Não faltam profissionais de TI na Saúde Digital
O que faltam são organizações capazes de formá-los em um cenário de transformações no qual tomar para si o papel de desenvolver talentos é o caminho
Com a missão de escrever este artigo, fiz uma rápida busca na internet com as palavras “faltam profissionais de TI”. O número de links sugeridos ultrapassou surpreendentes 2,7 milhões. Não é de hoje que os gestores do mercado brasileiro enfrentam dificuldades para encontrar pessoas qualificadas em tecnologia – e a quantidade de conteúdos disponíveis sobre o tema não me deixa mentir. No contexto da Saúde Digital, então, esse desafio se torna ainda mais latente.
Trago um dado que encontrei na minha rápida busca on-line: segundo estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), o mercado de TI pode alcançar um déficit de 290 mil profissionais em 2024. O avanço de tecnologias como inteligência artificial, big data, blockchain e robótica impõem ainda mais pressão a esses especialistas, que lidam com mudanças profundas, aceleradas e exponenciais. Estamos falando de um mercado que demanda formação multidisciplinar, com o surgimento de postos como auditores de segurança, especialistas em legislações de privacidade de dados, desenvolvedores ágeis, cientistas de dados. Apenas para citar profissões que já conhecemos.
A formação tradicional, aquela adquirida nos bancos universitários, não corresponde mais às habilidades que o mercado exige dos profissionais de TI. Falo aqui de aspectos como resiliência para lidar com tecnologias que ficam obsoletas da noite para o dia, criatividade para propor soluções complexas que resolvam as dores das organizações e uma inconformidade com o que é pré-estabelecido. Raciocínio lógico, conhecimentos de matemática e de programação não são mais diferenciais – são commodities obrigatórias que devem ser desenvolvidas ao longo de toda a carreira, mas que ficam em segundo plano diante das demais exigências.
E eu nem comecei a falar ainda do mercado de TI setorizada, como é o caso da Saúde. Aqui não basta ser técnico. É crucial desenvolver uma visão profunda de um negócio muito específico, de alta complexidade e que, além de tudo, lida com o bem mais precioso para qualquer ser humano: a vida. Ter como meta a construção de um ecossistema que, de fato, entregue saúde e bem-estar aos indivíduos é fundamental para esse profissional – e, por isso mesmo, é difícil encontrá-lo à disposição no mercado.
O que fazer, então, se a Saúde Digital demanda cada vez mais especialistas desse tipo?
Chegamos a um caminho inevitável: não basta apenas buscar esses profissionais da porta para fora das organizações. Precisamos formá-los. Fazer a transformação digital na Saúde depende, essencialmente, de pessoas. E prepará-las é papel de organizações que estão comprometidas em promover mudanças que vão além da implementação de sistemas. Elas querem, juntas, mudar toda a forma de atuação de um setor que está à beira do colapso, vivenciando crises como a alta do custo assistencial, a desconfiança no relacionamento entre operadoras de Saúde e prestadores de serviço e, mais que isso, que tem como foco tratar pessoas doentes.
Não basta treinar e capacitar – até porque esses são aspectos básicos. O conhecimento não deve ser adquirido somente dentro da empresa, mas ela é a grande incentivadora desse processo de evolução de seus colaboradores. As lideranças se tornam, então, fundamentais. São elas que, pelo estímulo e pelo exemplo, engajam os profissionais de TI a evoluir na carreira, compartilhando estratégia e metas e comemorando vitórias.
Uma liderança comprometida com a formação de times sabe que esse processo não acontece da noite para o dia. Ela usa metodologias para estimular a cultura de inovação na Saúde, como a ágil e o design thinking – mas não para por aí. Os gestores devem trazer algo mais empírico de compreensão humana que inclua o compartilhamento de um propósito. Quando o profissional de TI identifica em sua rotina de trabalho que compartilha do mesmo propósito que a organização, é muito mais fácil transformá-lo no perfil que a empresa e o setor querem e precisam para se transformar.
A Saúde Digital não vai parar. Os avanços que vemos hoje serão diferentes dos que veremos amanhã. Preparar um profissional de TI capaz de lidar com esse contexto é papel de todos – do próprio indivíduo, das organizações, do setor. A construção conjunta desse perfil não deixará espaço para o medo de ser substituído, mas sim para a vontade de utilizar a tecnologia como um apoio para tomada de decisão.
Não está distante o dia em que os 2,7 milhões de resultados sobre falta de profissionais de TI serão notícia velha. Nós, da MV, estamos fazendo nossa parte. São várias as iniciativas que já temos na empresa e vamos continuar.
*Ubirajara Maia é diretor corporativo de sistemas da MV