Será que Minecraft é o futuro da educação?

Gamificação pedagógica fornece insights sobre mudança de mentalidade fundamental que educadores e alunos devem abraçar na era digital

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2:35 pm - 10 de abril de 2019

A pergunta fundamental que deveríamos perguntar às crianças à medida que elas crescem não é mais o que elas querem “ser”, mas o que elas gostariam de “fazer”. Quais problemas elas têm paixão em resolver e quais são as habilidades que lhes permitirão atingir seus objetivos?

Modelos tradicionais de educação estão em desacordo com esse tipo de pensamento, no entanto, já que eles ainda são construídos em grande parte em torno da mitologia dos objetivos finitos. O conceito de que existem marcos claros e uma linha final para o aprendizado nunca foi ideal, mas é ainda mais inadequado em um mundo com tecnologia. Para prosperar em ambientes voláteis, devemos abraçar a aprendizagem ao longo da vida.

Uma solução que os educadores estão implantando para preencher essa lacuna entre os sistemas tradicionais de fornecimento de aprendizado e os fluxos de trabalho e expectativas mais recentes, é o uso de plataformas de aprendizado com gamificação. A aprendizagem gamificada é muito útil para cultivar uma mentalidade em que a resolução de problemas se torna uma atividade divertida, e o fracasso é visto como um trampolim.

Se, assim como eu, você tem idade suficiente para ter crescido lado de Mario ou Sonic, é improvável que se lembre exatamente quantas vezes “morreu” no caminho, ou exatamente como você adaptou a sua estratégia gradualmente após cada revés nesses jogos clássicos. Os momentos em que você derrotou o chefe e resgatou a princesa, no entanto, tendem a ficar com você.

O vice-presidente de Educação da Microsoft, Anthony Salcito, conversou comigo durante a conferência Education Exchange, realizada recentemente em Paris e que reuniu um grupo diversificado de educadores de todo o mundo para discutir como aproveitar melhor a tecnologia, como Minecraft, para oferecer melhores resultados de aprendizado para estudantes.

Para aqueles que não estão familiarizados com o Minecraft, é um jogo que permite a construção de mundos 3D a partir de cubos texturizados, mas os jogadores devem explorar e coletar recursos para fazer isso. Existem modos multiplayer individuais e colaborativos. O game foi originalmente publicado em 2011, antes de ser adquirido pela Microsoft em 2014. Até o momento, vendeu mais de 121 milhões de cópias, ficando atrás apenas do Tetris em termos de popularidade. Desde então, a Microsoft desenvolveu o Minecraft: Education Edition, que é usado nas escolas e possui ferramentas e funcionalidades pedagógicas adicionais.

Aprendendo ao ensinar
“Quando você acha algo prazeiroso, você o descobrirá por completo. Eu aprendo mais com os alunos do que com as pessoas que realmente codificam o jogo em Redmond”, afirma Meenoo Rami, Educador Defensor do Minecraft e da Microsoft.

Já que muitos muitos alunos já estão familiarizados com a plataforma do jogo em casa, os educadores são capazes de aproveitar a experiência do aluno e se concentrar nos aspectos de aprendizagem, em vez de cobrir a mecânica da própria tecnologia. O jogo também estimula situações em que os usuários “especialistas” são mentores mais jovens e também ajudam os professores que podem não estar tão familiarizados com a plataforma quanto seus alunos, promovendo ainda mais um espírito colaborativo na sala de aula.

Construindo habilidades modulares
Outra vantagem de Minecraft é que ele ajuda a incentivar uma abordagem modular para a criação de qualificações. Quando cada novo problema exige que você encontre e aproveite diferentes recursos, materiais e colaborações, você começa a visualizá-los como peças de um quebra-cabeça, para as quais existem várias soluções possíveis. É por isso que a LEGO e o Minecraft provaram ser tão populares e eficazes nesses contextos, já que seu design principal é em si mesmo modular.

Uma pesquisa recente, que entrevistou professores em 11 países de quatro continentes, revelou que a capacidade de comunicação e de tomada de decisão dos alunos foi impactada positivamente pelo tempo em que passaram jogando Minecraft, e que o jogo cultivou uma mentalidade criativa de solução de problemas.

No Minecraft, começar de novo representa uma nova oportunidade em vez de uma provação lamentável. Permanecer calmo e focado na solução de um problema é uma habilidade que provavelmente servirá bem aos alunos durante suas carreiras acadêmicas e profissionais.

Mentalidade de crescimento
Os professores entrevistados relataram que os alunos que usavam a plataforma estavam confiantes, interagindo livremente durante as aulas, exercendo a atividade com frequência sem instruções dos professores e superando desafios como equipes. Eles descobriram que trabalhar com o jogo facilitou a solução de problemas de acessibilidade, na medida em que alunos com diferentes estilos e habilidades de aprendizado conseguiram mais facilmente encontrar um terreno comum e compartilhar o que descobriram em vários formatos.

Eles também se sentiram à vontade experimentando, e perceberam o fracasso como parte do processo criativo de aprendizagem. Essa mentalidade de resiliência e crescimento é muito reconhecida como um traço-chave desejável pelos empregadores, especialmente em setores inovadores como a tecnologia.

Paradoxalmente, no entanto, quanto mais professores e alunos utilizavam a plataforma Minecraft para fornecer conteúdo pedagógico e melhorar os resultados de aprendizagem, menos ênfase davam ao próprio jogo. Como é, frequentemente, o caso com soluções de tecnologia de sucesso; a medida de seu sucesso depende de como elas se tornam invisíveis, permitindo que o conteúdo brilhe.

Aprendizagem social e emocional
Considerando que o videogame é frequentemente percebido como sendo socialmente isolador, é um tanto surpreendente que uma das áreas que foi melhorada dramaticamente pelo envolvimento com a plataforma Minecraft for Education foi a aprendizagem social e emocional (SEL).

Um estudo realizado pela Microsoft tem mostrado um número crescente de escolas à frente do SEL, uma abordagem que cria habilidades e competências que ajudam os alunos a ter sucesso na escola, no trabalho e na vida.

No contexto da educação básica, o SEL é o processo pelo qual os alunos adquirem e aplicam efetivamente os conhecimentos, atitudes e habilidades necessárias para entender e gerenciar emoções, definir e alcançar objetivos positivos, sentir e mostrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relacionamentos, e tomar decisões responsáveis.

As iniciativas do SEL prosperam quando inseridas em disciplinas do currículo escolar tradicional ao longo do dia, abordando problemas do mundo real ou, no mínimo, problemas que “parecem” reais para os alunos.
A pesquisa mostrou que os estudantes expostos ao SEL estão mais bem preparados para administrar a si próprios e exibir agência sobre as sua próprias experiências acadêmicas, possuem uma maior compreensão das perspectivas dos outros e uma melhor capacidade de se relacionar efetivamente com eles, sendo capazes de fazer escolhas sensatas sobre decisões pessoais e sociais.

A aprendizagem social e emocional ganha vida quando o conhecimento é aplicado para resolver problemas relevantes, seja no contexto de cenários do mundo real ou disfarçados de brincadeira. Um dos melhores exemplos que Rami me mostrou foi como os estudantes precisavam alavancar a química básica para obter materiais como o látex. Por sua vez, isso pode ser usado para fazer balões. E esses balões podem ser anexados aos porcos caprichosos que povoam o jogo (uma vez que você consiga pegá-los, é claro). Tenho a sensação de que aplicar química para fazer os porcos voarem é o tipo de coisa que pode fazer um aluno lembrar-se de que componentes químicos do látex são muito melhores do que memorizar a tabela periódica. Eu sei que a imagem daqueles porcos quadrados flutuantes ficou na minha mente.

Os objetivos abrangentes do SEL incluem referências de desenvolvimento em cinco domínios-chave de competência social e emocional, englobando a autoconsciência, o autogerenciamento, a consciência social, as habilidades de relacionamento e as habilidades responsáveis pela tomada de decisão.

Mais que somente um videogame
O Minecraft cria oportunidades para experiências de aprendizagem transformacional, diz a Dra. Michelle Zimmerman, uma pesquisadora educacional que trabalha na Renton Prep Christian School, uma instituição que faz uso extensivo da plataforma na oferta de seu currículo.

Os educadores têm a oportunidade de ajudar os alunos a desenvolver empatia por meio de jogos e imaginar como eles gostariam de ser tratados, conversar sobre cenários nos games e em suas vidas pessoais, e discutir como fariam algo diferente (ou como queriam ser tratados de forma diferente), logo praticam essas habilidades. A tecnologia não impede nossa capacidade de construir relacionamentos; por outro lado, no que diz respeito aos jogos em sala de aula, pode servir para reforçá-lo ainda mais. Sabemos que a conexão humana pode ser poderosa em muitos ambientes e configurações. O jogo não é uma exceção, conclui Zimmerman.

É um tanto irônico, Salcito diz, que à medida que o mundo se torna cada vez mais digital, empresas como a Microsoft precisam mais do que nunca contratar pessoas com habilidades interpessoais. À medida que a Inteligência Artificial (AI) transforma o mercado de trabalho, a importância das habilidades humanas, como criatividade, compreensão interpessoal e empatia, torna-se exponencialmente mais valiosa.

Portanto, aqueles que podem fazer conexões e fomentar a colaboração em equipes distribuídas globalmente, serão capazes de se relacionar, empatizar e inspirar seus pares. E que a valorização das chamadas “soft skills” no ambiente de trabalho está longe de ser uma tendência exclusiva da Microsoft. Porque mais empresas estão exigindo isso, as universidades também estão girando no sentido de oferecer cursos “baseados em missões”. Em outras palavras, você se inscreve para explorar como resolver um problema em vez de “se tornar” algo.

Stephane Cloatre, Mentora do Minecraft Global, que trabalha em parceria com a Microsoft, diz que essa flexibilidade também permite que a plataforma evolua e incorpore tecnologias emergentes à medida que elas se tornam mais predominantes para os estudantes. A realidade mista, que é um grande foco para a estratégia da própria Microsoft, é um excelente exemplo disso.

Rami acrescenta que alunos e professores perguntam o tempo todo sobre quando a funcionalidade imersiva será lançada na plataforma, mas para Cloatre, as peças estão no lugar para que isso aconteça, já que o Minecraft é praticamente uma plataforma de design 3D. É fácil ver como isso pode realmente se tornar uma via empolgante no futuro, à medida que a tecnologia imersiva se torna difundida, exigirá muito talento e profissionais qualificados para desenvolver o ecossistema em todo o seu potencial.

No entanto, nada disso, Salcito enfatiza, pode acontecer sem que os educadores pró-ativos aproveitem a plataforma para apoiar adequadamente os resultados de aprendizagem para os alunos. “Educadores são campeões, sem eles, não podemos fazer isso”, conclui.

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