Micro e pequenos empreendedores podem gerar valor usando dados

Mas não é preciso mergulhar tão profundamente em ferramentas para começar a extrair valor das informações

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8:50 am - 25 de maio de 2022

Clive Humby, matemático e empresário britânico no campo da ciência de dados, disse em 2006 que “dados são o novo petróleo”. A fala pode parecer um pouco exagerada, mas ilustra muito bem o quão importante são os dados que as empresas geram ou capturam. Atualmente, produzimos globalmente 2,5 quintilhões de bytes de informação (um quintilhão corresponde ao número um seguido de 18 zeros)  e, até 2025, estima-se que a humanidade terá gerado cerca de 180 zettabytes (aproximadamente um sextilhão de bytes) de dados, segundo a plataforma de BI Domo.

Infelizmente gerar uma quantidade colossal de dados não garante nada além de bancos de dados lentos e muito dinheiro investido em processamento. Para que agreguem valor à empresa e ajudem a gerar insights que levarão à tomadas inteligentes de decisões, os dados precisam primeiro estar estruturados e virar informações. A mágica só acontece quando as informações são organizadas e viram aprendizado.

Uma etapa possibilita a outra e quando novas hipóteses podem ser levantadas e novas metodologias aplicadas, como análise exploratória dos dados, regressões e aprendizado de máquina (Machine Learning), por exemplo, as empresas descobrem que a frase lá no início pode não ser tão exagerada assim. Muitas empresas possuem equipes enormes de profissionais que lidam com essas informações, como analistas, cientistas e engenheiros de dados, mas para quem está começando um novo negócio, fazer o básico já pode trazer uma grande diferença.

Quando procuramos na internet formas de explorar e analisar dados, nos deparamos com nomes complexos e, francamente, um pouco assustadores. Inteligência Artificial, neural networks, random forests, data lakes e análise de séries temporais são apenas alguns exemplos que podem fazer com que qualquer novo empreendedor corra para o lado oposto o mais rápido possível. Mas não é preciso mergulhar tão profundamente nestes campos para começar a extrair valor das informações.

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Pense em um microempreendedor que, durante a pandemia, criou seu próprio negócio de venda de bolos e doces como forma de complementar renda. Onde ele encontra seus próprios dados e como ele pode gerar valor a partir deles? Ele pode começar de forma simples, registrando a quantidade de ingredientes que usa para cada fornada e ajustando a quantidade necessária em períodos de maior ou menor demanda. O empreendedor também pode ir além, registrando a data de cada venda, tipo de produto e sabor, o que possibilita analisar quais itens são mais ou menos vendidos em determinadas épocas do ano, quais bolos fazem mais sucesso no verão ou no inverno, e assim por diante. Com isso, ele pode otimizar seus processos e lucrar mais, apoiando seu processo de fabricação de bolos e doces nos dados gerados internamente.

Mas nem todo o valor vem dos dados internos de um negócio. Muitos fatores externos podem impactar no desempenho de um negócio e é importante entender o cenário socioeconômico em que sua empresa está inserida para tomar as melhores decisões. Diversos órgãos públicos e instituições privadas publicam, com frequência, relatórios e estudos com os mais diversos tipos de dados: hábitos de consumo, indicadores econômicos de diversos setores, impactos de determinadas decisões do governo na sociedade e assim vai. Em meio a esta infinidade de informações, o empreendedor consegue extrair insights valiosos para seu próprio negócio, mesmo que ele mesmo não gere dados internamente.

Um último conceito que gostaria de explorar por aqui é o de Data Viz – versão abreviada de Data Visualization, ou visualização de dados, em inglês. Data Viz é a habilidade de utilizar gráficos, painéis e mapas para apresentar de forma mais ágil e assertiva os dados necessários para uma tomada de decisão. O ser humano é uma criatura visual. Conseguimos identificar rapidamente diferentes formas geométricas e cores e consumimos entretenimento em formato visual de forma massiva. Se nos dão um gráfico, podemos notar sem muitas dificuldades as tendências e os pontos fora da curva (também conhecidos como outliers).

Por isso, aprender como utilizar ferramentas de visualização de dados, sejam mais avançadas como Tableau e Power BI, ou mais intuitivas e gratuitas, como o próprio Google Analytics, traz benefícios imensos para o negócio. Uma pesquisa acadêmica recente, publicada na Harvard Business School, com o título “O Valor da Análise Descritiva: Evidência de Varejistas Online”, aponta que a simples adoção e uso de técnicas de análise descritiva, ou seja, técnicas para resumir, sumarizar e explorar o comportamento dos dados, levou estes varejistas online a registrarem maior diversidade nos produtos vendidos, bem como aumento no número de transações e na receita proveniente de consumidores que já haviam realizado outras compras antes.

Por mais tentador que seja mergulhar de cabeça neste mundo dos dados, é preciso tomar cuidado. Caso seu negócio seja pequeno ou ainda esteja em estágio inicial, é muito mais importante desenvolver a empresa primeiro ao invés de gastar horas de esforço registrando e organizando seus dados internos. Ser uma empresa data-driven está na moda, mas o simples fato de criar um negócio já ciente de como os dados podem impactá-lo no futuro já te coloca à frente dos competidores que ainda estão tateando no escuro.

* Erik Adami é head comercial da Printi

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