Parceiros da startup americana DoorDash pagam para trabalhar, afirma site
Working Washington, que apoia trabalhadores de empresas de entrega reuniu comprovantes de serviços entre novembro e dezembro de 2019
Fundada em 2013, a DoorDash é a principal empresa nos Estados Unidos que atua dentro do mercado de entregas, com 35% de participação de mercado — na frente de empresas como Uber Eats e Grubhub. Com mais de US$ 2 bilhões levantados em rodadas de investimentos, a startup planeja para este ano seu IPO, que pode elevar seu valor de mercado pra US$ 12,6 bilhões.
Mesmo com as boas estimativas financeiras, a companhia vem enfrentando uma forte descrença de parceiros e clientes que utilizam o serviço desde o escândalo das gorjetas, denunciada em fevereiro do ano passado pela NBC News.
De acordo com a notícia a empresa usava o valor de gorjeta dado pelos usuários para complementar o pagamento mínimo por cada serviço feito pela empresa.
Por exemplo: se o pagamento-base para uma corrida fosse de US$ 20 (que já inclui o pagamento padrão de US$ 6 do cliente e, teoricamente, os US$ 14 da DoorDash) e, no término da entrega, o cliente desse mais uma gorjeta de US$ 10 além dos US$ 6 já debitados, a empresa pagaria US$ 4 e o cliente os US$ 16 seguintes. Sendo que, dentro de um modelo normalmente praticado, o valor teria que ser de US$ 30.
Após uma repercussão bastante negativa, a empresa se comprometeu a revisar seu algoritmo e em novembro, anunciou que o novo modelo teria aumentado o pagamento por hora para cada funcionário a US$ 18,54, valor acimado do mínimo de US$ 7,25 por hora.
Por conta do histórico da prática, a PayUp, organização filiada ao sindicato Working Wasinghton, que busca trazer mais direitos para os trabalhadores de empresas de aplicativo (cujo serviço é interpretado como autônomo e, por isso, não tem direito a benefícios), resolveu fazer um levantamento para entender se a declaração da empresa realmente era válida.
Durante os meses de novembro e dezembro, a PayUp recolheu 229 extratos de corridas realizadas entre novembro e dezembro de 2019, para entender o quanto, na prática, ganham as pessoas que trabalham dentro dessa atividade.
Pouco mudou
A análise do PayUp verificou que, em média, a DoorDash paga apenas 1,45 por hora, descontados os custos pagos pelo parceiro com serviços como gasolina e taxas. Sendo que, dentro do total de corridas analisadas, quase um terço pagava menos do que US$ 0, descontadas as despesas.
No acumulado, apenas 11% dos serviços prestados pagava o valor mínimo de US$ 7,25 por hora (despesas descontadas) e apenas U$S 2% de todas as 229 corridas analisadas (menos de 5) pagavam mais de US$ 15 por hora.
O app da DoorDash não possui um valor padrão para corridas: a cada pedido, o algoritmo realiza um cálculo que leva fatores como distância e número de itens para dar um valor estimado. O que a PayUp afirma é que o algoritmo desenvolvido pela companhia está treinado para pagar o menos possível, deixando ao cliente que fez o pedido a responsabilidade de arcar com a maior parte do pagamento.
A teoria do site se reforça após análise de um padrão encontrado dentro dos pedidos coletados: enquanto a DoorDash, em geral, paga mais para serviços que em geral pagam menos gorjetas (o que gera pagamento final maior para o parceiro), a startup paga menos para tarefas que, por tradição, gerem mais remuneração por parte dos clientes – o que pode vir a gerar prejuízos.
Dentro de um exemplo dado pela organização: uma corrida que, em geral, daria uma gorjeta de menor do que US$ 1 geraria remuneração de US$ 3,23/hora. Já uma corrida com gorjeta estimada acima de US$ 8 renderia US$ -0,11, após descontos. Dentro dessa análise, a organização chegou à conclusão de que, apesar de remodelar o algoritmo, a empresa ainda se apoia nas gorjetas como forma de remuneração.
E, como o valor de cada corrida é avaliado por um algoritmo cujos parâmetros não são conhecidos pelos parceiros da DoorDash, muitas dessas pessoas aceitam corridas que, em geral, não irão gerar nenhuma renda na esperança de pegar aquelas com gorjetas maiores, de acordo com depoimentos recolhidos pela PayUp.
Procurada, a DoorDash não havia se manifestado até o fechamento da matéria publicada pela organização da Working Washington.