Persistência é a palavra para mulheres que buscam liderança em inovação

Marcela Flores, diretora da ANPEI, fala sobre educação e programas executivos para aumentar diversidade

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1:00 pm - 08 de março de 2022
Marcela Flores, diretora executiva da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI)

Se a tecnologia é vista por muitos como uma área majoritariamente masculina, grandes empresas e instituições estão querendo mudar esse jogo. Em entrevista ao IT Forum, Marcela Flores, diretora executiva da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (ANPEI), comenta que as grandes companhias estão fomentando programas especiais para aumentar as lideranças femininas – mas que ainda é necessário dar um passo atrás e incentivar as meninas a estudarem ciências e matemática.

O gargalo também é gigante entre as pequenas e médias empresas que precisam tratar de outros fatores de sobrevivência antes de pensar em inovação – e aí sim olhar para a diversidade como algo essencial.

Se ela fosse dar um conselho para as mulheres que querem se tornar líderes na área de inovação, ela não precisou de muito. “Em uma palavra: persistência. O entorno ainda joga contra as mulheres, então é necessário ser persistente. É um caminho longo, mas possível!”.

Confira os melhores momentos da entrevista com a especialista:

IT Forum: A Anpei existe desde 1983. Vocês enxergam a evolução da presença feminina em inovação e tecnologia desde lá?

Marcela Flores: Sim, porém ainda ainda a “passos de tartaruga” e muito encabeçado pelas grandes empresas. Se a gente usa o nosso Conselho de Administração como exemplo, hoje nós temos seis mulheres de 15 pessoas. É um número razoável, mas, esse ano, vamos começar a trabalhar com meta de percentual feminino no conselho. Em nossa conferência anual, também teremos meta para um percentual mínimo de presença feminina nos painéis.

IT Forum: Qual a importância de metas como essas?

Marcela Flores: As questões de diversidade, em geral, não são naturais em nossa cultura. Se não colocarmos as metas, dificilmente conseguimos buscar as pessoas certas porque é quase um pensamento automático. As metas são importantes para que a gente faça o exercício de garantir que as mulheres e os outros olhares de diversidade estejam nas lideranças.

IT Forum: O trabalho de educação ajuda as mulheres a trilharem o caminho de liderança e inovação?

Marcela Flores: Olhando, por exemplo, quem se forma em engenharia, atualmente 80% dos engenheiros são homens. Ou seja, a gente precisa formar mais mulheres para que possamos conseguir que elas cheguem em posições de liderança.

A gente tem um outro aspecto cultural, voltado para a questão de educação, de que as matérias de ciências e matemáticas, normalmente são mais estudadas por meninos. Precisamos sensibilizar as meninas para que estudem nessas áreas.

Nós ainda vemos muitas mulheres voltadas para a área de pesquisa em universidades, que ainda não está transbordando para o meio empresarial.

IT Forum: Quais são as iniciativas que empresas estão fazendo para diminuir esse gap?

Marcela Flores: Sempre há empresas que saem na frente e que buscam a dianteira, como as multinacionais. Agora, a gente vê um movimento das empresas brasileiras buscando esse movimento, como a Furnas que tem um projeto para impulsionar as mulheres na liderança.

IT Forum: Existem áreas de atuação mais comuns às mulheres?

Marcela Flores: As mulheres, de forma geral, têm um jogo de cintura muito grande para a gestão. Dessa maneira, elas têm despontado muito para os cargos de liderança e, inclusive, muitas têm se destacado para a presidência de empresas. Existe uma tendência por conta das capacidades e habilidades naturais para que a tendência seja para posições de gestão.

IT Forum: Como as mulheres podem somar no processo de inovação?

Marcela Flores: Uma das características existentes na inovação são os olhares diferentes. No design thinking, por exemplo, uma das metodologias é chamar diversas pessoas da equipe para falar sobre o problema. Porque esse olhar das diferentes pessoas sobre a mesma questão é importante para promover a inovação e ter ideias mais fora da caixa. Isso também acontece com a diversidade: se você tem 15 homens de 45 anos, brancos, engravatados e coloca diversidade nessa sala, as decisões que são tomadas certamente são melhores.

IT Forum: Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres nesse setor?

Marcela Flores: As grandes empresas já possuem programas para fomentar a liderança feminina. Mas, se a gente fala da maioria das companhias em número, essa conversa ainda não chegou. O movimento rola muito forte nas startups, mas esse “bloco” entre uma empresa que não é uma startup e também não é uma grande corporação, essa conversa ainda não existe.

Nesses casos, as organizações têm fatores mais básicos que precisam priorizar e, por isso, não “têm tempo” para olhar para a diversidade. Quando uma média empresa precisa cortar custo, a primeira área cortada é a de inovação porque ela não tem condição de ser sustentável no longo prazo. Para que a empresa chegue nesse momento, precisa primeiro ter uma condição de segurança e existência econômica para evoluir.

IT Forum: Qual conselho você daria para as mulheres que desejam chegar à liderança?

Marcela Flores: Em uma palavra: persistência. O entorno ainda joga contra as mulheres, então é necessário ser persistente. É um caminho longo, mas possível!

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