PwC: Pauta dos CEOs do Brasil considera economia, mas deixa ESG em segundo plano

Cenário político de alta instabilidade e polarização no Brasil é uma das preocupações de líderes do Brasil, aponta levantamento da PwC

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10:00 am - 02 de fevereiro de 2022
Ricardo Queiroz Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil (Imagem: Divulgação/PwC)

Divulgada em janeiro, a 25ª edição da Pesquisa Anual Global com CEOs da PwC trouxe uma perspectiva econômica positiva para 2022. Na visão de líderes brasileiros e globais de diversos setores da economia, o ano será de aceleração econômica ao redor do mundo – e também no Brasil.

O setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT) figura entre os mais otimistas. Dos líderes nacionais, 67% daqueles dentro da indústria TMT dizem estar confiantes em relação ao aumento de receita ao longo do ano. No mundo, 64% dos representantes TMT disseram o mesmo.

Mas, apesar do tom otimista, o estudo também trouxe perspectivas negativas para o ano – incluindo quais são os principais desafios previstos por lideranças globais para 2022. Nesse contexto, um problema é destaque no Brasil: a instabilidade macroeconômica.

“A gente está entrando em um ano de eleição. A pandemia ainda afeta fortemente o Brasil e a gente tem um cenário político de alta instabilidade e polarização”, disse Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil, em uma apresentação à imprensa nesta semana. “As incertezas em relação ao desfecho político desse momento acabam trazendo uma percepção de instabilidade macroeconômica maior aqui no Brasil quando comparado com o mundo”,

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Para 69% dos CEOs brasileiros, a instabilidade macroeconômica é vista como “muito” ou “extremamente” preocupante neste ano. O valor é o mais alto entre os riscos analisados pelo estudo. A lista de desafios apontados também inclui riscos cibernéticos (50% dos respondentes), desigualdade social (38%), riscos à saúde (32%), mudanças climáticas (36%) e conflitos geopolíticos (21%).

Segundo Queiroz, a preocupação de apenas 38% dos líderes com a desigualdade social também chama atenção. “Infelizmente esse é um tema que o mercado brasileiro tem que trabalhar”, defendeu. “Empresas brasileiras têm que ter um processo de ação muito maior, mas forte e detalhado para reduzir a desigualdade social. O tempo tem passado e as coisas não têm melhorado. Isso é uma ameaça, porque reduz a capacidade de consumo de boa parte da população”.

Quando analisados os dados apenas o setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações, as tendências são similares, mas apresentam variações. A instabilidade macroeconômica, por exemplo, é “muito” ou “extremamente” preocupante para 60% dos CEOs do setor TMT brasileiro. O índice menor quando comparado ao total de CEO, diz Queiroz, pode ter relação com a rápida capacidade de adaptação destas indústrias.

“Mesmo com a instabilidade macroeconômica, o setor [TMT] é um setor capaz de se reinventar”, explicou o sócio da PwC. “Ainda assim, a gente não pode dizer que não há uma preocupação com a instabilidade macroeconômica. É uma preocupação enorme, seis a cada dez CEOs olharem isso com o carimbo de ‘muito’ ou ‘extremamente’ preocupante”, completou.

ESG precisa de impacto real

Também chamou a atenção no estudo o fato da responsabilidade com compromissos relacionados a Net Zero e carbono neutro no setor de TMT ter sido menor que a média brasileira. Apenas 20% dos executivos brasileiros disseram que possuem compromissos Net Zero, enquanto a média no Brasil foi de 27%.

A diferença é ainda maior quando os executivos são questionados sobre os compromissos de carbono neutro, no setor de TMT 20% dos entrevistados dizem ter compromissos assumidos, enquanto a média no Brasil é de 31%.

Para Ricardo Queiroz, da PwC Brasil, o resultado é um “bom começo”, mas ainda precisa trilhar um longo caminho pela frente. “A preocupação com ESG é um tema muito relevante, que afeta não somente negócios, mas investidores e stakeholders de forma geral. Acho que deixou de ser um tema pro forma e passou a ser um tema que empresas têm que agir”, pontuou.

Chama a atenção, no entanto, como os resultados ESG não costumam ser atrelados às remunerações de lideranças no país – uma estratégia que costuma ser utilizada por empresas que buscam ações efetivas. “A leitura aqui é que existe uma preocupação com o compromisso do net zero, por outro lado, o impacto do eventual não comprimento dessa meta de longo prazo ainda, na perspectiva atual, é muito pequeno”, explicou Queiroz.

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Apesar disso, 12% dos CEOs brasileiros e 7% dos CEOs do setor TMT do Brasil disseram ter “bônus pessoal anual” ou “plano de incentivo de longo prazo” ligados às metas de emissão de gases do efeito estufa, por exemplo. Em resultados sociais, o cenário se repete. Apenas 11% dos CEOs TMT do Brasil têm bônus atrelados a metas de índices de representação de gênero; e 7% têm bônus atrelados a índices de representação de raça e etnia.

“É como se a gente tivesse uma estratégia, mas ela gera pouco impacto naqueles que executam a estratégia. A gente tem um caminho enorme para construir, em especial quando a gente fala desses temas sociais e ambientais”, afirmou o sócio da PwC.

“Eu esperaria ver o [resultado] global guardando uma conexão mais forte entre remuneração de executivos e a questão da estratégia voltada ao ESG”, disse. “Naturalmente, você tem continentes como o Europeu com um retorno ESG muito mais forte. Muito mais incorporado, culturalmente mais definido e levado à sério. Esse dado demográfico chama bastante a atenção para isso”.

A 25ª edição da Pesquisa Anual Global com CEOs da PwC ouviu mais de 4.400 executivos, em 89 países, com uma participação expressiva de líderes do Brasil.

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