5G habilita nova economia no Brasil, mas tem desafios logísticos à frente
Em plenária no IT Forum Trancoso, Vivo e KPMG refletiram sobre impactos positivos da nova geração de conectividade na economia brasileira e desafios
Uma quebra de paradigma que permitirá a construção de uma nova economia para o Brasil, essa foi a avaliação de participantes da plenária “5G e o Futuro dos Negócios“, que debateu o impacto do 5G no País na manhã desta sexta-feira (20), durante o IT Forum Trancoso.
Com participação de Alex Salgado, vice-presidente de B2B da Vivo, e Marcio Kanamaru, sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da KPMG, o painel abordou as potencialidades da conectividade móvel de nova geração para o Brasil em um momento em que o 5G se aproxima de implementações comerciais.
“No Brasil os negócios vêm se digitalizando cada vez mais. O 5G vai impulsionar ainda mais nosso crescimento e desenvolvimento nos próximos anos, porque traz possibilidades infinitas na utilização de conectividade, que é vital para os negócios digitais”, expôs Salgado, da Vivo, no início do debate. “Ele vai ser uma das fonte de crescimento da maioria dos negócios nos próximos anos, seja de empresas de tecnologia que comercializam soluções, seja para empresas que adotam tecnologias.”
Conforme destacou o executivo, o 5G habilitará ganhos em ao menos quatro áreas estratégicas para empresas: rendimento, através de maior velocidade de tráfego e performance; confiabilidade para gestão de serviços; mobilidade, através da maior escala de conexão de dispositivos; e menor latência e maior volume de dados.
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Por conta destes ganhos, diversos setores da economia devem se beneficiar, incluindo o varejo, através de aplicações de VR e AR; saúde, com ganhos e telemedicina; e educação, através da massificação do acesso a salas de aula remotas e inteligentes. No contexto brasileiro, o agro também deve se destacar.
“Eu costumo comparar a chegada do 5G à uma tempestade perfeita para a economia brasileira. A gente terá sendo injetado na economia brasileira, segundo estimativas de um estudo feito pela Nokia, US$ 1,3 trilhão até 2035. Isso habilitando não só o 5G, mas tudo que está ali periférico, como IoT, realidade aumentada, realidade virtual, drones, entre outras”, pontuou Kanamaru, da KPMG do Brasil.
Esses avanços, destacou o consultor, virão, principalmente, através da arquitetura mais descentralizada do 5G. Enquanto redes 3G e 4G dependiam de uma coleta e processamento de dados mais sistemático, o 5G, aliado à computação de borda, permitirá mais agilidade e eficiência na tomada de decisão para negócios.
Desafios logísticos ainda existem
Apesar de suas potencialidades, o caminho para implementação do 5G no Brasil não é sem seus desafios. Do ponto de vista regulatório, a minuta do edital do 5G esbarrou em um pedido de vista do ministro Aroldo Cedraz, do Tribunal de Contas da União (TCU) na última quarta-feira (18). A decisão de Cedraz vai ao encontro das recomendações das áreas técnicas do tribunal, que apontavam problemas no texto, e deve adiar o leilão do espectro.
Mas além do leilão, outras questões ainda se colocam no caminho do 5G no País. Segundo Salgado, da Vivo, o acesso aos terminais capazes de suportar o 5G, incluindo smartphones nas mãos de consumidores, é um deles. “Tem melhorado, mas ainda é muito caro”, pontuou. “Vamos lançar [o 5G] em um ponto em que estamos chegando a um preço acessível para alcançar escala mundial.”
Kanamaru, por sua vez, avaliou que o 5G ainda mostra desafios “proporcionais” ao seu potencial. Entre eles está a própria estrutura que habilitará o uso da tecnologia: conforme destacou, estimativas apontam que o 5G exigirá cerca de dez vezes mais antenas que o 4G. “Isso, por si só, é um processo logístico que vai requerer uma articulação para implementação, especialmente em áreas urbanas com barreiras geográficas, como prédios”, disse.
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Ainda sobre a estrutura que será exigida pela tecnologia, Kanamaru lembrou que o 5G exigirá a expansão da oferta de fibra ótica para seu backbone, e uma implementação “precisa” e de “alta qualidade” que ainda é problemática no Brasil.
“Não sei se alguém já parou para olhar como alguns fios estão implementados de forma miserável em algumas zonas urbanas, como na Vila Olímpia [em São Paulo”, opinou. “Isso daí precisa ser ordenado. Precisa ser feita uma construção limpa, com qualidade, para garantir a confiabilidade e qualidade que a rede 5G precisa”.
Um estudo da própria KPMG, disse o consultor, estima que a organização dessa estrutura leve “meses” e gere um impacto de ao menos R$ 90 bilhões para o ordenamento. “Esse é um tema que está em discussão”, completou. “É um desafio bastante grande que vai ter que ser resolvido para garantir a implementação do 5G”.
Por fim, o sócio-líder da KPMG ainda ressaltou o próprio custo do 5G como um terceiro desafio para o setor, somando a estrutura, compra da frequência e contrapartidas que deverão ser feitas pelas operadoras. Para amortizar este volume necessário de investimentos, Kanamaru colocou, a cooperação entre as operadoras será vital. “Um desafio importante aqui, que as operadoras já aprenderam e tem um modelo de cooperação, é o compartilhamento de infraestrutura, que é essencial”, disse.
CIOs, CTOs e 5G
O amplo espectro de possíveis aplicações comerciais e de negócio do 5G também sinaliza um novo momento de desafios para gestores de infraestrutura de TI de empresas. De acordo com estudos promovidos pela KPMG, CIOs, CDOs e CTOs têm enxergado a grande capacidade de disrupção do 5G e potencial da tecnologia – em especial como ferramenta de inovação.
“Existe não uma preocupação, mas uma disposição dos CTIOs, de criar ambientes de inovação a partir de desenvolvimento de cocriação”, colocou o sócio-líder da empresa. “O 5G acaba aglutinando, fazendo com que empresas pensem dessa maneira”.
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Exemplo desse tipo de transformação vem da própria Vivo. Segundo Alex Salgado, vice-presidente de B2B da empresa, a operadora já tem preparado sua estrutura para oferta do chamado 5G “built to suit”, ou 5G sob demanda.
Como a tecnologia do 5G permite uma subdivisão de rede para espaços de uso específicos, a operadora espera ser capaz de implementar “recortes” de sua rede para outras organizações que buscam implementar projetos sob demanda de 5G.
“Não era feito isso com as tecnologias que tínhamos até então”, explicou Salgado. “Com o 5G, com o network slicing, a gente vai ter o potencial de massificar soluções de mobilidade onde hoje não exista mobilidade para viabilizar casos de indústria”. Por conta da distância de grandes centros urbanos, o agro é um dos potenciais casos de uso nesse setor, com, por exemplo, projetos de automação de plantio e colheita e para a redução de impacto ambiental.
“5G é uma tecnologia que, hoje, ninguém sabe, de fato, onde vão terminar os casos de uso. Mas certamente é uma tecnologia que, se nós trabalharmos juntos para criar casos de uso no futuro, vai trazer um impacto enorme para nossa sociedade e nossos negócios”, finalizou Salgado, da Vivo.