Qual a melhor hora de pedir aumento de salário?

Conheça dicas que poderão deixá-lo mais confiante e minimizar riscos de desperdiçar oportunidades

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10:19 am - 20 de agosto de 2018
Aumento Salarial

Quem já se armou de coragem para pedir aumento de salário, certamente, sabe que não é uma tarefa fácil. Na maior parte dos casos, é tomado pelo medo de receber um “não” ou de ser mal interpretado, além de se sentir desconfortável ao encarar o chefe e disparar o pedido. Especialistas no assunto, da Korn Ferry e DNA Hunter, dão dicas para afastar alguns fantasmas que rondam esse momento e tornar a abordagem mais eficaz.

Para Claudio Ramos, consultor Technology & Financial Services da Korn Ferry, consultoria global de gestão e recrutamento e seleção de executivos, se a solicitação é pontual, não há pré-julgamento. Segundo ele, muitos temem perder o emprego e até de passar a ser visto de uma outra forma. “Mas pedir aumento não é uma atitude inadequada. Isso somente acontece quando se torna uma constante, degradando a imagem desse profissional”, avisa.

Na avaliação de Celso Malachias, CEO e fundador da DNA Hunter, companhia de recrutamento e seleção de executivos e profissionais especializados, o pedido de aumento de salário pode ser visto como algo positivo e também negativo. Depende da empresa e do funcionário.

“A cultura da empresa pode fazer com que o pedido de aumento seja visto como algo positivo, no caso de a ambição ser entendida como positiva em sua cultura organizacional. No outro extremo, existem as que têm regras bem claras para isso ocorrer, ou não querem esse tipo de abordagem, ou não sabem como lidar com isso – aí o pedido pode não ser bem visto”, explica Malachias.

Em qualquer caso, no entanto, vale estar alinhado com a política da empresa e mostrar capacidades extras, que justifiquem a solicitação. “É muito importante ter em mente que uma avaliação positiva permanece por um tempo e a negativa por muito tempo. O funcionário deve se certificar de que não houve recentemente nenhum incidente desfavorável no desempenho de suas funções, pois talvez não seja bem-sucedido no pedido”, destaca Ramos.

Existe um melhor momento?

Malachias considera ser difícil estipular o melhor momento para pedir aumento de salário por ser algo bem específico. “Isso porque potencialmente está relacionado ao tempo de admissão, ou data do último aumento, mas principalmente se relaciona às realizações do profissional. Realização aqui deve ser entendido como algo acima do normal, acima do esperado pela descrição de cargo e nível do profissional para aquela vaga.”

Depois da entrega de um projeto importante e que tenha recebido feedback positivo, com resultados oficializados, pode ser um bom momento, na avaliação de Ramos. “Muitas vezes, a empresa não pode atender ao pedido naquele momento, mas pode projetar, ao analisar o merecimento. É um procedimento que permite o planejamento da empresa e gera satisfação no colaborador”, diz.

Na verdade, ele acrescenta, essa é uma preocupação de mão dupla. “A organização precisa deixar claro seu posicionamento para o funcionário. Quando não é possível o aumento de salário, uma saída é oferecer mais benefícios ou expandi-los no período.”

Sinal amarelo

Na visão de Malachias, um momento inadequado é, por exemplo, quando o colaborador acaba de entrar na empresa ou de receber um aumento. E ainda se não houve uma realização que correspondesse ao pedido de aumento. “Um ponto importante aqui é não olhar apenas para os seus custos (do funcionário), por exemplo, com argumentações como: ‘acabei ser pai’, ‘acabei de ser mãe’ e ‘preciso de um aumento’. O aumento deve se dar pelo merecimento do colaborador e não porque suas despesas aumentaram.”

Outro momento que fica mais difícil de solicitar o aumento, segundo o consultor da DNA Hunter, é quando a empresa não está indo bem em seu mercado e enfrenta dificuldades. “Nesse caso, é uma conversa mais sensível e precisa avaliar se o momento é adequado, e, eventualmente, retomar em outro momento”, ensina.

Em cenários economicamente recessivos, Ramos indica que talvez não seja apropriado. “Mas ainda assim é possível ser favorável, dependendo da trajetória do profissional, por ter participado de um grande projeto ou estar apto a assumir novas funções e responsabilidades, por exemplo”, ele responde.

Mas antes da solicitação, alerta o executivo da Korn Ferry, o colaborador deve fazer uma análise não somente do seu desempenho, mas o compare com o dos seus pares. “Dessa forma, é possível saber se o aumento que deseja estará compatível com o que oferece em sua função.”

Como se preparar

A orientação principal, na percepção de Malachias, é coletar dados de realizações (versus metas), para mostrar que atingiu ou ultrapassou metas, ou o esperado para aquela função (e nível). “Tomemos como exemplo um analista pleno que realiza todas as funções esperadas para um nível sênior. Tem por escrito tanto os fatos comprovando as realizações, como as descrições de cargos por níveis. Pode, portanto, embasar seu pleito, evidenciando o ‘gap’ entre o esperado para aquele nível e cargo versus o que ele(a) realizou.”

Ele acrescenta que essas são informações sob a óptica interna da empresa. Dados comparativos da mesma função em outras organizações, devem ser observadas com cautela, pois são muitas as variáveis para realizar tal comparativo.

“Muitas companhias têm em suas áreas de Recursos Humanos (RH), um braço responsável por pesquisas de mercado com metodologia adequada, considerando segmentos de indústria, porte da empresa, entre outros.  Assim, nesse tópico, recomenda-se conversar com o RH”, orienta Malachias.

Para tornar abordagem mais assertiva, Ramos lista procedimentos que ajudarão a fortalecer a confiança:

  • Empatia: mostrar o quanto gosta da empresa, do clima de trabalho e da sua função
  • Timing: verificar o tempo mínimo de permanência na função de acordo com a estratégia da empresa. Uma mudança de função pode vir seguida de aumento de salário
  • Último aumento: verificar quando recebeu o último aumento e alinhar com a política da empresa.
  • Capacitação: apresentar cursos em que investiu para apresentar evolução da qualificação
  • Grandes entregas: relembrar projetos bem-sucedidos que realizou, o que fez de diferente que justifique o aumento

Aumento espontâneo

É comum o funcionário esperar reconhecimento de suas realizações e mesmo um aumento após um dado período de tempo, de cumprimento de agendas, de realizações. Sendo assim, o colaborador pode esperar um aumento. “Se não houve esse aumento, ele pode solicitar uma conversa com o superior imediato para entender. Nesse caso, ele deve apresentar seus argumentos e fatos que embasem seu pleito”, diz Malachias.

“Recordo-me de ao menos de dois casos de aumento espontâneo, muito relacionados à cultura da organização. Em uma grande empresa brasileira, na qual o dono, ao caminhar pelo chão de fábrica e conversar com o funcionário na linha de produção, gostou muito do trabalho dele e pediu para o seu gestor imediato avaliar um aumento para o colaborador. E assim ocorreu.”

Outro caso, ele conta, foi o de uma startup em que o funcionário (engenheiro de software), atuou muito bem, com produtividade e entrega acima da média dos seus colegas. O diretor da área (CTO) o chamou e disse: “O que eu faço para que todos trabalharem como você na equipe?”.

Após algumas interações, o engenheiro mudou de área para uma função de Data Science Engineering (o primeiro da empresa, o cargo foi criado para ele), e então recebeu aumento da remuneração do salário fixo e ainda obteve um plano de salário variável.

Outra variável importante é a política da empresa, ele aponta, que muitas vezes prevê políticas de revisão de performance e compensações. Por exemplo, classificando os colaboradores por meio de índices de performance e aumentos em sua remuneração, na média, abaixo e acima.

Tema delicado e pertinente

Aumento de salário é um assunto não muito discutido abertamente, mas muito relevante na opinião de Malachias, pois, segundo ele, todo funcionário que atua com determinação e atinge ou ultrapassa suas metas, de forma consistente, espera algum tipo de compensação, que pode ser um aumento de remuneração.

Assim, esse tema pode e deve ser discutido com o gestor imediato e/ou RH. “É preciso ter clareza sobre essas regras, que envolvem fatores implícitos, como a cultura organizacional, e fatores explícitos, como a Política de Remuneração da empresa a respeito. Dessa forma, é possível ajustar a expectativa de esperar um aumento.”

Malachias destaca um ponto de atenção ao colaborador. Segundo ele, ter uma proposta de aumento de remuneração apenas quando ele comunica à empresa que ele recebeu uma oferta de trabalho (offer letter) e está saindo da empresa, pode ser um tiro no pé. E há outro não menos importante ressaltado por Ramos: “A pior atitude é a insistência do funcionário depois da negativa do aumento. Certamente, ele terá sua imagem desgastada”.

O melhor momento, portanto, para pedir aquele almejado aumento de salário, reiteram Malachias e Ramos, é o funcionário quem irá determinar, mediante avaliações do próprio desempenho, alinhamento com as políticas da empresa e atual cenário, que darão a confiança necessária para fazê-lo. “Boa sorte!”.

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