‘Tecnologia segue seus rumos a partir do desejo humano’

Mas para Osvaldo Pessoa Jr., professor de filosofia da ciência da USP, também a tecnologia é capaz de alterar como vemos a nós mesmos

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6:11 pm - 21 de abril de 2022

Se existe uma nova onda tecnológica se avizinhando, não se trata apenas de um avanço técnico desconectado. São os desejos humanos que fazem a tecnologia se guiar para esse ou aquele rumo – e, no sentido oposto, também a tecnologia é capaz de nos fazer repensar a forma como lidamos com nossos desejos e, em última instância, nossa própria mortalidade.

“A tecnologia segue seus rumos a partir do desejo humano”, sentenciou Osvaldo Pessoa Jr., professor de filosofia da ciência da Universidade de São Paulo (USP), durante abertura da agenda de conteúdo do IT Forum Trancoso nessa quinta-feira (21).

Segundo ele, a propaganda é capaz de alterar os desejos das pessoas para que elas queiram consumir determinado produto ou serviço. Uma questão diferente, lembrou, é se os desejos podem ser alterados de acordo com avanços científicos.

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“Por exemplo a teoria da seleção natural, que é um relato científico que alterou a forma como vemos o ser humano”, exemplificou. “Fala-se de uma singularidade tecnológica, aquele momento em que o poder computacional das máquinas vai superar o de todo ser humano. Existem maneiras de estimar o poder computacional de um ser humano.”

O ano de 2045 vai marcar essa data, disse, citando ehttps://itforum.com.br/wp-content/uploads/2018/07/shutterstock_528397474.webpsos do assunto. E, para ele, nesse momento a integração entre homem e máquina deve se intensificar. Também os robôs humanoides serão onipresentes e farão parte do nosso cotidiano, seja como assistentes de tarefas pessoas enfadonhas ou até na obtenção de prazer sexual.

“Há duas correntes básicas: os transumanistas, que veem com otimismo a alteração tecnológica do ser humano. Claro que há sempre uma preocupação com os perigos, mas há um otimismo. Ao passo que os bioconservacionistas estão mais preocupados em manter a natureza como é”, disse, reiterando a existência de um debate acadêmico acerca da incorporação de elementos tecnológicos ao corpo humano.

Viver para sempre?

Uma revolução científica e sentido muito amplo, que fará mudar a visão que temos do mundo, provavelmente virá da neurociência cognitiva. Trata-se do campo científico que estuda a forma como aprendemos ao nível de funcionamento cerebral, e seu potencial impacto surge a partir do momento em que entendemos que exata parte do cérebro e que reações químicas nos fazem ter consciência de certas coisas.

“No que estamos querendo explicar nesse momento estão as qualidades subjetivas. Como uma descrição quantitativa pode explicar a qualidade de ver verde, ou os cheiros que a gente sente… Como aquilo pode ser explicado por meio de uma descrição físico-química do encéfalo, do nosso cérebro?”, refletiu.

A neurociência cognitiva então está tentando descrever processos causais que ocorrem no cérebro. Será possível então alterá-los? Tratar doenças mentais? Ou mesmo replicar nosso cérebro gerando réplicas de nós mesmos? Quando essas questões forem respondidas viveremos a revolução que antecipa o filósofo, a nossa noção do nós mesmos também ser alterada.

“Eu diria que tudo bem eu morrer se houver uma cópia perfeita para me substituir”, refletiu, a respeito do maior de todos os mesmos: a morte.

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Marcelo Gimenes Vieira

Editor do IT Forum. Jornalista com 12 anos de experiência nos setores de TI, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios e inovação.

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