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Novos óculos do Snapchat deixam clara a falta que a Apple faz no segmento

Quando o Snapchat lançou o seu primeiro par de óculos com câmeras em 2016, o hype foi enorme. Com uma campanha estratégica de marketing e de lançamento, o primeiro Spectacles eram um gadget obrigatório para a geração selfie, oferecendo uma maneira prática (sem as mãos) de manter suas Stories e Snaps a todo vapor. 

Mas não demorou muito para que isso tudo mudasse. Quando o Spectacles começou a ser vendido on-line, cerca de seis meses depois do anúncio e das vendas limitadas em cidades dos EUA, a animação tinha acabado, e as pessoas usando o wearable eram vistas com mais incredulidade do que curiosidade. 

Apesar disso tudo, a Snap (empresa responsável pelo Snapchat e pelo Spectacles) não irá desistir. A companhia abriu nesta quinta-feira, 26/4, a pré-venda da segunda geração do Spectacles, que custa 150 dólares – 20 dólares a mais do que a primeira geração, que custava 130 dólares. 

O novo modelo também corrige muitas das reclamações feitas pelos usuários sobre a primeira versão dos óculos, em especial a falta de resistência à água e as baixas velocidades de upload de conteúdo. Mas ele não soluciona o principal problema do Spectacles, que é o fato de ele ser ridículo. E, assim como aconteceu com os smartwatches, precisamos que a Apple venha salvar o dia.

Tecnologia feia

Dê uma olhada no novo Spectacles 2 e não verá muita diferença para a primeira geração. Eles são tão grandes quanto a versão anterior (apesar de levemente mais finos), com câmeras destacadas em forma de bulbo no canto superior de cada lente. As opções de cores Onyx, Ruby e Sapphire são um pouco mais maduras, mas ainda estão bem longe de um par de óculos moderno e elegante. A Snap também fez uma parceria com a Lensabl para oferecer lentes de prescrição no Spectacles 2, mas espero que ninguém com juízo vá atrás disso. 

Esse é o maior problema que as empresas enfrentam quando desenvolvem um dispositivo wearable inteligente – normalmente parece que você está usando um pedaço de tecnologia. Para que óculos e relógios inteligentes sejam bem-sucedidos, eles precisam ser produtos elegantes e de bom gosto em primeiro lugar, algo que a Apple conseguiu fazer muito bem com o Apple Watch. 

Há uma razão pela qual a Apple vendeu mais relógios do que a Rolex no ano passado: as pessoas querem um Apple Watch.

Esse não é o caso com o Spectacles. Claro, Snapchatters habituais vão usá-lo, assim como influencers e jovens celebridades serão vistos com o wearable em festas na piscina. Mas além desse público muito específico, o apelo dos Spectacles é virtualmente nulo. Eles não se parecem com óculos comuns. Eles possuem um formato estranho e são grandes demais para o público pré-adolescente do Snapchat. 

Basicamente, eles parecem um pedaço de tecnologia no seu rosto. A edição de ouro do Apple Watch pode ter sido um testamento esbanjador e de ostentação ao luxo, mas mostrou o quanto a Apple estava falando sério sobre produzir uma joia de altíssima qualidade, não um smartphone para usar no pulso. 

História real: costumo usar o meu Apple Watch mesmo quando estou com um smartphone Android – porque ele é bonito. A Business Insider relatou no ano passado que menos da metade dos donos do Spectacles continuaram usando o óculos do Snapchat após o primeiro mês – e suspeito que esse número seja muito menor do que 49%.

Tecnologia e artes liberais

Já faz três anos desde que o Google acabou com o seu ambicioso projeto Glass, e o mercado de óculos inteligentes não progrediu muito desde então. O mais próximo de um produto viável que tivemos foi o protótipo do Intel Vaunt, que projetava uma tela na lente e tinha um visual que lembrava um óculos de verdade – mas a Intel encerrou o projeto há algumas semanas citando uma “abordagem disciplinada” para trazer novos produtos ao mercado. Traduzindo: o design está aqui, mas a tecnologia não. 

E aí está o problema. Para desenvolver um wearable de sucesso, uma empresa precisa alcançar o equilíbrio perfeito entre uma aparência tradicional e uma utilidade de próxima geração. Os óculos inteligentes não deveriam fazer parecer que você está usando uma câmera no seu rosto, assim como um smartwatch não deveria fazer parecer que você está usando uma tela no seu pulso. Steve Jobs gostava de dizer que é o casamento entre tecnologia e artes liberais que torna os produtos da Apple tão bem-sucedidos. Ele estava falando sobre iPhones e iPads quando disse isso, mas é algo ainda mais verdadeiro para os wearables.

Já circularam muitos rumores nos últimos anos de que a Apple estaria trabalhando em um par de óculos inteligentes. E os comentários repetidos de Tim Cook mostram o quanto a empresa leva a Realidade Aumentada (AR) a sério. Mas para fazer a coisa certa, a Apple entende que precisa trabalhar ao contrário. Começar com os óculos e então trabalhar na tecnologia. A Apple mudou significativamente as funcionalidades e a interface do Apple Watch ao longo de diversas atualizações de software, mas o design do relógio não mudou. A tecnologia pode evoluir, mas o alumínio (ou plástico, no caso do Spectacles) não. 

Se os óculos de Realidade Aumentada da Apple chegarem ao mercado algum dia, posso garantir que eles irão custar mais do que 150 dólares. Mas eles também serão algo em que você vai querer colocar as suas lentes de prescrição – caso as use, é claro. Eles serão elegantes, leves e terão diversos tipos de atrativos. Eles provavelmente serão limitados em termos do que podem fazer, assim como o Apple Watch original, mas o mais importante é que as coisas vão querer usá-los. Talvez eles não causem muito barulho quando uma pessoa estiver usando, como acontece com os Spectacles, mas isso será apenas porque ninguém mais irá notá-los.

E, assim como aconteceu com o Apple Watch, será neste momento que a revolução dos óculos inteligentes irá começar de verdade.

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