Futuro da transformação digital envolve dados, pessoas e arriscar

IBM, Gerdau, Raízen e USP debateram experiências com inovação no painel "O futuro e a próxima curva da transformação digital", no IT Forum Trancoso

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2:22 pm - 19 de agosto de 2021
painel ibm it forum trancoso Reprodução/IT Mídia

Dados, pessoas e tomada de riscos para inovar: estes são três dos elementos essenciais para o futuro da transformação digital dentro de empresas, avaliaram representantes do setor de tecnologia reunidos na plenária “O Futuro e a Próxima Curva da Transformação Digital”, apresentada na manhã desta quinta-feira (19) pela IBM.

Mediado por Wagner Guedes, líder de desenvolvimento de negócios para indústria da IBM Brasil, o painel trouxe duas gigantes do setor industrial no Brasil, Raízen e Gerdau, e um representante da academia para debater o tema durante a abertura do segundo dia do IT Forum Trancoso.

Gigante brasileira do setor de energia, a Raízen reforçou suas iniciativas de transformação digital há quatro anos através da criação de um hub próprio de inovação, o Pulse. Localizado em Piracicaba, no interior de São Paulo, o espaço foi o primeiro hub corporativo agtech do país e é visto pela companhia como seu veículo de conexão com o ecossistema de inovação.

Segundo Fábio Mota, vice-presidente de Inovação e do Pulse na Raízen, o espaço combina colaboração ativa com startups em ambiente aberto de experimentação, tentativa e erro. A iniciativa tem ajudado a empresa a navegar pelas rápidas mudanças do mercado, além de desenvolver as capacidades da Raízen para se relacionar com modelos diferentes da TI tradicional.

“Trabalhar com a IBM é de um jeito, com uma startup é de outro jeito, e todos têm suas fortalezas”, pontuou. “Conseguir se conectar com ambos do jeito certo potencializa a chance de resultado. E quando a gente lida com o ecossistema de inovação tem o risco, uma taxa de incerteza maior, mas os prêmios também são muito maiores quando se acerta.”

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Arriscar, no entanto, não é o único passo. Paralelamente, afirmou o executivo, a empresa promoveu a adoção de metodologias ágeis dentro de sua equipe de tecnologia e construiu uma estrutura independente de dados. Composta por cientistas de dados e engenheiros, a equipe é responsável por uma análise constante da agenda de TI da Raízen e por promover uma cultura orientada por dados junto às áreas de negócio da empresa. “É um setor que vem crescendo a passos largos, dobrando de tamanho todo ano”, comentou Mota.

No fronte de pessoas, Mota destacou o impacto da pandemia no processo de aceleração da digitalização de empresas. Junto com o avanço de tecnologias de colaboração, a nova realidade de trabalho híbrido, afirmou, colaborou com o fim das fronteiras de escritórios. “[Isso] acaba ajudando muito na integração de times, que estão cada vez menos ‘silados’”, disse.

“Transformação digital para a Gerdau é transformação de negócio”, afirmou Gustavo França, CIO global e CDO da companhia siderúrgica brasileira. “É uma jornada contínua e consistente, de quebra de paradigmas, de experimentação, de tomada de risco, de inovação, de apostar na agilidade, e de trazer a simplicidade na forma como a gente opera o negócio de hoje e o negócio que a gente está construindo”.

A estratégia da companhia, explicou o CIO, é baseada na ideia de ser uma organização  “ambidestra”: trabalhar com capacidades atuais, mas sem perder de vista os projetos de inovação e oportunidades envolvendo novas tecnologias. “Ousando no sentido de entender os ‘moonshots’, entender as apostas adjacentes ao nosso negócio que usam gente, tecnologia e dados para fazer esse desbloqueio e trazer grande impacto em termos de resultado de negócio”, explicou.

Nesse contexto, o executivo destacou que sua visão sobre o papel de um CIO é o de ser o “habilitador” do movimento transformação digital. Segundo França, junto com outras áreas de negócio, o executivo de tecnologia deve estar focado na estratégia da companhia e atento ao que se busca em termos de geração de valor.

É essencial também trabalhar conceitos ágeis entre seus times e promover o reskilling e upskilling de seus colaboradores. Parte desse trabalho vem através do chamado Gerdau Next, espaço de novos negócios que usa times multidisciplinares, orientados pelas mesmas apostas, buscando atender objetivos estratégicos através da inovação.

“Tudo isso com muita centralidade em gente, com muita atenção ao mindset digital, que é o fundamental para termos voos consistentes nessa transformação. Inevitavelmente a gente sabe que a transformação se baseia no comportamento e na cultura certa”, anotou.

Educação, inovação e talentos

Professor titular da Escola Politécnica e diretor do Centro de Inteligência Artificial da Universidade de São Paulo, Fábio Cozman colocou a academia como uma das “pernas” necessárias para o avanço da inovação e promoção da transformação digital no país.

Segundo o professor, as últimas duas décadas aproximaram as universidades globais de demandas voltadas para inovação, que trouxeram mais protagonismo para a pesquisa focada em inovação dentro destas instituições.

“A relação entre pesquisa e inovação ficou mais forte, todas as universidades estão fazendo programas que valorizam inovação. Temos a Inova USP, que procura congregar plataformas de conexão com startups e empresas”, disse. “Eu sinto muito interesse dos alunos e pessoas em volta da universidade em perseguir o empreendedorismo.”

Em parceria com empresas como a IBM e com outras instituições de ensino, como o ITA, a USP tem promovido pesquisas, por exemplo, na área de inteligência artificial. Entre as áreas exploradas estão processamento de linguagem natural em português e soluções para tomada de decisões no agro. As pesquisas também são multidisciplinares, envolvendo pessoas de áreas como ciências sociais e direto para abordar temas como o futuro do trabalho.

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Para que essa relação prospere no Brasil, no entanto, o professor alerta para a necessidade de um passo atrás: o desenvolvimento de talentos. “O que não falta no Brasil são talentos”, lamentou. “Infelizmente a gente às vezes perde alguns para o exterior. Eu diria que o primeiro ponto é que a educação tem que prover condição para os talentos se formarem. E temos a matéria prima. Os talentos e infraestrutura de pesquisa montada”, afirmou.

Mota, da Raízen, e França, da Gerdau, ecoam o argumento. Segundo o vice-presidente de Inovação e do Pulse na Raízen, parte importante desse desenvolvimento de talento vem através da busca por mais diversidade por companhias. A Raízen, destaca, promove programas de inclusão para profissionais refugiados e para lideranças femininas.

“Assim como o mundo híbrido fez com que nossa vida profissional e pessoal ficasse cada vez mais misturada, a mesma coisa vai ser a conexão empresa – sociedade. Não dá para esperar que o mercado forme, a empresa tem que formar”, avaliou.

O CIO da Gerdau, por sua vez, destacou a necessidade de que empresas se atentem para as competências humanas de seus profissionais como forma de investir em talentos, não apenas conhecimento teórico.

“O para frente vai envolver muito a capacidade de nós olharmos para as habilidades de cada profissional e muito menos para o hard skill que eles possuem”, explicou. “E ter o coeficiente de trabalho nas organizações de fazer o desenvolvimento mais técnico com programas internos”.

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