O futuro singular pode ser bom. Depende de nós
Basta que tenhamos consciência dos 10 princípios que devem reger as próxima décadas, alerta o futurólogo Gerd Leonhard no CIAB 2018
Máquinas dominando o homem, carros autônomos e até voadores, vida eterna. Seria o fim dos tempos? Muitas pessoas acreditam em um futuro caótico, mas na visão do futurista e CEO da Agência do Futuro, Gerd Leonhard, o dia de amanhã é melhor do que pensamos. “Há problemas que tecnologias não resolvem como os sociais e os políticos, mas o futuro não é ruim”, sentenciou ele em apresentação no CIAB 2018, evento sobre tecnologia bancária realizado em São Paulo, de 12 a 14 de junho.
Falando sobre tecnologia, humanidades e mudanças exponenciais, Leonhard listou dez princípios para o futuro que você precisa conhecer hoje.
- Exponencial é o novo normal. O pensamento linear será prejudicial
Em 2015, o mundo gerou 12 Zetabytes de informações. Em 2020, serão 47 Zetabytes e em 2025, 163 Zetabytes. O volume de informações cresce exponencialmente, revelou o especialista. Assim, com o passar dos anos, as tecnologias evoluem rapidamente e o valor delas também.
Mas, apesar de as tecnologias serem exponencias, os humanos não são. “Não somos máquinas. Somos o oposto de máquinas e isso é bom. Em cinco anos, o computador terá a capacidade do cérebro humano em 15 anos terá a capacidade de todos os cérebros humanos. Imagine um futuro em que a tecnologia é infinitamente poderosa, tanto que poderá resolver problemas”, refletiu ele.
Leonhard usou uma conhecida frase para provocar sobre o tema. “O que é muito simples para o humano é muito complicado para o computador e o que é complicado para humanos é fácil para PCs. Um exemplo são os sentimentos. Sem dizer uma palavra, pessoas podem estabelecer uma conexão. Máquinas, não”, comentou ele.
- Futuro não será totalmente artificial
Você pode pensar que em alguns anos, os humanos terão pouco ou nenhum papel na sociedade. Mas a realidade está longe disso, segundo o especialista. De acordo com ele, a inteligência exponencial será relevante apenas se combinada com a humanidade exponencial. A automação, disse, promoverá, por exemplo, a desintermediação. Assim, os maiores bancos em 2025 serão empresas de tecnologia e plataformas.
- A humanidade mudará mais nos próximos 20 anos do que nos últimos 300 anos
“A tecnologia está nos mudando não por fora, mas por dentro. Ela pode alterar a forma como pensamos e somos. Quão longe você iria? Você implantaria uma tecnologia no seu corpo e seria um cyborg”, questionou ele.
Hoje, disse, a tecnologia pode até “tomar decisões” por pessoas, indicando o que as elas devem comprar, com quem namorar e para qual destino ir nas férias. “O mundo pode ser maravilhoso ou pode ser estranho caso nossos colegas de trabalho sejam robôs.”
- A tecnologia não é o que procuramos, mas como procuramos
A tecnologia pode promover felicidade? “Depende. Se eu falar com minha mãe do outro lado do mundo, sim, mas o que acontece ao tirar o fator humano?”, questionou ele, defendendo a relevância da humanidade nas relações tecnológicas.
- Dados são o novo combustível
“Os dados são os elementos mais poderosos do mundo. Precisamos saber como trabalhar com eles. Mas em um mundo no qual dados são o novo combustível, inteligência artificial é a nova eletricidade. Viveremos em um mundo baseado em dados e AI.”
- Quanto mais nos conectamos, mais precisamos fortalecer contratos sociais
Leonhard citou por diversas vezes o fator humano em meio à avalanche tecnológicac. Assim, para ele, à medida que mais pessoas se conectam à web e estabelecem raízes no mundo digital, é preciso fortalecer contratos sociais, responsabilidade, ética, regras e se certificar de que sempre os humanos estarão em primeiro lugar.
- Dados são ótimos, mas o “dataismo” não é
Datiasmo está se tornando importante, sentenciou o especialista. “Mas não esperem que algoritmos respondam tudo”, alfinetou. Leonhard referenciou frase de Ginni Rometty, CEO global da IBM, para explicar o tema. Certa vez, a executiva disse que as decisões em grandes empresas serão tomadas não por especialistas ou intuição, mas por big data e análises preditivas.
“Mas você acha que o software sabe tudo? Você confia em uma ‘caixa’? Há muitas outras coisas que nós humanos precisamos e temos de ter cuidado para não cair no machine-thinking, ou seja, no pensamento de que máquinas sabem mais e fazem melhor do que nós”, reforçou. “O mais importante de nós, humanos, é que não somos algoritmos, mas usamos algoritmos nos negócios.”
- A tecnologia não veio para salvar ou nos destruir. Devemos governá-la para alcançar o que queremos
A mensagem do especialista é clara: homens e máquinas trabalharão juntos e não uns contra os outros. Postos de trabalho vão desaparecer, sim, mas outros surgirão e é preciso preparar o mercado e os talentos para essa nova realidade.
- Fim da rotina
Essa parte é assustadora, revelou Leonhard. A evolução das máquinas terá impacto significativo nas rotinas. Mas isso não significa que será o fim do trabalho humano. “Tudo o que não puder ser digitalizado terá muito mais valor, como criatividade, emoções, imaginação, ética, empatia, consciência, valores, compaixão e intuição. Queremos pessoas criativas que fazem perguntas. Esse é o futuro.”
- Devemos investir tanto em humanidade tanto quanto em tecnologia
Para o especialista, a sociedade deve investir em um mix de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês) e humanidade, ética, criatividade e imaginação (HECI, na sigla em inglês). Uma não elimina e necessidade da outra.