IBM aposta em cinco tendências para os próximos anos
A aceleração das transformações vividas nos últimos três anos marcou o início de um novo modo de se fazer negócios. A partir de agora, tecnologia, talentos e confiança estarão no foco de todas as empresas
Os últimos três anos foram desafiadores e resultaram em uma série de transformações vividas e implementadas por empresas dos mais diversos setores e tamanhos. As mudanças, na verdade, estão apenas começando e, daqui para frente, tecnologia, talentos e confiança serão as três áreas de foco para o progresso.
“À medida que arriscam, colocam o talento no centro da estratégia e praticam inovação aberta, as empresas permanecem relevantes em um mercado altamente competitivo e desafiador. As decisões e investimentos que fazem hoje definirão as oportunidades do amanhã. Quando unimos tecnologia, talentos diversos e o ecossistema, o resultado é inovação para as organizações, seus clientes e para a sociedade”, ressalta Marcelo Braga, presidente e líder de Technology da IBM Brasil.
Para entender de que forma estas transformações têm impactado as empresas, e de que forma elas vem se adequando a este novo contexto, ao longo da último ano, o IBM Institute for Business Value (IBV) entrevistou dezenas de milhares de executivos, funcionários e consumidores de todo o mundo. O estudo descobriu como a demanda dos consumidores, funcionários e investidores está mudando, o que as empresas de alto desempenho estão fazendo de diferente e em quais áreas os executivos estão fazendo as maiores apostas.
Em geral, estes resultados têm como foco o panorama de negócios de 2022 e destacam as principais mudanças que vieram para ficar. Falando em tecnologia, talentos e confiança, grande parte dos executivos está repensando como gerenciar essas áreas ao longo da cadeia de valor e encontrando novas maneiras de aumentar a flexibilidade, fortalecer a segurança cibernética e reduzir os impactos ambientais a cada etapa do processo.
A pesquisa também constatou que eles também estão redefinindo como as pessoas e a tecnologia podem trabalhar juntos e criando culturas organizacionais que colocam as pessoas em primeiro lugar. “As escolhas e os investimentos de hoje definirão, em parte, as oportunidades que podem surgir no futuro. Nossos insights orientados por dados podem facilitar a tomada dessas decisões”, explica Braga.
Para servir como guia neste novo contexto, o estudo identificou as cinco tendências que os executivos devem levar em conta para ao preparar-se para um futuro que ainda será definido por disrupção e mudança.
1 – Transformação digital
A pesquisa descobriu que 60% das organizações aceleraram seus investimentos em tecnologias digitais durante a pandemia e mais da metade (55%) alterou o direcionamento de suas estratégias organizacionais relacionadas a esse tema. Quando questionados sobre suas prioridades para os próximos dois a três anos, mais CEOs disseram que precisavam buscar agressivamente a agilidade e flexibilidade operacional (56%) do que qualquer outra iniciativa. Para isso, Internet of Things (IoT, 79%), cloud computing (74%) e inteligência artificial (52%) são as tecnologias com maior expectativa de gerar resultados de negócios.
Essas tecnologias, especialmente a cloud, também facilitam uma colaboração mais rápida e eficaz, que será outra força motriz para o crescimento no próximo ano. Mas para capitalizar parcerias de ecossistema, no entanto, as empresas precisam de uma estrutura forte de tecnologia e por isso devem reavaliar a maneira como gerenciam seus recursos, sua infraestrutura e seus talentos.
“A dica aqui é arrisque-se ou congele na sua zona de conforto. Ao invés de desenvolver medidas inovadoras isoladas, líderes devem focar em implementar sistemas integrados que revolucionarão os modelos de negócios”, afirma Braga. Nesse contexto, correr riscos gera bons resultados. Empresas com uma cultura de tolerância a erros alcançaram um aumento de 10% na receita. Além disso, os que investiram em ecossistemas e inovação aberta tiveram um aumento médio na receita de 40%. Segundo a IDC, o Brasil será o país com maior consumo de novas tecnologias até 2026, o que representa uma taxa composta de crescimento (CAGR) de 16,9% no período 2021-2026.
2 – Capital humano
De acordo com a Korn Ferry, mais de 85 milhões de vagas de empregos podem não ser preenchidas globalmente até 2030 devido à falta de profissionais qualificados, resultando em até US$ 8,5 trilhões em receita não realizada. Apenas no setor de tecnologia dos EUA, a falta de profissionais pode resultar em uma perda de receita de vendas de US$ 162 bilhões por ano.
Embora a virtualização do trabalho tenha dado às empresas maior acesso a talentos globais, as empresas deverão fazer uma reavaliação de seus modelos de negócios e fazer as mudanças necessárias que as tornarão mais atrativas para possíveis empregados. Isso começa por mostrar aos profissionais que sua contribuição é valiosa e que dão prioridade ao seu bem-estar.
O estudo mostrou que cerca de 30% dos funcionários já mudaram de empresa em 2021, ou pretende fazê-lo até o final do ano, enquanto outros 15% planejam fazer o mesmo em 2022. Mais de metade (56%) dos profissionais que mudaram de empresa este ano citaram a demanda por maior flexibilidade como principal motivo, enquanto quase um terço afirmou querer trabalhar para uma empresa que esteja mais alinhada com os seus valores.
E aqueles que não estão pensando em mudar de emprego não estão necessariamente satisfeitos. Aproximadamente um em cada quatro afirma não acreditar que seu empregador se preocupa com o seu bem-estar físico e mental e quase um terço não acredita que seu empregador se preocupa com o seu bem-estar financeiro.
“Aqui é importante cuidar dos seus ou eles partirão sem olhar para trás”, reforça Braga, lembrando que nos cinco primeiros meses deste ano houve quase 3 milhões de demissões voluntárias no Brasil. As empresas que não atenderem às necessidades de seus funcionários podem sucumbir na guerra por talentos e ficar com posições não preenchidas. O impacto econômico na América Latina até o final de 2022 pode chegar a US$ 35 trilhões devido à lacuna de habilidades técnicas e digitais em todos os setores da indústria.
3 -Sustentabilidade
A pesquisa constatou que a pandemia influenciou 93% dos consumidores globais, que hoje acreditam que a sustentabilidade e o bem-estar devem caminhar juntos. Ao escolher uma marca, cerca de quatro em cada cinco consumidores nos disseram que os benefícios da sustentabilidade, da saúde e do bem-estar são importantes para eles e que estão dispostos a escolher empresas que priorizam a proteção das pessoas e do planeta. Embora a sustentabilidade tenha sido historicamente vista como um bem de luxo, cerca de metade dos entrevistados (54%) afirmam estar dispostos a pagar preços mais altos ou mesmo receber um salário menor (48%) para promover um futuro mais sustentável. E cerca de sete em cada dez dizem que são mais propensos a se candidatar e aceitar empregos em organizações que consideram ser ambientalmente sustentáveis e socialmente responsáveis.
No entanto, há uma diferença significativa entre o que os consumidores dizem estar dispostos a fazer e a maneira como usam seu dinheiro. Menos de um em cada três consumidores (31%) afirma que a maior parte ou toda a sua última compra apresentava produtos sustentáveis ou ambientalmente responsáveis. Isso significa que as empresas têm uma grande oportunidade de atender a uma nova demanda, mas antes devem convencer as pessoas de que seus produtos realmente possuem um propósito.
Pouco menos da metade dos consumidores afirma confiar nas declarações das empresas sobre sustentabilidade ambiental e mais de três quartos desse grupo também faz pesquisas antes de tomar uma decisão de compra, o que significa que as empresas devem fornecer informações detalhadas e transparentes sobre suas iniciativas se desejarem engajar consumidores com propósitos específicos.
E muitas empresas têm uma lacuna de informações que precisa ser preenchida. Embora a pesquisa de 2021 tenha constatado que nove em cada 10 empresas tenha afirmado que trabalharão em iniciativas de sustentabilidade, outro estudo descobriu que apenas uma em cada três empresas de bens de consumo está medindo seu progresso. Esse é um problema que precisa ser solucionado em 2022. Braga afirma que, quando se fala em sustentabilidade, o que está em jogo é a credibilidade das empresas.
4 – Ecossistema
No novo contexto, pequenas iniciativas de adoção de tecnologia não são mais suficientes. As empresas devem repensar de maneira mais ampla suas operações para alcançar todos os benefícios de transformação digital. Ao invés de desenvolver medidas inovadoras isoladas que aperfeiçoam workflows individuais, o foco deve estar na implementação de sistemas integrados que revolucionarão os modelos de negócios.
E é preciso ter claro que correr riscos gera bons resultados baseados na adoção de novas tecnologias. De fato, a pesquisa descobriu que as empresas que não penalizam o fracasso obtêm uma queda de 10% na receita no contexto da adoção de tecnologia e transformação digital. O estudo apontou também que empresas de todos os setores estão desenvolvendo recursos de tecnologia necessários para dar suporte a estas estratégias digitais.
Em resposta à pandemia, 64% das organizações migraram suas atividades de negócios para a nuvem. Agora, 97% estão implementando a cloud e 78% já efetuou testes com IA. O CIO Study, realizado em 2021, também identificou que desde 2019, houve aumento significativo na quantidade de CIOs cujas organizações apresentam grandes avanços em cloud híbrida (700%) e workflows inteligentes (560%). Estes investimentos trouxeram retorno, tanto que grandes usuários de tecnologia em 13 setores alcançaram um aumento de receita de 7 pontos percentuais com Internet of Things (IoT), inteligência artificial (IA) e cloud gerando a maior parte do retorno. E os que investiram em ecossistemas e inovação aberta tiveram um aumento médio de receita de 40%.
“O momento agora é de superar limites e fazer alianças, inclusive com a concorrência. Mais do que nunca, a inovação aberta impulsiona a colaboração e a cocriação para atender às novas necessidades do consumidor, cada vez mais exigente”, afirma Braga, lembrando que valorizar a inteligência coletiva e romper as fronteiras da própria organização é crucial para responder aos desafios de um contexto de rápidas mudanças e disrupções.
5 – Segurança
Embora as tecnologias baseadas em cloud, plataformas e ecossistemas ampliem o alcance de uma organização e criem novas oportunidades para inovação, elas também introduzem novas ameaças. A pesquisa revelou que sete em cada dez organizações são incapazes de proteger dados que são transferidos entre diversas clouds e ambientes locais. Além disso, 90% dos incidentes cibernéticos surgiram em ambientes de cloud. Essa vulnerabilidade é decorrente da incapacidade de adaptar as práticas de segurança a um ambiente mais aberto, já que 92% das organizações não possuem meios para habilitar e estender com segurança novos recursos nativos da cloud para seus parceiros internos e externos.
Conforme as empresas expandem sua área de cobertura da cloud para viabilizar o trabalho remoto, integrar cadeias de suprimentos e simplificar a experiência do cliente, elas também devem aprimorar sua abordagem de segurança cibernética. “Zero trust” é uma abordagem preventiva de segurança que pressupõe que agentes maliciosos estão em toda parte, o que requer autenticação e verificação para todas as trocas de valor.
Redes em cloud abertas e seguras podem gerar um ciclo virtuoso que impulsiona a inovação e colaboração. O aprimoramento de práticas de segurança para a era da nuvem faz com que as organizações entreguem melhores resultados de negócios. Braga aconselha que as empresas não esperem que sejam atacadas. “A chave será combinar as estratégias e tecnologias, bem como uma abordagem Zero Trust, para obter melhores resultados de negócios, além de detectar e conter incidentes de segurança mais rapidamente para proteger seus ativos, clientes e negócios”, diz.
Nesse contexto em que transformação e disrupção são processos contínuos, as empresas devem arriscar, aprender com suas falhas e encontrar as combinações de tecnologias, estratégias e pessoas que podem ajudá-las a avançar. “Os investimentos de hoje podem significar oportunidades e preparação para enfrentar o futuro e, sem dúvida, estar mais bem posicionado para aproveitar todas as mudanças positivas que a transformação digital traz. Essas são tendências que vieram para ficar”, conclui.