Notícias

Quer um conselho? Não subestime o Blockchain!

Depois que publiquei dois artigos sobre Blockchain, aqui
e aqui,
descobri que existe muita curiosidade latente por parte de executivos de
diversas empresas, e não apenas de bancos. Venho participando de várias
reuniões com eles, ajudando a visualizar um cenário mais realista do que é e
qual o potencial do Blockchain e seus impactos nos seus negócios. Me chama
atenção que, embora aqui no Brasil, apenas um círculo restrito de executivos esteja
discutindo mais a fundo o tema, no exterior o avanço já venha sendo
significativo.

Até 2013, ainda predominava o conceito que Blockchain era sinônimo
de Bitcoin e o espírito criptoanarquista predominava. Mas agora, em 2016, vemos
grandes empresas de tecnologia investindo pesado na tecnologia, como a IBM e a Microsoft, com soluções bem
interessantes de “Blockchain as a
service
”. Além disso, os bancos estão cada vez mais ativos, seja através de
parcerias no consórcio R3 ou desenvolvendo seus
próprios protótipos. Vemos também governos, como o do Reino Unido estudando
mais a fundo a questão. O relatório “Distributed
Ledger Technology: beyond block chain
”, do UK Government Chief
Scientific Adviser, e iniciativas como a governo
americano
, mostram quão importante já é o tema para muitos países.

Destas reuniões com executivos ficou claro que ainda existe
muita desinformação e receio. Nada a estranhar. Se fizermos uma analogia com a
Internet veremos que a web começou em 1991, a primeira transação comercial pela
web aconteceu em 1994 e em 1999, embora a maioria das empresas listadas na Fortune
500 já possuísse um web site, eles eram basicamente brochuras digitais. O mesmo
fenômeno de ceticismo e relutância que víamos em 1998/1999 sobre o potencial da
web transformar o comércio e as transações financeiras, se repete quando
debatemos Blockchain com os executivos.

Publicado no ano 2000, o estudo “Differences
in public web sites: the current state of large US Firms
”, sobre o status
dos web sites dessas empresas, mostra isso claramente. Vale a pena dar uma lida
e ver como há apenas 16 anos atrás ninguém imaginava que a web seria o que é
hoje. Atualmente, comprar passagens e produtos pela web é corriqueiro. Não
conseguimos mais imaginar um mundo sem a web! Mas, voltemos ao presente. Daqui
a dez anos, ninguém acreditará que hoje tínhamos tantas dúvidas sobre Blockchain
como temos… Ele será também tão corriqueiro quanto usar um banco de dados
relacional ou um Waze.

É perfeitamente factível pensar que Blockchain vai evoluir
mais rapidamente que a web. É claro que a tecnologia ainda está na sua infância
e será necessário muito trabalho e energia para amadurecê-lo, mas nada que não
possa ser resolvido. Vejamos alguns dos problemas levantados nas reuniões.
Primeiro, os desafios tecnológicos.

Ainda estamos na fase de criação de ecossistemas, com muitas
iniciativas desconexas surgindo aqui e ali, e ainda não temos aplicações
realmente maduras funcionando a pleno vapor. É fato. Vai levar algum tempo para
as primeiras aplicações saírem do campo das experimentações para se firmarem no
mercado. Novamente, voltando no tempo, as primeiras experiências web eram uma
emulação das aplicações cliente-servidor que todo conheciam. Depois, com a
amadurecimento dos conceitos e surgimento de tecnologias como JVM (Java Virtual
Machine) é que se desenvolveram aplicações realmente inovadoras. E com os apps,
avançou-se muito mais.

No Blockchain já vemos alguma evolução nessa direção, como o
Ethereum,
que tem uma funcionalidade parecida com JVM. Com este recurso, pode-se
desenvolver aplicações Blockchain (chamadas de dapps, distributed apps) sem os
desenvolvedores se preocuparem com detalhes da arquitetura de tecnologia em que
o Blockchain vai operar. Existem muitos dapps (dia 5/8/2016 contei 271)
interessantes que podem servir de inspiração. Vale a pena visitar o site “State
of the Dapps
”.

Um segundo questionamento, e esse bastante preocupante, é
que temos escassez de desenvolvedores que conheçam Blockchain. Aliás, o círculo
de pessoas que estão atuando em Blockchain aqui no Brasil ainda é bem reduzido.
Um estudo feito nos EUA estimou que, em meados deste ano, haviam cerca de 5 mil
desenvolvedores dedicados a escrever software para Blockchain e criptomoedas,
como o Bitcoin. Estimava-se que uns 20 mil tinham conhecimentos básicos para
criar interfaces de outros sistemas para as aplicações Blockchain. Número
pequeno, quando comparamos, por exemplo, com a comunidade mundial de
desenvolvedores Java, estimada em 9 milhões. Aliás, olhando todas as
linguagens, um estudo de
2014
, do IDC, estimou em 18 milhões o número de desenvolvedores de software
no mundo inteiro. Aqui no Brasil, o número de desenvolvedores Blockchain é muito
reduzido e eu, pelo menos, não conheço nenhuma universidade preparando seus
alunos para este mundo.

Outro desafio é a falta de ferramentas e middleware maduras.
Todas estão em fase embrionária e, novamente, voltando o relógio do tempo, me lembra
o início do desenvolvimento para a web, quando quase tudo tinha que ser
desenvolvido a mão. Mas, evoluímos e chegamos hoje a um nível de abstração tal que
desenvolvemos aplicações simplesmente arrastando “objetos” de um lugar para
outro. Por que isso não acreditar que isso não acontecerá com Blockchain?

Outro questionamento: onde usar Blockchain? Estamos na fase
exploratória e já começamos a ver iniciativas pioneiras de incentivo a geração
de ideias para uso de Blockchain, como a do Bank of England, com competições para
startups de Blockchain
. O site que citei acima, State of the Dapps, é um exemplo de inspiração de novas ideias. No
ano 2000 alguém imaginava negócios como Netflix, Waze, Facebook, Spotify, Uber,
Airbnb e outros que já são corriqueiros hoje? Pois é. As “killer applications” vão
surgir.

Uma preocupação que tenho e que observei nas reuniões, é que
a imensa maioria dos executivos e CIOs ainda não se ligaram em Blockchain. Aqui
recomendo estudar o assunto e se preparar para implementar Blockchain no
momento certo. Com a provável evolução exponencial da tecnologia, o verdadeiro
risco será ignorar seu impacto e não se planejar. Sem conhecimento do que é Blockchain
dificilmente alguém terá ideia do seu potencial e, claro, do risco para o seu
negócio, caso outra empresa descubra isso mais rápido que a sua…

Por fim, há as questões regulatórias. Tudo que é novo gera
suspeição de início: Cloud Computing e segurança, Big Data e privacidade,
Social Media e receio de perda de tempo, e assim por diante. Com o Blockchain
um desafio é como os atores reguladores agirão. Podem simplesmente não fazer
nada e deixar que o mercado evolua por si, ou podem ser proativos e tentar
evoluir as regulações para incorporarem as inovações provocadas pelo Blockchain
e as ondas de transformação decorrentes da aplicação da tecnologia. Por
exemplo, como os tabeliões reagirão quando os cartórios se tornarem
desnecessários? Qual será seu nível de pressão sobre os atores reguladores? E
os bancos, como reagirão caso seu maior patrimônio, a confiança dos clientes,
se torne muito menos relevante?

Hoje, e isso no mundo todo, ainda temos muita incerteza, e
cada país age em ritmos diferentes. A Estônia está bem à frente com seu projeto
e-citizen. Vale a pena ler o artigo “E-Citizenship
Can Benefit From Blockchain Technology
”. Outros países estão bem atrás.
No Brasil, estamos atrasados. Aliás, em muitas outras evoluções que estão sendo
a base da Quarta Revolução Industrial, como Analítica Avançada, Machine Learning,
Robótica e outros, estamos uma década atrás. Claro, temos aqui e ali, pontos de
excelência, mas que não sustentam a evolução tecnológica do país. Precisamos
corrigir isso, e rápido!

De maneira geral, novas tecnologias e conceitos, como Blockchain,
causam mais rupturas no longo prazo do que parece à primeira vista. Isso torna
mais difícil a tarefa de descobrir se o que está acontecendo é hype, tendência ou um tsunami
que está chegando. Por outro lado, nada fazer é um risco imenso.
Minha sugestão: estude Blockchain e avalie seu impacto e risco para o seu
negócio atual. Não o subestime!

 

(*) Cezar Taurion é CEO da Litteris Consulting, CEO da ThinPost e autor
de seis livros sobre Open Source, Inovação, Cloud Computing e Big Data

Recent Posts

Novos executivos da semana: Dahua, Rimini Street, Arcserve e mais

O IT Forum traz, semanalmente, os novos executivos e os principais anúncios de contratações, promoções e…

1 dia ago

Sustentabilidade x IA: emissões da Microsoft sobem 30%

A Microsoft está enfrentando críticas após um relatório revelar um aumento alarmante em suas emissões…

1 dia ago

Centroflora integra e monitora ambientes industriais e automatiza manutenções

O Grupo Centroflora é um fabricante de extratos botânicos, óleos essenciais e ativos isolados para…

1 dia ago

8 oportunidades de vagas e cursos em TI

Toda semana, o IT Forum reúne as oportunidades mais promissoras para quem está buscando expandir…

1 dia ago

Fraudes: 58% das empresas dizem estar mais preocupadas no último ano

Um estudo divulgado na segunda-feira (13) pela Serasa Experian mostra que a preocupação com fraudes…

1 dia ago

82% dos ataques via USB podem interromper operações industriais

A Honeywell divulgou essa semana a sexta edição de seu Relatório de Ameaças USB de…

1 dia ago