Qual o papel da tecnologia e da economia circular no progresso humano?
Combinar princípios da economia circular com insights baseados em dados é caminho mais eficaz para enfrentar desafios de sustentabilidade
A economia circular não é só uma tendência ou apelo pela sustentabilidade. Acontece que as mudanças climáticas e o aquecimento global, com efeitos potencialmente prejudiciais para a humanidade, têm demandado de líderes e autoridades a conscientização sobre a importância de diminuir o descarte de resíduos e a dispersão de poluentes.
O conceito de economia circular surgiu, permitindo o desenvolvimento na fabricação dos produtos, em campanhas que ajudam a descartar corretamente os materiais em fim de vida e reintroduzir itens recicláveis na cadeia produtiva e a melhorar a gestão de resíduos em diversos setores.
Ao mesmo tempo, a tecnologia digital avança e tem permitido uma mudança fundamental nas funções econômicas. A virtualização, a desmaterialização e a maior transparência no uso do produto e no fluxo de materiais criaram novas formas de produtores e usuários operarem e participarem da economia. Redes móveis de alta velocidade, Internet das coisas (IoT), Inteligência Artificial (IA), computação cognitiva e nuvem permitem estratégias circulares.
Ao combinar a era digital com os princípios da economia circular, uma nova transparência é alcançada e a inteligência pode ser injetada na cadeia de valor por meio de insights baseados em dados, que são usados para suportar uma tomada de decisão mais eficaz sobre como enfrentar esses desafios e fornecer soluções sistêmicas.
Evolução
Uma pesquisa feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em 2019 mostra que 76,5% das indústrias desenvolvem alguma iniciativa de economia circular, embora a maior parte não saiba que as ações se enquadram nesse conceito. O levantamento mostra ainda que 38% dos entrevistados, verificam se os produtos foram produzidos de forma ambientalmente correta e que também têm mais consciência sobre o destino do lixo.
O número de pessoas que separa o lixo para a reciclagem cresceu de 47%, em 2013, para 55% em 2020. Porém, na maioria das vezes, eles não podem ser reutilizados, reparados ou reciclados e, na verdade, são projetados e fabricados apenas com o uso único e de curto prazo em mente – o resultado é a obsolescência prematura.
Isso significa que há um enorme potencial para empresas e consumidores passarem por uma transformação na forma como os produtos são feitos e escolhidos para compra. O poder do consumidor, exercido por meio de escolhas sustentáveis, pode e deve impulsionar mudanças em seu próprio benefício e do meio ambiente.
Mas antes que se trate da escolha do consumidor, as empresas de manufatura devem tomar medidas ao longo de todo o ciclo de vida do produto, de modo que o que é colocado no mercado dure o máximo possível e possa ser devolvido para ser reformado ou dividido em peças reutilizáveis ou transformado em matéria-prima reciclada.
Essa abordagem circular é perfeitamente possível, mas o sucesso depende de incentivar empresas e consumidores a mudar seus comportamentos. A mudança de comportamento costuma ser mais bem sucedida quando envolve uma mistura de desejo interno de fazer acontecer e com princípios de economia circular implantados, com a certeza de passar a reduzir emissões e contribuir para o alcance de metas globais ou locais pré-estabelecidas.
Negócios liderados pelos consumidores
Muitos dos planos de ação nacionais ou regionais concentram-se nos esforços do consumidor. Uma tendência notável é a capacidade de reparo, em que os consumidores finais têm acesso a ferramentas, manuais e peças sobressalentes para fazer os reparos por conta própria.
Embora todas as iniciativas de reciclagem sejam positivas, essa abordagem depende de indivíduos com tempo, habilidade e conhecimento para realizar reparos – e qual é o incentivo? Muitos preferem comprar um novo item e jogar fora o antigo, em vez de gastar tempo e energia preciosos em uma tarefa para a qual eles não foram treinados e acham difíceis.
Uma alternativa melhor é adotar uma abordagem de design ecológico. Isso ocorre quando um fabricante de equipamento original desenvolve o equipamento, desde a engenharia ao design seguindo princípios ecológicos (uso de materiais recicláveis, equipamentos facilmente desmontáveis, desenvolvimento de materiais de alta durabilidade etc).
O resultado é a longevidade dos equipamentos, garantindo que materiais com recursos limitados sejam obtidos fora da cadeia de suprimentos, e que os produtos que possam ser facilmente reparados e finalmente reciclados quando atingirem o fim de sua vida util. Mas essa abordagem não espera que os consumidores finais façam os reparos.
A abordagem de design ecológico pode também adotar um modelo de “troca e renovação”. Isso significa que, em vez de os consumidores tentarem consertar produtos em casa, ou pagar a prestadores de serviços para pequenas empresas para fazer o trabalho, a responsabilidade recai sobre as fabricantes para facilitar aos usuários finais a devolução de produtos que estão chegando ao fim da vida útil em troca de um modelo renovado ou novo.
Quando produtos tecnologicamente obsoletos são devolvidos aos fabricantes, este tem a opção de realizar um recondicionamento completo e devolvê-lo ao circuito de vendas com um certificado de recondicionamento, ou desmontar para que os componentes adequados para reutilização possam ser usados na produção de novos produtos. É que acontece geralmente com as grandes fabricantes de celulares, hoje em dia.
Influência positiva
Atualmente no Brasil a economia circular ainda está nos primeiros estágios de evolução e para tornar a economia circular eficaz para todos é preciso começar com ações coletivas na indústria de manufatura com mudanças no design de produtos para serem mais longevos e sustentáveis e também na educação dos consumidores para abraçarem mais a sustentabilidade, buscando equipamentos provenientes de empresas que adotam estas iniciativas ambientalmente corretas. Somente quando todas as organizações e pessoas se concentrarem na construção da circularidade é que nós e o planeta alcançaremos um futuro sustentável.
*Marcelo Pires é gerente de Logística da Lexmark Brasil.