Ray Ozzie, sucessor de Bill Gates, leva Microsoft para as nuvens

Em entrevista, Ray Ozzie explica a estratégia do Azure e fala sobre a competição com o Google na área de aplicativos em cloud

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9:04 am - 29 de outubro de 2008

A Microsoft anunciou, durante a Professional Developers Conference (PDC), que acontece nos Estados Unidos, uma versão do Windows para cloud computing. Quem está por trás dessa estratégia é Ray Ozzie, sucessor de Bill Gates e chief software architect.

Leia uma versão resumida da entrevista de Ozzie para o IDG News Service, na qual ele fala sobre a nova estratégia de levar o Windows para as nuvens e da crescente competição neste mercado, principalmente com o Google.

O Windows Azure vai ajudar os desenvolvedores corporativos a levar o desenvolvimento de aplicações para a Web, mas ao mesmo tempo parece que vai ajudar a Microsoft a fazer o mesmo com suas aplicações. O sr. pode falar sobre as duas propostas?
Ray Ozzie:
Olhamos para as nossas propostas internas e para as tendências. Estamos cada vez mais interessados em como os serviços de internet de alta escala funcionam. E chegamos a conclusão de que há um papel para essa nova forma de computação, o computador no céu, o computador nas nuvens.

E quando isso aconteceu?
Ozzie:
O primeiro documento foi escrito por mim em dezembro de 2005. E não falava muito mais do que o que a Amazon estava fazendo, porque essencialmente o modelo da Amazon era o de hospedagem de um sistema operacional que já existia, mas nas nuvens.

A conclusão que nós chegamos era que havia um novo papel para este terceiro nível de computador nas nuvens (cloud computing).  Mas uma vez que decidimos levar o Windows para as nuvens, essa é uma decisão onde você diz: se vamos construir aquelas APIs (application programming interfaces) para nossos técnicos internamente, vamos fazer isso para o público externo também porque eles vão encontrar os mesmos benefícios que nós.


Então o sr. diz que o Azure é diferente de apenas pegar as coisas e colocá-las nas nunves? Como?

Ozzie: Deixe-me tentar descrever. Imagine que um amigo me atire uma bola de tênis, depois duas, três e assim por diante. Cada bola que ele atirar é o que chamamos na indústria de “escalar”. Agora, pense que ele me atire 100 bolas de tênis. Há um limite no modelo de escala no caso da computação. Não vou conseguir sozinho pegar as 100 bolas.

E se como um grupo decidirmos que vamos nos dividir para agarrar as bolas? Há uma chance de adicionando mais pessoas conseguirmos agarrar as bolas. E se uma das pessoas do grupo falhar, talvez o próximo, perto dele, possa pegar a bolinha de tênis. É o que chamamos de escalar. E o sistema que estamos construindo para empresas usa este modelo.
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Conversei com alguns usuários sobre o Azure e eles disseram que um dos benefícios da plataforma de hospedagem de aplicações será o de não ser dependente do sistema operacional no desktop. Como a Microsoft vai evoluir o Windows,  começando com o Windows 7, para tirar vantagem do que está apresentando com o Azure?
Ozzie: Deixe-me separar algumas coisas. Eu acredito que as pessoas compram equipamentos porque trabalham com eles. Você compra um computador porque gosta da forma, do jeito que ele funciona, das aplicações que ele opera e assim por diante.

No futuro, haverá um serviço de interconexão que você gostará do jeito que ele se relaciona com a “nuvem”. Mas as pessoas de fato gostam do PC por causa do custo e das funções que ele faz. Windows7, Windows 8, Windows 9 ou qualquer outra Windows serão um negócio de sucesso baseado em quão bem eles vão trabalhar com as inovações do hardware. Não é uma decisão que estará conectada com o serviço.

Você está preocupado com o Google na área de serviços web e ainda tem de se preocupar com o software aberto?
Ozzie: Oh, há muito, muito mais competidores. Na área de aplicativos empresariais temos a SAP e a Salesfore.com.  Toda vez que a Microsoft tem uma grande batalha competitiva, a cultura de aprender com a batalha não paralisa a companhia.

O código aberto foi a coisa que mais chocou pois as pessoas poderiam não valorizar mais o software? Mas, na verdade, ele criou mais oportunidades porque as empresas tiveram que integrar nossos sistemas.

O Google é uma ameaça? Estou certo de que há pessoas na companhia que têm essa visão. Mas uma vez que foquemos no cliente e no que entregar para ele, estou confiante que estamos em um bom caminho.
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No Windows 7, vocês passarão para o Windows Live alguns aplicativos que eram parte do sistema operacional. Como você vê a evolução do sistema com esta migração para serviços hospedados? Parece que ele se tornará um ambiente de controle para agregar e gerenciar os serviços. Esta visão é real?
Ozzie:
É uma perspectiva interessante. A razão para os aplicativos serem ‘excluídos’ é que, em muitos casos, agora eles querem ser componentes de serviços e software. Oferecê-los como serviço e atualizando o software conforme a sua evolução é uma forma melhor de empacotar aplicativos, como no caso do Movie Maker e do Photo Gallery.
 
E com relação ao núcleo do sistema operacional, há muita inovação em jogo, graças à variedade de PCs que usamos. Eu tenho, por exemplo, meu computador em casa, meu notebook para uso diário e um modelo mais portátil para viagens.

O que quero dizer é que o principal propósito do sistema operacional no dispositivo, independente de qual ele seja, é ter o melhor valor nele. No caso dos aplicativos, é atuar da mesma forma como serviço, no PC e no celular. Logo, acho que há grandes oportunidades de inovação.

Ainda tento entender o equilíbrio entre o sistema operacional como algo que tira vantagem do hardware em que roda, e o sistema como algo que também tira vantagem da web.
Ozzie:
Para tentar ser o mais claro possível, o sistema que você tira da caixa terá algumas conexões com a web, como o navegador e o Windows Update. Estas são as conexões-base à internet. Temos que, de certa forma, limitar esta ação, porque muitos usuários do Windows não têm conexões de qualidade.

As partes que conectam o Windows à internet usarão a rede para oferecer algumas características específicas. Teremos certeza de que o Windows possui APIs abertas o bastante para que você sinta que estas extensões são naturais.

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