Empresa móvel: um sonho ainda distante
Mobilidade avança no ambiente corporativo, mas ainda deve conviver com legados por muito tempo ainda
As tecnologias móveis modernas passaram por um período de revolução com o lançamento do primeiro iPhone. O dispositivo de consumo por excelência não demorou muito para avançar e trazer vantagens ao ambiente corporativo. Em menos de uma década, virou uma tarefa difícil encontrar uma empresa que não tenha abraçado smartphones e tablets para uso de seus funcionários, por vontade própria ou por pressão.
Não é difícil perceber o porquê disso. Afinal de contas, o potencial e os resultados a partir de estratégias da mobilidade são convincentes: uma força de trabalho equipada com ferramentas de fácil utilização amplia a produtividade e dá acesso a recursos em qualquer lugar e a qualquer hora.
Esse fascínio, na verdade, é certamente parte da razão de as organizações de TI dedicarem pelo menos 25% de seus orçamentos de software para o desenvolvimento de aplicativos, implantação e gerenciamento orientado ao mundo móvel, indica a IDC a partir de 2017.
A consultoria projeta que, nesse mesmo ano, a maioria dos sistemas empresariais serão construídos com a filosofia de “mobile first”, em busca de melhor eficiência e produtividade para obterem vantagem competitiva.
A tendência de consumerização ou Byod – que significa que funcionários trarão seus próprios dispositivos para o local de trabalho – é um fator-chave que contribui para uma grande mudança no ambiente de computação empresarial.
De fato, o avanço dos recursos no ambiente de consumo faz com que as pessoas queiram ter as mesmas ferramentas móveis no trabalho que eles já se acostumaram a ter em suas vidas pessoais.
“Vivemos uma revolução”, resume Eldad Eilam, CEO da provedora de soluções móveis HopTo. “Todo mundo está olhando para Byod”, adiciona.
Um tsunami de dispositivos entrou pelos portões das empresas, observa Rana Kanaan, vice-presidente de produtos da Workspot, classificando esse movimento com o que chama de “a ascensão do cidadão corporativo”. Isso é: o surgimento de funcionários de mentalidade independente que colocam um valor elevado na capacidade de trabalhar onde e quando quiserem.
O conjunto de tendências transforma a paisagem empresarial vista a até alguns anos. “Originalmente, trabalhávamos em computadores estáticos colocados sobre nossas mesas. Na primeira geração da empresa móvel, começamos a trabalhar a partir de algum outro lugar, mas ainda em computadores”, observa o executivo.
Quando a tecnologia móvel começou a entrar no ambiente corporativo, os empregadores tentaram limitar o uso desses dispositivos ou dos recursos nele instalados. Mas os usuários rejeitaram essa abordagem. “A computação hoje acontece em todos os lugares. Controles e restrições não funcionam. Pior, revoltam os usuários”, avalia Rana.
Os trabalhadores de hoje esperam simplesmente ser capazes de utilizar tecnologias que querem e de serem capazes de usá-las a qualquer momento, afirma Michael Luu, que é diretor de tecnologia da cidade californiana Milpitas. “A expectativa é que, mesmo se você estiver em férias, tende a responder e-mails”, diz. “Isso é algo normal atualmente”, adiciona.
Fornecedores de softwares empresariais estão correndo para atender estas expectativas de várias maneiras. Com a sua oferta de um serviço de espaço de trabalho móvel, por exemplo, a Workspot permite aos usuários acessar com segurança aplicativos e dados a partir de qualquer dispositivo, observa Luu, que utiliza a tecnologia
Empresas como a Salesforce, bem como outros gigantes da indústria de tecnologia, já se comprometeram a uma filosofia de iniciar os esforços na criação de aplicações primeiramente para rodarem em ambiente móvel. Pelo menos é o que defende Anna Rosenman, diretora sênior de marketing de produto para o Analytics da fornecedora de sistemas de gestão de clientes em nuvem.
“Se você olhar para o espaço de consumo, as pessoas passam pelo menos 50% do seu tempo em dispositivos móveis”, comenta a executiva. “Temos visto um espelhamento desse comportamento também em nossos usuários”.
O Facebook é outra empresa que trabalha uma oferta orientada à empresa móvel. Em fase beta, o At Work é “a pedra angular da experiência móvel”, defende Elisabeth Diana, diretora de comunicações corporativas da rede social. “É uma aparência semelhante a do Facebook. A principal diferença é que a informação partilhada respeita o muro [virtual] das empresas”.
A executiva afirma que “um punhado de companhias” testam a tecnologia. A ambição é ampliar esse contingente.
A HopTo trabalha com o objetivo principal de permitir que as empresas explorem a mobilidade aproveitando a infraestrutura existente baseada no Windows, incluindo Services Remote Desktop, Active Directory, sites do SharePoint e serviços de armazenamento em nuvem.
“O desafio que estamos vendo é que muitas empresas têm uma enorme quantidade de softwares legados que são usados para rodar o negócio”, comenta Eilam. “E converter isso para o mundo móvel é extremamente desafiador”, aponta.
Ambiente desafiador
Na verdade, mesmo que novas soluções surjam, há muitos desafios no horizonte. Segurança é um deles. Apontado com um grande problema, a expectativa é que até o final de 2015, apenas 15% das grandes empresas tenha padrões adequados de governança para suas iniciativas de mobilidade, de acordo com a IDC.
“Dispositivos móveis tendem a armazenar coisas localmente”, observa Eilam, para acrescentar: “Isso cria um desafio realmente sério: documentar a expansão do ambiente”. A resposta de HopTo para esse problema é manter o armazenamento nas estruturas de back-end, o que implica que os arquivos podem ser editados remotamente, mas são salvos de volta ao lugar em que foram abertos, como o SharePoint ou armazenamento em nuvem.
Rana, da Workspot, aponta para uma necessidade do que chama de segurança contextual. A ideia é construir tecnologia que possa reconhecer quando um usuário está tentando obter dados confidenciais em um dispositivo móvel e responder a isso com a exigência de autenticação extra.“Esse é um grande desafio que a indústria precisa solucionar, especialmente quando se olha para setores regulados, como saúde e finanças”, pontua.
Há também a necessidade de uma base comum para o desenvolvimento de aplicativos móveis, acredita. “É demorado e caro fazer aplicativos corporativos trabalharem nos smartphones”, diz ela. “Não temos padronização e as empresas ainda estão lutando com isso”, sinaliza.
Em suma, não há nenhuma dúvida de que o processo de mobilização do mundo empresarial está acontecendo rapidamente, mas ainda há muito a ser abordado. “Acho que continuaremos vendo esse mix de legado e tecnologias móveis para um par de décadas ainda”, projeta Eilam, da HopTo.