuração, maiores serão as chances de enxergar os sinais do futuro. E nem precisa de cartas ou bola de cristal.

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